Capítulo 13 - Vinhedo e Spa Lírio Azul I

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– DESCULPA, COMO É QUE É?

Ao final da manhã de terça, Lauren viu os olhos de Astrid se arregalarem até ela ficar parecendo um inseto, os dedos finos agarrados às laterais do balcão na recepção do Vinhedo e Spa Lírio Azul.

O lugar parecia um oásis, todo de madeira por dentro, com estofados e tapeçarias brancas e muito vidro do mar – detalhes azuis, do porta-canetas na recepção aos quadros nas paredes, imagens de rios límpidos e lírios balançando ao sol.

O térreo era todo de vidro e, atrás de uma recepcionista apavorada chamada Hadley, Lauren via o Vale Willamette se estender em uma faixa verde ao longe, com fileiras organizadas de videiras rechonchudas logo abaixo.

– Três quartos? – indagou Astrid. – Não, eu me lembro muito bem de ter reservado quatro.

– Ah, merda – resmungou Dinah baixinho.

Lauren, por sua vez, se escorou no balcão e manteve o rosto inexpressivo. Estava exausta. Para falar a verdade, uma massagem seria muito útil. Durante toda a viagem até lá, era nisso que tinha pensado – massagens, um Pinot Noir excelente, um quarto sem chita só para ela, com vista para o vinhedo onde poderia apenas ser, livre de Astrid e de Bright Falls e de toda a lama emocional que a visita à Casa das Glicínias na noite anterior tinha despejado em suas veias.

Claro, ela estava lá para tirar umas fotos das três melhores amigas, provavelmente para que pendurassem em suas cavernas ao lançarem seus feitiços de beleza e poder eternos, mas aceitava as massagens grátis de bom grado.

Nunca tinha se sentido tão cansada quanto nos dois últimos dias e isso incluía os primeiros meses em Nova York aos 18 anos, quando descobrira outras pessoas lgbtqia+ e os bares e ficara uma semana sem dormir.

Mas, até ali, a viagem a Bright Falls estava dando a Lauren a sensação de flutuar, mas não daquele jeito gostoso pós-orgásmico. Era como se ela não conseguisse firmar os pés no chão e andasse por aí cambaleando.

Seu único alívio fora empurrar aquele babaca no rio na noite anterior. Meu Deus, como aquilo tinha sido divertido.
Astrid não concordava, claro, o que era até um bônus.

Ao enfiar um moletom em suas mãos na noite anterior, a expressão de Astrid não revelava aquela mágoa prostrada que Lauren percebera na entrada da Casa das Glicínias. Não, era só irritação, familiar e estimulante. Os deuses tinham presenteado Lauren com um jeito novo de irritar a irmã postiça e ela planejava explorá-lo de todas as maneiras possíveis, o que precisava ser feito com cuidado e destreza, para que conseguisse manter o trabalho de fotógrafa.

Mas pensar em modos criativos de irritar o amado de Astrid só deixava tudo ainda mais divertido. Além do mais, Spencer era um anúncio louro e ambulante do patriarcado, então qualquer insulto habilmente disfarçado que ela pudesse proferir seria justicável.

Sua determinação cresceu ainda mais ali no saguão do resort e ela se esforçou para manter a expressão neutra conforme ficava cada vez mais claro que Astrid não tinha reservado quatro quartos. Ela reservara três, para ela, Dinah e Camila e nem tinha pensado em Lauren, que tentou não perceber que seu coração acelerou enquanto a garganta se fechava em um coquetel terrível de raiva, irritação e mágoa.

Camila se aproximou e Lauren tentou não perceber isso também. Seu corpo, no entanto, tinha outros planos e ela sentiu que também se inclinava em direção a Camila, o suficiente para seu ombro tocar o dela de leve.

– Lauren Jauregui – disse Astrid para a coitada da recepcionista, pronunciando cada sílaba com exagero. – Confira de novo. Eu sei que está aí.

– Sinto muito, Srta. Parker – respondeu Hadley –, mas a reserva diz claramente que a senhorita ligou no dia 14 de abril e reservou três quartos por uma noite, um para a senhora, outro para a Srta. Dinah Jane e um terceiro para a Srta. Camila Cabello. Não tem nada para a Srta. Lau...

– Tudo bem, já entendi – disse Astrid, soltando um suspiro profundo. – Mas vocês devem ter algum quarto disponível.

Hadley estremeceu. Lauren quase se sentiu mal por ela.

– Sinto muito, Srta. Parker. O verão é nossa época de maior movimento e estamos lotados hoje. Mas, se vagar algum quarto, a senhorita será a primeira a saber.

Astrid ficou alguns segundos encarando a coitada, como se a força de seu olhar pudesse fazer com que aparecesse um quarto do nada.

Hadley, por sua vez, manteve o sorriso, mas, quando os ombros de Astrid desabaram, derrotados, a recepcionista soltou um suspiro audível.

– Tudo bem. Eu durmo nas parreiras – disse Lauren.

Astrid se virou devagar, mas sem cruzar com o olhar frio da irmã postiça. Em vez disso, olhou para o chão e respirou fundo várias vezes seguidas, tentando não perder completamente a cabeça.

Lauren cruzou os braços. Ela adoraria ver Astrid perder a cabeça, bem ali diante de Hadley e da paleta de cores azul-spa.

– Está tudo bem – falou Camila, colocando a mão no braço de Astrid. – Vai ficar tudo bem. As camas são todas king size, não são? Lauren pode ficar comigo.

Ah, meu Deus. Era perfeito demais.

Astrid levantou a cabeça depressa, os olhos arregalados.

– Não, não, a culpa é minha – argumentou. – Ela pode ficar comigo.

– Astrid – disse Camila –, você merece um quarto só pra você.

– Você também – respondeu Astrid.

– Bom, eu com certeza mereço um quarto só pra mim – disse Dinah e Lauren quase riu.

Para falar a verdade, em outra vida, ela provavelmente teria gostado muito de Dinah.

– Astrid – disse Camila, segurando os braços da amiga. – Eu não ligo. E insisto. Vai ser ótimo.

– É, Desastrinho, vai ser ótimo – concordou Lauren.

Ela olhou nos olhos da irmã e levantou uma sobrancelha, algo que sabia que Astrid não conseguia fazer e gostaria de conseguir.

As duas ficaram se encarando, a aposta de Lauren de levar Camila para a cama pairando no ar.

Claro, não foi exatamente isso que Lauren quis dizer, mas era um ótimo começo.

Astrid fechou os olhos e naquele breve instante Lauren soube que tinha vencido.

Mas havia algo a mais ali. Algo além da satisfação que Lauren sentia por saber que Astrid estava fervendo por dentro e tinha quase certeza de que era entusiasmo.

Camila era divertida, doce e muito sexy. Ela era interessante. E Lauren não conseguia parar de pensar na noite anterior, na entrada da Casa das Glicínias, naquela fração de segundo em que Camila podia ter ido com Astrid, deixando que Lauren lidasse com seus demônios sozinha, como estava acostumada a fazer.

Mas ela não fizera isso.

Camila tinha se virado, os olhos castanhos bem abertos e sinceros, e esperado por ela.

Acompanhara Lauren durante aquele que poderia ter sido o pior momento da viagem de volta a Bright Falls e o transformara em uma simples caminhada pelo corredor.

E, pela primeira vez desde a morte de seu pai, Lauren não se sentira sozinha na Casa das Glicínias.

E, pela primeira vez desde a morte de seu pai, Lauren não se sentira sozinha na Casa das Glicínias

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CAMREN: Ela Não Se ImportaOnde histórias criam vida. Descubra agora