Capítulo 11 - Casa das Glicínias II

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Lauren ergueu os ombros até as orelhas quando elas passaram pela porta e entraram no hall amplo.

O cheiro a atingiu primeiro: lavanda e alvejante, como substâncias químicas tentando domar algo selvagem. Então, a temperatura a envolveu, um frio glacial, o ar-condicionado à toda, a ponto de farfalhar cabelos e saias.

Finalmente, lá estava a vista, a entrada ainda pintada de cinza-claro, o piso de madeira escura ainda reluzente e impecável, as paredes ainda decoradas com os quadros mais sem graça do mundo, pinturas abstratas em cores neutras e paisagens fluviais tediosas.

Entre aquelas obras-primas, é claro, fotografias posadas de Astrid em todas as idades. Fotos em preto e branco, com molduras de madeira de uma princesa loura com um figurino de balé, um uniforme de corrida e uma beca verde de formatura carregada de estolas de honra brancas e douradas.

Uma das fotos mostrava Lauren – um retrato de família, 20 x 25, com ela e Astrid por volta dos 9 anos no sofá branco da sala, Isabel e o pai de Lauren empoleirados ao lado de cada uma delas, os olhos dele brilhando. Uma moldura dourada antiga e simples envolvia a cena feliz, em cima do aparador próximo à escada, meio escondida por uma suculenta em um vaso de cerâmica.

Ela ficou tonta por um instante, mas isso não era tão incomum assim. Só precisava de um minuto para se recompor e vestir a armadura habitual para lidar com Isabel e Astrid – sarcasmo e desdém.

Jogou os ombros para trás, o braço segurando o de Camila com ainda mais firmeza.

– Tudo bem? – perguntou Camila, olhando para ela.

– Tudo ótimo – respondeu Lauren, mas sem soltar Camila.

E Camila também não a soltou.

Pelo menos não antes de Astrid aparecer no corredor que levava à sala de estar, os olhos focando imediatamente os braços de Lauren e Camila.

Só então Camila se soltou, arrumando o vestido e pigarreando.

– Oi – disse Camila.

– Oi – respondeu Astrid, se aproximando.

Usava um macacão marfim sem alças com pernas largas, elegante e caro.

Por ironia, combinava perfeitamente com o macacão sem alças preto de Lauren.

O anjo e o demônio.

Se Astrid percebeu, não disse nada. Em vez disso, deu beijinhos no ar em Camila enquanto olhava de soslaio para a irmã postiça.

– Você veio – disse Astrid.

– Por milagre – respondeu Lauren.

– Bom, eu não sabia se você lembrava onde era.

Lauren inclinou a cabeça, olhando para a irmã.

– Onde está a torre de champanhe?

– Não tem torre de champanhe – respondeu Astrid, o tom repleto de veneno.

– Que pena.

– Tá, e aí? – falou Camila, em um tom alegre. – Está tudo pronto lá fora?

Astrid pareceu relaxar e assentiu, enquanto Lauren entrava em modo professional, repassando mentalmente as lentes de que precisaria para aquela luz.

O incidente da torre de champanhe fora terapêutico, mas ela não ficaria exatamente surpresa se Isabel a demitisse e, no fim das contas, precisava do dinheiro. E Astrid sabia muito bem disso.

A Casa das Glicínias tinha um quintal enorme nos fundos. Ele era plano, verde, tinha uma piscina logo abaixo da varanda, além de um amplo gramado que se estendia até as margens do Rio Bright.

CAMREN: Ela Não Se ImportaOnde histórias criam vida. Descubra agora