Capítulo 6 - Casa de Chá da Vivian

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Enquanto a Pousada Caleidoscópio era lotada de flores, a Casa de Chá da Vivian, no centro de Bright Falls, era lotada de cristais.

Lustres, saleiros e pimenteiros em cima das mesas cobertas por toalhas de linho branco, vasos cheios de minilírios creme e velas marfim bruxuleantes dentro de globos redondos e cristalinos como enfeite de centro.

Tudo era creme, branco, marfim ou dourado, como se uma cerimonialista da elite tivesse entrado ali e vomitado por toda parte.

Lauren estava ali havia trinta segundos quando Isabel surgiu.

– Aí está ela – disse a madrasta.

Lauren se preparou, mas logo percebeu que Isabel nem estava falando com ela.

Estava falando com Astrid.

– Um pouco em cima da hora, não, querida? – indagou Isabel, pairando como um morcego em sua caverna.

Estava com um terninho marfim, a cor combinando perfeitamente com o vestido de Astrid, porque é claro que combinaria e um salto marfim de sete centímetros.

A mulher já tinha 1,75 de altura sem seu precioso salto agulha e estava beirando os 60 anos, mas era incapaz de ir a qualquer lugar sem eles. Não, Isabel Parker Jauregui tinha que pairar sobre seus subordinados ou eles poderiam esquecer qual era seu lugar.

Astrid ficou tensa. Seu ombro parecia uma parede de tijolos encostado no de Lauren.

– Na minha época, a noiva chegava cedo a todos os eventos para receber os convidados – continuou Isabel. Ela estendeu a mão e alisou o tecido já lisinho no quadril de Astrid. – Mas quem sou eu, não é? Acho que eu devia agradecer por você não ter conhecido Spencer em um site qualquer. – Ela disse site como se fosse um palavrão que alguém como Isabel jamais pronunciaria.

– Desculpe, paramos pra comprar café – respondeu Astrid, soltando o ar com força.

Isabel franziu a testa. Ou pelo menos pareceu tentar. Lauren viu uma contração perto de sua boca pintada de rosa, mas a pele ali apenas voltou à sua formação perfeita, os soldados movidos a botox preparados para a inspeção.

– Café? Antes de vir a uma casa de chá? Astrid, francamente, eu...

Lauren largou a bolsa da câmera em cima da mesa impecável, dourada e branca mais próxima. Os cristais chacoalharam.

– Onde posso me instalar?

Ela disse aquelas palavras com tanta doçura, que seus dentes doeram. E seus planos eram combiná-las com um olhar penetrante na direção de Isabel, mas, assim que chamou atenção para sua presença, se arrependeu.

Quando a madrasta virou seu Olho de Sauron na direção dela, o coração de Lauren começou a bater forte. Suas mãos ficaram pegajosas e ela sentiu uma vontade quase incontrolável de cobrir o rosto com o cabelo.

Mas resistiu. Tinha quase 30 anos, pelo amor de Deus. Agora, morava em Nova York, era uma mulher adulta. Ia expor no Whitney. Era capaz de lidar com uma conservadora da alta sociedade de uma cidade pequena.

Mas aquela conservadora da alta sociedade de uma cidade pequena, tinha sido responsável por Lauren durante a maior parte de seu desenvolvimento. Fora em Isabel que seu pai, doce e ingênuo, confiara para prover e cuidar de sua única filha e Lauren ainda estava esperando pela parte do cuidado.

Os olhos de Isabel percorreram os braços tatuados, fixando-se, Lauren tinha quase certeza, nas glicínias em tons de cinza que desciam por seu antebraço esquerdo e terminavam nos raios de sol em seu pulso.

As glicínias eram as flores favoritas de seu pai e o motivo pelo qual ele dera aquele nome à casa, plantando a flor roxa com cuidado para que ela tomasse a fachada como uma guardiã.

CAMREN: Ela Não Se ImportaOnde histórias criam vida. Descubra agora