Capítulo 21 - Plano Perfeito

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A NOITE SEGUINTE ERA QUINTA-FEIRA e daria início a seis dias inteiros sem porcaria de evento nenhum. Pelo menos não relacionado ao casamento.

Camila e Ruby voltaram da livraria e encontraram Dinah e Lauren na cozinha da casa delas, sentadas, bebendo água gaseificada de limão.

Camila ficou paralisada, sentindo o coração na garganta de repente.

– Oi! – exclamou Ruby, se aproximando para cumprimentá-las.

– E aí, Rubes? – disse Dinah, dando um beijo no topo da cabeça dela.

Lauren sorriu para a garota, mas seus olhos logo se desviaram para Camila, que sentiu o estômago subir para encontrar o coração na garganta.

– Pode usar a chave embaixo do vaso sempre que quiser, Cheechee – disse Camila.

– Pode deixar – respondeu Dinah. – Também peguei sua correspondência. Parece que sua mãe mandou mais um pacote.

Camila largou a bolsa sobre a ilha da cozinha.

– Ah, meu Deus, o que será desta vez?

Em sua aposentadoria boêmia, a mãe de Camila estava ficando cada vez mais interessada em cristais e tarô. Ela queimava sálvia para purificar o espaço e falava sobre chacras bloqueados sempre que elas conversavam ao telefone. Não que Camila se ressentisse daquele interesse – estava feliz pela mãe ter encontrado uma paixão depois de passar a amada Livraria Rio Selvagem para a filha. Camila só não tinha tempo nem espaço na mente para entender aquilo tudo.

Ultimamente, a mãe tinha adquirido o hábito de enviar coisas pelo correio, de colares de quartzo rosa a livros sobre meditação, convencida de que Camila precisa apenas de um pouco de espiritualidade em sua vida para tudo se ajeitar.

– Quero ver o que a Vovó mandou – disse Ruby, pegando o envelope revestido.

Ela rasgou o envelope e tirou de dentro dele uma caixinha do tamanho de um livro pequeno. Seus olhos observaram a frente e focaram no título:

– O oráculo das bruxas literárias.

– Oráculo? – perguntou Dinah, se levantando e pegando a caixa das mãos de Ruby. – Tipo para prever o futuro?

– Não faço a menor ideia – respondeu Camila, também pegando a caixa. – "Descubra a adivinhação usando a magia do gênio literário." – Leu no verso, onde havia a imagem de uma carta que trazia Zora Neale Hurston, ao lado de uma carta com uma maçã. Só isso. Uma maçã.

– Que estudiosa da magia essa Sinu– disse Dinah.

Camila riu olhando para Zora. Sob sua imagem havia a palavra história.

– Talvez tenha uns exemplares na livraria.

Ela largou a caixa também sobre a ilha – cuidaria daquilo mais tarde – antes de abrir a geladeira e pegar uma cerveja.

– Ah, graças a Deus – falou Dinah, estendendo a mão para indicar que também queria uma. – Eu estava tentando me comportar, mas essa aguinha com gás não está com nada.

Camila colocou uma latinha gelada na mão dela e olhou para Lauren.

– Quer uma?

– Não – respondeu Lauren. – Valeu.

– Eu aceito uma – disse Ruby, cruzando os braços e encarando a mãe.

Aquilo vinha acontecendo o dia todo. As encaradas, as bufadas, os braços cruzados. Tudo graças a Josh, mais uma vez, que dissera a Ruby que queria levá-la para acampar no fim de semana sem conversar com Camila antes. Ou seja, agora significava que qualquer objeção da parte dela, automaticamente, a transformaria na mãe antiquada, preocupada e estraga-prazeres que Camila sempre tinha a sensação de ser em situações que envolviam Josh.

CAMREN: Ela Não Se ImportaOnde histórias criam vida. Descubra agora