Capítulo 38 - Renda e Fúria

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LAUREN TINHA CERTEZA de que estava prestes a vomitar.

O sol estava se pondo, lançando um brilho dourado sobre a Gansevoort Street e uma brisa soprava sua pele, finalmente oferecendo à cidade um alívio do calor entorpecente do verão.

Estava usando seu macacão preto favorito, o cabelo volumoso e ousado, as mechas definidas à exaustão com todo tipo de gel e creme. A maquiagem estava perfeita: olhos esfumados e delineados em estilo gatinho e lábios vermelho-escuros que a faziam se sentir poderosa e sexy, uma criatura da noite em um romance paranormal.

Mas não era um romance. Porque, olhando para o Whitney, um prédio cinza imponente, todo moderno e envidraçado, onde ela já tinha entrado um milhão de vezes antes e duas vezes desde a volta a Nova York quase duas semanas atrás, seu estômago se revirava como se estivesse arrependido da última refeição.

Ela engoliu em seco, respirou fundo, engoliu de novo, mas nada a acalmava. Era a noite do lançamento de Vozes Queer no Whitney. Ela estava pronta. Tinha trabalhado feito doida desde a volta para Nova York. Até pedira a Michaela que cobrisse seus turnos no River Café.

Quando os honorários pelo casamento Parker-Hale caíram em sua conta, dois dias depois dela sair de Bright Falls – sem nenhum e-mail de Astrid, nenhuma mensagem, apenas uma grana que era dela por direito –, ela havia deixado todas as preocupações com dinheiro e aluguel de lado e mergulhado no trabalho.

Dez obras.

Era o que o Whitney queria e ao voltar a Nova York ela tivera uma semana para se preparar antes que o museu recebesse todas as obras para emoldurar. Os sete dias foram um borrão – ela mal comia, cochilava no sofá e se debruçava o tempo todo sobre o portfólio que já tinha, procurando peças que mostrassem ao mundo quem era Lauren, qual era seu nicho.

Mas tinha conseguido.

Trabalhara até em uma peça nova, uma foto que havia tirado em Bright Falls depois do acampamento, durante aqueles longos dias antes de levar Camila para andar de patins. Ela fora até as cataratas, que ficavam a cerca de 15 quilômetros da cidade, uma área de floresta onde o rio se acumulava sob uma série de pequenas cascatas brancas que caíam de um penhasco. Tinha levado o tripé e a câmera e passado o dia todo perdida em centenas de fotos do mundo natural, ela mesma de camisa branca ensopada como tema principal.

– Uau – disse Alex Tokuda olhando para a foto cinco dias antes da exposição, quando Lauren levou tudo até lá.

Lauren batizou a peça de Encontro. Não sabia por que, mas foi a única coisa que surgiu em sua cabeça quando terminou de editar a foto escolhida.

– Isso é... poderoso – declarou Alex, inclinando o retângulo de papel fotográfico para cá e para lá. Seu cabelo era curto e escuro e elu usava terno grená e camisa preta de seda, a elegância em pessoa. – Doloroso, até.

– É. – Foi só o que Lauren conseguiu dizer.

Mas por dentro ela se sentia como se fosse feita de purpurina, uma sensação que só aumentou enquanto Alex analisava as dez peças, fazendo comentários simples mas autênticos.

Mais tarde, naquele mesmo dia, ao voltar sozinha para o apartamento no quinto andar do prédio sem elevador no Brooklyn – o lugar era uma confusão de roupas e embalagens de comida, taças de vinho abandonadas em mesinhas e trocadas por goles mais nutritivos de água –, ela pegou o celular e abriu as mensagens que tinha trocado com Camila.

Uma conversa que estava parada havia uma semana.

Seus dedos pairaram sobre a tela, desesperados por contato, mas sem saber o que dizer. O que ela poderia dizer? A aposta com Astrid, é claro, fora idiota, maldosa e egoísta. Ainda que a irmã não tivesse aceitado. E, assim que Lauren e Camila começaram a ficar juntas, ela raramente pensava nas palavras de despeito que tinha dito a Astrid no quarto da Pousada Caleidoscópio.

CAMREN: Ela Não Se ImportaOnde histórias criam vida. Descubra agora