Capítulo 9 - Livraria Rio Selvagem

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Depois disso, Lauren tirou mais fotos. Ajudou a equipe a limpar a sujeira – era o mínimo que podia fazer, uma vez que o desastre tinha sido culpa sua e valido muito a pena. Ainda melhor, o acidente encerrou o brunch de repente.

Quando o piso voltou a ficar impecável, no entanto, ela não quis lidar com Astrid nem Isabel.

Quando as convidadas começaram a se levantar e a madrasta tornou a colar um sorriso no rosto, Lauren pegou a bolsa da câmera embaixo da mesa, guardou tudo e saiu quase correndo pela porta da Casa de Chá da Vivian, desesperada por um ar sem perfume e um pouco de álcool.

Saiu de fininho e inspirou a brisa quente do início do verão. Em Nova York, já fazia um calor sufocante, mas no Oregon ainda parecia primavera, com o céu azul espiando por entre as nuvens cinza-claro e o aroma fresco das sempre-vivas. Ela acelerou pela calçada em direção à Taverna da Stella.

Infelizmente, o clima idílico de primavera não mudava o fato de que o bar só abria às seis. Ela deu um tapa na porta de madeira e foi em direção à Pousada Caleidoscópio, onde desligou o celular e tirou a calça antes de pedir um sanduíche da cozinha da pousada.

Aconchegada na cama king size enorme, com chita e tudo, maratonou no laptop seis episódios de uma série sobre uma adolescente lésbica na Georgia.

Mas, quando o céu começou a ficar lavanda, ela ficou impaciente. Estava acostumada a passar as noites pelas ruas da cidade, servindo mesas ou mantendo as mãos ocupadas com o trabalho fotográfico, indo a eventos de arte ou simplesmente a um bar até encontrar alguém de quem gostasse.

Nem sempre terminava com uma ficada – às vezes, era bom apenas se sentar ao lado de alguém e conversar sobre nada, sobre qualquer coisa.

Não gostava das noites tranquilas, sozinha.

Fechou o laptop, vestiu a calça e calçou os sapatos. Cinco minutos depois, estava descendo a Main em direção à Taverna da Stella, os postes lançavam um brilho dourado sobre a calçada de paralelepípedo.

Havia algumas pessoas na rua, casais e famílias, turistas anuais que vinham ficar em um dos casarões à beira do rio. A maioria eram brancos com jeito de hétero e uma boa parte lambia sorvetes de baunilha como se estivesse posando para fotos espontâneas de revistas femininas.

Lauren apressou o passo, pronta para o barulho e a atividade da Taverna da Stella. Estava mais ou menos na metade do caminho quando avistou um coque bagunçado através da vitrine de uma loja, óculos pretos refletindo a luz suave.

Livros enchiam a vitrine, várias capas coloridas prometendo verão e romance, alguns livros grossos de culinária com frango grelhado e salada de melancia com pimenta caiena na capa.

Livraria Rio Selvagem, dizia o letreiro.

Claro, Lauren conhecia bem a loja. Na infância, era um dos poucos lugares em Bright Falls onde podia respirar tranquila e desaparecer de um jeito que parecia uma escolha e não que estivesse sendo ignorada.

Foram horas felizes lendo romances de fantasia e histórias em quadrinhos nos fundos da livraria.

Ela parou e se aproximou da vitrine. Camila estava no balcão ao lado do caixa, folheando livros de uma pilha e parando de vez em quando para digitar algo no computador.

Lá dentro estava escuro, apenas um abajur aceso no balcão e alguns cordões de luzinhas.

Antes que pudesse pensar demais, Lauren empurrou a porta e um alívio que ela não sabia explicar preencheu seu peito quando a porta se abriu com facilidade. Um sininho tocou.

– Oi, sinto muito, já fechamos. Eu ia trancar...

As palavras de Camila foram interrompidas assim que ela viu Lauren.

CAMREN: Ela Não Se ImportaOnde histórias criam vida. Descubra agora