- Mariazinha dá-me um copo de àgua.
- E precisavas vir à cozinha beber àgua?
- Vim ver-te, não posso?
- A mim? Vieste ver esta velha? Eu conheço-te bem.
- Olá Juliette.
- Olá menino.
- Sai daqui seu safado.
Já tinha passado um mês desde que Rodolffo e Isabel chegaram. Sempre que tinha oportunidade, Rodolffo aproximava-se dos locais onde Juliette estava. A pretexto de uma ou outra coisa ele fazia questão de se mostrar presente.
Hoje era dia de folga dela e ele observava-a a sair pelo portão principal.
Noutras vezes já a tinha seguido para saber o que ela fazia no seu dia livre. Habitualmente ela ia para o parque de lazer. Deitava-se na relva, lia um livro, comía o lanche que levava e assim passava o dia sozinha até regressar ao fim do dia.
Rodolffo avisou que ia sair com alguns amigos e não voltava para o almoço.
Pegou as chaves do carro que o pai pôs à sua disposição e saiu.Dirigiu em direcção ao parque, estacionou e depois percorreu o espaço à procura dela.
Encontrou-a à beira do lago a olhar para uns casais de patos que ali nadavam.
- Até os patos gostam de companhia. Porque estás sózinha?
Juliette assustou-se ao ouvir aquela voz atrás dela.
- Que susto, menino. Eu não esperava.
- Só Rodolffo. Desculpa se te assustei, mas porque ficas sempre sózinha no teu dia livre?
- Porque gosto, mas também não tenho amigos em Lisboa.
Rodolffo sentou-se ao lado dela e começaram a conversar.
- Devias frequentar espaços com mais gente. Aqui não tem muita gente principalmente nas terças feiras que todo o mundo está a trabalhar. Conhecer pessoas e fazer amigos é bom.
- Eu gosto desta paz. Eu sinto-me bem aqui. Tem uma coisa que eu gostava de fazer, mas agora não dá.
- O que é? Talvez eu possa ajudar.
- Ah, deixe. Não vai incomodar-se comigo.
- Diz lá.
- Gostava de ver o mar e a praia.
- Nunca viste o mar? Anda daí que esse desejo eu posso realizar.
- Não quero abusar. Imagine perder tempo com uma serviçal?
- Juliette essa expressão eu não gosto. É um trabalho como outro qualquer e no fundo todos somos serviçais.
- Desculpe, é força do hábito.
- Agora levanta-te e vamos conhecer o mar.
Rodolffo conduziu durante cerca de meia hora e estacionou o carro no parque mesmo defronte para o mar.
Ajudou Juliette a sair do carro e levou-a até à muralha.
Estavam na praia de Carcavelos, uma das maiores da linha de Cascais.- Posso ir até à agua?
- Podes.
Juliette tirou as sandálias e correu para a areia. Rodolffo ficou sentado na muralha segurando o calçado dela.
Foi ao carro buscar a máquina fotográfica e tirou algumas fotos dela.Juliette assim que sentiu a àgua molhar os seus pés, olhou para trás e chamou-o.
Rodolffo descalçou os ténis e meias, guardou-os no carro juntamente com as sandálias dela e desceu as escadas. Naquele momento agradeceu ter vestido as bermudas em vez de calças.
- Rodolffo, segura na minha mão. Eu pus o pé ali à beira da àgua e a areia fugiu.
Rodolffo soltou uma gargalhada, segurou firme na mão dela e levou-a até à àgua.
Por um instante ela desiquilibrou-se quando uma onda mais forte veio e não fossem os braços fortes de Rodolffo, talvez ela tivesse sido arrastada.
Ele segurou-a firme pela cintura e ela com medo passou os braços à volta do pescoço dele.Estavam demasiado próximos. Juliette tinha a cara encostada no peito dele e podia sentir o bater forte do coração. Ele baixou a cabeça e inspirou o perfume do cabelo dela.
- Vamos voltar. - disse ela.
- Senta aqui um pouco na areia. Ouve só o barulho das ondas. A praia está silenciosa pois não tem muita gente. Na próxima vez trazes o biquíni para tomares banho.
- Eu não tenho. Preciso comprar, mas eu tenho medo de entrar ali. Não sei nadar.
- E se eu entrar contigo?
- Não está certo o Rodolffo perder o seu tempo comigo.
- Eu gosto de estar contigo. Eu quero fazer isto mais vezes, mas estou com pena porque daqui a dois meses vou embora de novo.
- E quando volta?
- Nas férias, como agora. Ju! - vou tratar-te assim e quero que me trates por tu, pelo menos quando estamos sózinhos.
- É que depois lá em casa eu posso descuidar-me no tratamento e eu não quero ser despedida por isso.
- Não vais. Vamos almoçar aqui na praia? Eu ofereço.
Regressaram ao carro e lavaram os pés num dos chuveiros disponíveis. Escolheram uma das esplanadas e por ali ficaram a comer e a conversar sobre o mundinho de Juliette na aldeia e também a cidade suíça onde Rodolffo estudava.