XXXVII

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Quatro anos se passaram e muita coisa mudou.

Rafael pediu colocação num dos hospitais de Lisboa pois foi onde Inês foi colocada quando decidiu voltar ao mercado de trabalho.  Alugaram uma casa bem ao lado da nossa e mantêm a de Coimbra onde vamos de vez em quando passar alguns fins de semana ou feriados.

Inês é a irmã mais velha que Juliette não teve.   É com ela que se aconselha e é com ela que tem grandes conversas.

Isabel convidou Eugénia a morar com ela na Suíça.  A princípio custou a aceitar a ideia, mas Isabel engravidou e aí ela decidiu que não queria perder a infância do neto ou neta.  Isabel não casou, mas já vivia com Martin.

Os gémeos e Maria Inês frequentam o mesmo colégio.  Os três não se desgrudam nunca.

Juliette ainda estuda.  É uma das melhores alunas do seu curso e isso deixa Rodolffo cheio de orgulho.

- Ju, apesar de tudo a nossa vida tem sido muito abençoada.

- É verdade.  Tenho uma mágoa grande com os meus pais.  O dinheiro que eu mando é suficiente para que eles levem a vida mais desafogada e mesmo assim não saiem da aldeia.   Vieram ver a neta uma única vez depois de eu muito insistir e foi para o casamento religioso.

- Eu acho-os muito frios, amor.  Quando sugeri irmos lá, deu-me a sensação de não ser bem-vindo.   A desculpa da casa modesta e sem condições não me convenceu.
Melhor não, disseram eles em conjunto.

- Eu sei como é a casa deles.  É humilde mas cabe muito amor.  Eles são assim e quem perde são eles.

- Mas por ti e se for tua vontade, podemos ir.  Eu só não quero que isso seja motivo de tristeza para ti.

- Está tudo bem, Rodolffo.   Eu sei como eles são.  Não,  não iremos lá.

- Está a chegar o aniversário do nosso casamento.   Onde a minha amada esposa quer comemorar? A Inês já se ofereceu para ficar com a afilhada.

- Ai, eu nunca me separei dela.  Não sei se consigo ir a algum lado.

- Vamos passar um dia a Cascais.  À noite jantamos e vamos ao Casino Estoril e depois dormimos num hotel à beira mar.  Pode ser?  Um dia e noite só nossos?

- Pode.  É perto e qualquer imprevisto regressamos rápido.

- Combinado.  Quem sabe voltamos com o nosso menino feito.

- Rodolffo,  eu só quero ter outro filho depois de terminar o curso.

- Deixa-me sonhar.  Eu quero esta casa cheia.

- Uns três já é bom o suficiente.   Não és tu que os carregas.  Tu ficas com a melhor parte.

- E quem tem que procurar as coisas esquisitas que tu vais querer comer? Quem se vai levantar a qualquer hora para isso?

- Não sabes.  Da Maria Inês não tive desejos fora do comum.

- Quando me lembro sinto raiva de perder esse tempo.

- Não sintas.  Já passou.

Juliette estava sentada no colo de frente para Rodolffo.   Este abraçava-a pela cintura e ela com os braços à volta do pescoço beijava-o.

- Amo-te tanto, Rodolffo.

- Também te amo.  Amo o teu jeito, o teu corpo, as tuas inseguranças, mas tem uma coisa que eu amo mais que tudo.

- O quê?  A nossa princesa?

- Também,  mas o que eu amo mesmo e que foi por quem eu me apaixonei à primeira vista foi pelos teus olhos.  Esses lindos olhos negros que espelham bem a tua alma.

FIM

Teus olhos negrosOnde histórias criam vida. Descubra agora