XXXII

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Mãe

Desculpe, ainda estou a assimilar tudo o que aconteceu connosco.

Sei que podia ter agido diferente com a senhora quando soube da verdade, mas era tudo tão estranho para mim.

Eu sei que me entende.  Quem sofreu calada tantos anos vendo-me sempre chamar mãe a outra, vai entender esta minha reacção.

Não tenho a mínima noção do grau do seu sofrimento.  O meu pai não tinha o direito de lhe fazer isso.  Nenhuma mulher merece tamanha monstruosidade.

Espero que um dia possamos conviver mesmo que distantes.   Quem sabe eu vou aí ou a senhora vem cá.

Neste Natal, estou sózinha, Mas não estou infeliz.  Vou passar com o Martin e a sua família.  O Martin é o meu namorado, não sei se o Rodolffo contou.

Espero que ele tenha encontrado a Juliette e que estejam os três juntos.  Pensei em ligar, mas não tenho nenhum número de contacto em Coimbra e como sabe também não é fácil.

Nas próximas férias quem sabe eu possa ir conhecer Coimbra e revê-la. Até que isso aconteça mando-lhe um grande beijo e desejo que o seu Natal e final de Ano sejam bons.

Se puder dê um beijo ao Rodolffo e que ele me mande notícias da Juliette.

Vou gostar de receber a resposta a esta carta.

Beijos para todos
Isabel

Eugénia chorou o tempo todo enquanto lia a carta em voz alta.  Quando terminou beijou-a e encostou-a ao peito.

Juliette estava abraçada a ela e  chorava também.  Rodolffo estava igualmente emocionado.

- Ela parece dura, mas é meiguinha. - disse ele.

- Este é o Natal mais feliz da minha vida.  Esta carta supera o presente mais caro do mundo.

- Vais ver que muito em breve estarão juntas.  Na Suiça há muitos períodos de férias.

- Vou já responder.  Se vocês quiserem escrever também podemos mandar tudo no mesmo envelope.

- O Rodolffo escreve pelos dois.  Eu não tenho muito para lhe falar.  Nós não convivemos muito.  Fala-lhe da Maria Inês.  Quem sabe ela venha para o seu nascimento ou se os meus pais não forem turrões e assinarem a autorização,  ela venha para o casamento.

- Isso era bom.

- Eu consideraria uma prenda de Natal.  Eu sei que eles vão acabar por assinar assim que falhar o envio do dinheiro, mas podem estar certos de que eu faço.  A minha mãe eu nem crítico porque mulheres da idade dela sempre viveram na sombra dos maridos e fazem tudo o que eles mandam, principalmente nas aldeias.

- É isso.  A minha mãe era igual. - diz Eugénia.

Enquanto os dois foram escrever as suas cartas, Juliette foi até à cozinha começar a preparar o almoço.  Hoje apeteceu-lhe peixe grelhado e quando vinham no caminho passaram no mercado e compraram carapaus e chocos para grelhar.  Já vinha tudo limpinho de entranhas e Juliette apenas passou por àgua e colocou sal.

Cozeu umas batatas com a pele e fez uma salada de tomate e pimentos assados.  Da parte dela estava feito.  Alguém se voluntariasse para grelhar o peixe porque era tarefa que ela não gostava nem tinha jeito para fazer.

Teus olhos negrosOnde histórias criam vida. Descubra agora