Mãe
Desculpe, ainda estou a assimilar tudo o que aconteceu connosco.
Sei que podia ter agido diferente com a senhora quando soube da verdade, mas era tudo tão estranho para mim.
Eu sei que me entende. Quem sofreu calada tantos anos vendo-me sempre chamar mãe a outra, vai entender esta minha reacção.
Não tenho a mínima noção do grau do seu sofrimento. O meu pai não tinha o direito de lhe fazer isso. Nenhuma mulher merece tamanha monstruosidade.
Espero que um dia possamos conviver mesmo que distantes. Quem sabe eu vou aí ou a senhora vem cá.
Neste Natal, estou sózinha, Mas não estou infeliz. Vou passar com o Martin e a sua família. O Martin é o meu namorado, não sei se o Rodolffo contou.
Espero que ele tenha encontrado a Juliette e que estejam os três juntos. Pensei em ligar, mas não tenho nenhum número de contacto em Coimbra e como sabe também não é fácil.
Nas próximas férias quem sabe eu possa ir conhecer Coimbra e revê-la. Até que isso aconteça mando-lhe um grande beijo e desejo que o seu Natal e final de Ano sejam bons.
Se puder dê um beijo ao Rodolffo e que ele me mande notícias da Juliette.
Vou gostar de receber a resposta a esta carta.
Beijos para todos
IsabelEugénia chorou o tempo todo enquanto lia a carta em voz alta. Quando terminou beijou-a e encostou-a ao peito.
Juliette estava abraçada a ela e chorava também. Rodolffo estava igualmente emocionado.
- Ela parece dura, mas é meiguinha. - disse ele.
- Este é o Natal mais feliz da minha vida. Esta carta supera o presente mais caro do mundo.
- Vais ver que muito em breve estarão juntas. Na Suiça há muitos períodos de férias.
- Vou já responder. Se vocês quiserem escrever também podemos mandar tudo no mesmo envelope.
- O Rodolffo escreve pelos dois. Eu não tenho muito para lhe falar. Nós não convivemos muito. Fala-lhe da Maria Inês. Quem sabe ela venha para o seu nascimento ou se os meus pais não forem turrões e assinarem a autorização, ela venha para o casamento.
- Isso era bom.
- Eu consideraria uma prenda de Natal. Eu sei que eles vão acabar por assinar assim que falhar o envio do dinheiro, mas podem estar certos de que eu faço. A minha mãe eu nem crítico porque mulheres da idade dela sempre viveram na sombra dos maridos e fazem tudo o que eles mandam, principalmente nas aldeias.
- É isso. A minha mãe era igual. - diz Eugénia.
Enquanto os dois foram escrever as suas cartas, Juliette foi até à cozinha começar a preparar o almoço. Hoje apeteceu-lhe peixe grelhado e quando vinham no caminho passaram no mercado e compraram carapaus e chocos para grelhar. Já vinha tudo limpinho de entranhas e Juliette apenas passou por àgua e colocou sal.
Cozeu umas batatas com a pele e fez uma salada de tomate e pimentos assados. Da parte dela estava feito. Alguém se voluntariasse para grelhar o peixe porque era tarefa que ela não gostava nem tinha jeito para fazer.