Juliette saiu da estação de comboios em Coimbra estava o dia a nascer. Olhou para o papel que Eugénia lhe tinha dado com a morada e não sabia para onde se dirigir.
Aproximou-se de um táxi e perguntou ao motorista se era longe.
- Não é muito longe menina. Quer que a leve lá visto que não conhece?
- Quero, se faz favor.
- Dez minutos depois chegaram em frente a uma casinha murada e com jardim. Juliette conferiu o número da porta, pagou a viagem e agradeceu.
Pegou o molho de chaves, experimentou uma para abrir o portão e acertou à primeira.
Voltou a fechá-lo e dirigiu-se à porta principal.
Assim que abriu a porta deparou-se com uma casa mobilada com mobílias simples mas muito bonitas.Pousou a mala e sentou-se num dos maples da sala. Olhou ao seu redor e começou a chorar.
- O que vou fazer, Rodolffo?
Foi ver o resto da casa e escolheu o quarto mais pequeno para ser seu. Deitou-se na cama e por estar tão cansada depressa adormeceu.
Acordou já passava do meio dia. O sol estava a pique e os raios quentes entravam pelas frestas das persianas. Abriu as mesmas e deixou-o entrar.
Foi abrir o resto das janelas e decidiu que precisava sair para comprar mantimentos.
Abriu a porta e saiu. Ao fechar o portão, uma vizinha que vinha a entrar na casa ao lado cumprimentou-a.
- Boa tarde. Aos anos que não via ninguém nessa casa.
- Boa tarde. A minha amiga emprestou-ma para passar uns tempos. Sabe onde posso comprar alguns alimentos? Cheguei de madrugada e não tenho nada.
- Olhe! Sobe este bocadinho de rua, vira à direita e a meio tem um comércio que tem tudo.
O padeiro passa todos os dias, é só combinar que ele deixa o pão e depois acerta contas no fim da semana. O leiteiro é igual, também passa todos os dias.Obrigada. Vou ver se os vejo e falar com eles.
Até já. Deixe eu ir às compras. Me chame de Juliette.- O meu nome é Adelaide. Se precisar de algo é só bater à porta.
Juliette seguiu o caminho indicado e chegando lá entrou. Havia duas ou três pessoas dentro e uma senhora na casa dos 50 atrás do balcão.
Conversava com outra acerca de uma terceira.- A vizinha veja lá se é justo. Falta 4 dias seguidos de agora vem-me dizer que arranjou outro emprego. Logo agora que vêm aí as coisas que encomendei para o Natal.
É o que lhe digo, já não há consideração por ninguém. O tanto que a ajudei, mas que Deus lhe dê coisas boas é o que desejo.
Então a menina já escolheu tudo?- Por agora sim. Agora já sei onde vir, também moro perto e posso vir cá buscar.
- Diga à sua mãezinha que aqui tem de tudo um pouco.
- A minha mãe está longe. Eu vim morar sózinha.
- E os seus pais deixaram?
- Era preciso. Cheguei hoje de Lisboa, ou melhor, esta madrugada.
Eu ouvi a sua conversa com a outra senhora. Se quiser eu posso ajudá-lá até que arranje outra empregada ou se me quiser dar uma oportunidade...
Sabe é que eu preciso trabalhar e ajudar a minha família.- Onde está a morar?
- Aqui perto. Moro ao lado de uma senhora Adelaide. Foi ela que me disse para vir aqui fazer compras.
- Ah, a Laidinha!
- Mas a menina é tão nova para morar sózinha. Como é que os seus pais deixaram.
- Necessidade. Quanto dá a minha compra?
- São 30 escudos.
Juliette pagou e agradeceu. Ia a sair quando a senhora a chamou.
- Como se chama?
- Juliette da Costa.
- Então, Juliette. Venha amanhã às 9 horas e vemos como se sai.
- Muito obrigada. Às 9 horas sem falta.
Juliette abriu um sorriso, acenou para a senhora que foi até à porta para a ver saltitar rua abaixo.