XV

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Juliette saiu da estação de comboios em Coimbra estava o dia a nascer.  Olhou para o papel que Eugénia lhe tinha dado com a morada e não sabia para onde se dirigir.

Aproximou-se de um táxi e perguntou ao motorista se era longe.

- Não é muito longe menina.  Quer que a leve lá visto que não conhece?

- Quero, se faz favor.

- Dez minutos depois chegaram em frente a uma casinha murada e com jardim.  Juliette conferiu o número da porta, pagou a viagem e agradeceu.

Pegou o molho de chaves, experimentou uma para abrir o portão e acertou à primeira.

Voltou a fechá-lo e dirigiu-se à porta principal.
Assim que abriu a porta deparou-se com uma casa mobilada com mobílias simples mas muito bonitas.

Pousou a mala e sentou-se num dos maples da sala.  Olhou ao seu redor e começou a chorar.

- O que vou fazer, Rodolffo?

Foi ver o resto da casa e escolheu o quarto mais pequeno para ser seu.  Deitou-se na cama e por estar tão cansada depressa adormeceu.

Acordou já passava do meio dia.  O sol estava a pique e os raios quentes entravam pelas frestas das persianas.   Abriu as mesmas e deixou-o entrar.

Foi abrir o resto das janelas e decidiu que precisava sair para comprar mantimentos.

Abriu a porta e saiu.  Ao fechar o portão, uma vizinha que vinha a entrar na casa ao lado cumprimentou-a.

- Boa tarde.  Aos anos que não via ninguém nessa casa.

- Boa tarde.  A minha amiga emprestou-ma para passar uns tempos.  Sabe onde posso comprar alguns alimentos?  Cheguei de madrugada e não tenho nada.

- Olhe!  Sobe este bocadinho de rua, vira à direita e a meio tem um comércio que tem tudo.
O padeiro passa todos os dias,  é só combinar que ele deixa o pão e depois acerta contas  no fim da semana.  O leiteiro é igual, também passa todos os dias.

Obrigada.  Vou ver se os vejo e falar com eles.
Até já.  Deixe eu ir às compras.  Me chame de Juliette.

- O meu nome é Adelaide.  Se precisar de algo é só bater à porta.

Juliette seguiu o caminho indicado e chegando lá entrou.   Havia duas ou três pessoas dentro e uma senhora na casa dos 50 atrás do balcão.
Conversava com outra acerca de uma terceira.

- A vizinha veja lá se é justo.  Falta 4 dias seguidos de agora vem-me dizer que arranjou outro emprego.  Logo agora que vêm aí as coisas que encomendei para o Natal.

É o que lhe digo, já não há consideração por ninguém.  O tanto que a ajudei, mas que Deus lhe dê coisas boas é o que desejo.
Então a menina já escolheu tudo?

- Por agora sim.  Agora já sei onde vir, também moro perto e posso vir cá buscar.

- Diga à sua mãezinha que aqui tem de tudo um pouco.

- A minha mãe está longe.  Eu vim morar sózinha.

- E os seus pais deixaram?

- Era preciso.  Cheguei hoje de Lisboa, ou melhor, esta madrugada.
Eu ouvi a sua conversa com a outra senhora.  Se quiser eu posso ajudá-lá até que arranje outra empregada ou se me quiser dar uma oportunidade...
Sabe é que eu preciso trabalhar e ajudar a minha família.

- Onde está a morar?

- Aqui perto.  Moro ao lado de uma senhora Adelaide.  Foi ela que me disse para vir aqui fazer compras.

- Ah, a Laidinha! 

- Mas a menina é tão nova para morar sózinha.  Como é que os seus pais deixaram.

- Necessidade.  Quanto dá a minha compra?

- São 30 escudos.

Juliette pagou e agradeceu.  Ia a sair quando a senhora a chamou.

- Como se chama?

- Juliette da Costa.

- Então,  Juliette.   Venha amanhã às 9 horas e vemos como se sai.

- Muito obrigada.  Às 9 horas sem falta.

Juliette abriu um sorriso, acenou para a senhora que foi até à porta para a ver saltitar rua abaixo.

Teus olhos negrosOnde histórias criam vida. Descubra agora