Juliette mal dormiu tal era a euforia de começar num novo emprego.
A senhora Alda, viúva com um filho a viver em França tinha o comércio há vários anos. Abriu o negócio com o marido e só após a morte deste se viu necessitada para arranjar um empregado.
Já por lá tinham passado vários e Juliette era apenas mais uma. Depois de explicar qual era o serviço dela foi para trás do balcão deixando-a a repor as prateleiras.
Os clientes vinham, questionavam sobre quem era e Alda dizia. Por vários dias, Juliette foi tema de conversa. Quando sabiam que ela estava sózinha, a conversa era outra.
- Deve ter sido expulsa pelos pais.
- Deve ser uma depravada e eles mandaram-a embora.
- Deve andar na vida
- Deve... deve...deve.... era só o que se ouvia.Passou um mês. Juliette trabalhava das 9 até às 19 horas todos os dias excepto sábado que era até às 13 e domingo era dia de descanso.
Alda pagou-lhe um pouco menos do que ganhava em Lisboa, mas ela ficou satisfeita.
De repente veio outro contratempo. Juliette começou a passar mal e descobriu que estava grávida. De lágrimas nos olhos não teve outro jeito senão contar a sua história sem omitir nada.
- Que bando de cafagestes, mas Juliette, neste meio mais pequeno, uma gravidez sem casamento é muito mal vista. Se souberem é capaz de eu perder boa parte da clientela.
- Senhora Alda, deixe-me ficar pelo menos enquanto a barriga não crescer. Entretanto eu procuro outra coisa.
- Está bem. E das 13 às 17 não precisas vir. Fica a descansar porque são muitas horas.
- Mas depois ganho menos e eu preciso do dinheiro.
- Não te preocupes que eu vou pagar-te o mesmo. Na início da gravidez deves ter cuidado.
- Obrigada senhora Alda.
Juliette marcou consulta para verificar como estava e para ter acompanhamento na gravidez.
No dia e hora marcada, autorizada pela patroa foi ao hospital para ser consultada.
Calhou-lhe um médico obstetra na casa dos quarenta anos e logo encetaram uma amena conversa.
- Primeira gravidez? Porque o pai não veio?
- Porque não mora em Portugal. Está a estudar na Suíça.
- Sexo casual?
- Que é isso, doutor?
- Sexo sem compromisso. Sexo depois de uma noite de diversão.
- Não doutor. Nós somos namorados, ele vai voltar.
- E entretanto a menina enfrenta toda uma sociedade maxista, castradora e retrógrada sózinha.
Não sei o que significa isto, mas soou bonito.
O médico sorriu enquanto a observava.
- Está tudo bem com o bébé e com a mãe. Come bem e nada de pegar em pesos. Onde trabalhas?
- Por agora numa mercearia, mas quando começar a aparecer a barriga tenho que ir embora.
- Porquê? Gravidez não é doença
.
- A minha patroa diz que as pessoas de idade quando souberem vão deixar de ir lá. Ela vai perder clientes.- Beatas falsas e hipócritas. Sempre na Igreja a bater no peito e depois é isto. Queres trabalhar para mim?
- Como? Em quê? Eu sei fazer pouco.
- Nós temos dois recém nascidos gémeos. Têm dois meses e a minha esposa precisa de ajuda lá em casa e com os bébés. Talvez possam ajudar-se uma à outra.
- No meu estado?
- O que é que tem? É a fase mais linda da mulher. Se tudo correr bem não há-de ser o trabalho a atrapalhar.
Juliette prometeu dar-lhe uma resposta no dia seguinte. Saiu dali com toda a informação do que tinha que fazer e antes de ir trabalhar passou em casa e comeu pois estava com fome.