Juliette estava a arrumar a mala quando Eugénia entrou e fechou a porta.
- Para onde vais Juliette?
- Não sei. O meu mundo acabou de desmoronar. Não posso voltar para a aldeia e muito menos à casa da minha prima.
- Eu posso ajudar.
- Como Eugénia? Tu moras aqui.
- Por um motivo que só a mim interessa. Eu tenho uma casa em Coimbra. Dou-te uma cópia das chaves, apanha o comboio e vai para lá. A cidade é pequena mas vais arranjar emprego se Deus quiser.
- E se não arranjar vivo de quê?
- Não tens nenhum dinheiro?
- Não muito. Deve dar para alguns meses se não tiver que pagar casa.
- Por isso eu digo. Vai a Santa Apolónia, compra o bilhete e parte no primeiro comboio para Coimbra. A minha casa é perto da estação.
- Como eu faço para falar com o Rodolffo? Ele ainda não me escreveu desde que foi.
- Ou esconderam a carta de ti. Pensa nessa possibilidade.
- Também não sei a morada dele. Combinámos que ele escreveria primeiro e não apontei a morada.
- Eu tento saber e depois escrevo-te a mandar.
- Porque me ajudas. Não tivemos assim tanta intimidade.
- Digamos que gostaria que alguém tivesse feito o mesmo por mim noutra altura.
- Não te prejudiques por minha causa. Eu vou para Coimbra e hei-de mandar notícias.
Agora vamos. É longe daqui a Santa Apolónia?- Talvez deixem o Tomás levar-te.
- Não quero nada deles. Vou apanhar um táxi.
- Já é noite. Não vai ser fácil.
- Vou a pé se necessário.
Saíram do quarto e ainda estavam todos na cozinha.
- Vou dar um aviso a todos. Aí de vós se eu souber que ajudam essa puta. Todos têm consciência do que pode acontecer.
- Deixa de ameaças Francisco. Não funciona mais é já passaste dos limites. Tomás leva a Juliette onde ela quiser.
- Pode levar-me a Santa Apolónia senhora Filomena?
- Para onde vais?
- Não sei. Ao chegar lá eu vejo. Quero é sair de Lisboa o mais rápidamente possível.
Maria aproximou-se para se despedir.
- Não seja falsa. A fazer-se amiguinha e por trás é uma cobra venenosa. Deixe o Rodolffo saber o que se passou aqui. Desiludiu-me muito.
Adeus Eugénia, fica bem.- Adeus Juliette. Felicidades.
Juliette entrou no carro de Tomás e partiram. Ele bem tentou saber para onde ia, mas ela decidiu que ninguém além de Eugénia ficaria a saber.
- Para onde vai menina? Tão novinha e este mundo é cheio de perigos.
- O perigo é o seu patrão e vocês todos coniventes.
- Eu faço apenas o meu trabalho. Não me meto nos assuntos particulares deles.
- Quem mais me desiludiu foi a Maria. Uma cobra disfarçada de ovelha.
- Naquela casa todos têm o rabo preso. Nunca perguntei nem quis saber com o quê, mas que têm, têm.
- Gente doida. Parece que chegámos.
- Boa viagem menina e só lhe desejo felicidades.
- Adeus Tomás.
Juliette entrou na estação, perguntou sobre os horários e soube que partia um comboio perto da meia noite. Eram 11,30 da noite. Sentou-se num banco e a sua barriga roncou.
Lembrou-se que apenas havia tomado o chá que Eugénia lhe tinha dado e àquela hora não tinha onde comprar nada para comer.
Sentou-se um casal ao lado dela que lhe ofereceu um pacote de bolachas pois notaram o olhar dela sobre o saco da merenda deles.
- Obrigada. Não tive tempo de comprar nada. Saí às pressas.
- Tome uma fruta. Tem aqui pêras e maçãs. Felizmente temos para dividir.
Juliette entrou no comboio com o casal. Conversaram o tempo todo até chegarem a Coimbra. Juliette agradeceu e despediu-se pois o casal seguia para Viseu.