XIV

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Juliette estava a arrumar a mala quando Eugénia entrou e fechou a porta.

- Para onde vais Juliette?

- Não sei. O meu mundo acabou de desmoronar.  Não posso voltar para a aldeia e muito menos à casa da minha prima.

- Eu posso ajudar.

- Como Eugénia?  Tu moras aqui.

- Por um motivo que só a mim interessa.  Eu tenho uma casa em Coimbra.  Dou-te uma cópia das chaves, apanha o comboio e vai para lá.  A cidade é pequena mas vais arranjar emprego se Deus quiser.

- E se não arranjar vivo de quê?

- Não tens nenhum dinheiro?

- Não muito.  Deve  dar para alguns meses se não tiver que pagar casa.

- Por isso eu digo.  Vai a Santa Apolónia, compra o bilhete e parte no primeiro comboio para Coimbra.  A minha casa é perto da estação.

- Como eu faço para falar com o Rodolffo?  Ele ainda não me escreveu desde que foi.

- Ou esconderam a carta de ti.  Pensa nessa possibilidade.

- Também não sei a morada dele.  Combinámos que ele escreveria primeiro e não apontei a morada.

- Eu tento saber e depois escrevo-te a mandar.

- Porque me ajudas.  Não tivemos assim tanta intimidade.

- Digamos que gostaria que alguém tivesse feito o mesmo por mim noutra altura.

- Não te prejudiques por minha causa.  Eu vou para Coimbra e hei-de mandar notícias.
Agora vamos.  É longe daqui a Santa Apolónia?

- Talvez deixem o Tomás levar-te.

- Não quero nada deles.  Vou apanhar um táxi.

- Já é noite.  Não vai ser fácil.

- Vou a pé se necessário.

Saíram do quarto e ainda estavam todos na cozinha.

- Vou dar um aviso a todos.  Aí de vós se eu souber que ajudam essa puta.  Todos têm consciência do que pode acontecer.

- Deixa de ameaças Francisco.  Não funciona mais é já passaste dos limites. Tomás leva a Juliette onde ela quiser.

- Pode levar-me a Santa Apolónia senhora Filomena?

- Para onde vais?

- Não sei.  Ao chegar lá eu vejo.  Quero é sair de Lisboa o mais rápidamente possível.

Maria aproximou-se para se despedir.

- Não seja falsa.  A fazer-se amiguinha e por trás é uma cobra venenosa.  Deixe o Rodolffo saber o que se passou aqui.  Desiludiu-me muito.
Adeus Eugénia, fica bem.

- Adeus Juliette.   Felicidades.

Juliette entrou no carro de Tomás e partiram.  Ele bem tentou saber para onde ia, mas ela decidiu que ninguém além de Eugénia ficaria a saber.

- Para onde vai menina?  Tão novinha e este mundo é cheio de perigos.

- O perigo é o seu patrão e vocês todos coniventes.

- Eu faço apenas o meu trabalho.  Não me meto nos assuntos particulares deles.

- Quem mais me desiludiu foi a Maria.  Uma cobra disfarçada de ovelha.

- Naquela casa todos têm o rabo preso.   Nunca perguntei nem quis saber com o quê, mas que têm, têm.

- Gente doida.   Parece que chegámos.

- Boa viagem menina e só lhe desejo felicidades.

- Adeus Tomás.

Juliette entrou na estação, perguntou sobre os horários e soube que partia um comboio perto da meia noite.  Eram 11,30 da noite.  Sentou-se num banco e a sua barriga roncou.

Lembrou-se que apenas havia tomado o chá que Eugénia lhe tinha dado e àquela hora não tinha onde comprar nada para comer.

Sentou-se um casal ao lado dela que lhe ofereceu um pacote de bolachas pois notaram o olhar dela sobre o saco da merenda deles.

- Obrigada.  Não tive tempo de comprar nada.  Saí às pressas.

- Tome uma fruta.  Tem aqui pêras e maçãs.  Felizmente temos para dividir.

Juliette entrou no comboio com o casal.  Conversaram o tempo todo até chegarem a Coimbra.  Juliette agradeceu e despediu-se pois o casal seguia para Viseu.

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