XVIII

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Um mês depois e Rodolffo vivia desesperado.  Os exames nunca mais acabavam e a angústia da falta de notícias só aumentava.

Andava nervoso, agressivo e pouco atento. Essa falta de atenção levou a que num dia, a caminho da faculdade sofresse um acidente.   Distraído, atravessou a via fora da passadeira e foi atropelado por um colega que não o viu.

Apesar de não  ser muito grave, teve um pé fracturado e por isso precisou ficar imóvel.

Depois de operado, Isabel levava-o e buscava todos os dias.  O humor dele se não estava bom ficou bem pior.

- E agora como vou para Lisboa.  Se ela já não está lá em casa como vou procurá-la?

- Primeiro vais tratar desse pé e depois vais.  O médico diz que é questão de dois meses.

- Dois meses que podem significar uma vida.

Enquanto isso,  Juliette seguia plena com a sua gravidez.  Depois de todos os exames feitos e de constatar que tudo estava bem seguia auxiliando Inês com os bébés.   Nas horas livres lia.  Lia muito.

- Não tens vontade de voltar a estudar?

- Tenho, mas não tem como.

- Basta quereres.  Onde estás?  Coimbra, terra dos doutores.  Disseste-me que gostavas de ser enfermeira.  Luta por isso.

- Não completei o liceu.  Falta-me o último ano.

- Começou à pouco tempo o ano escolar.  Se quiseres podemos ver isso.

- E a gravidez.  Eu vou ser julgada.

- E vais deixar que a opinião dos outros comande a tua vida?  Não me parece que sejas assim.

- Não sou.

- Então vamos tratar da matrícula como trabalhador estudante que tem outros benefícios.

Inês conversou com o marido sobre o assunto e este foi totalmente a favor.  Juliette teria um dos períodos do dia para ir às aulas e auxiliar Inês no restante.

Feita a matrícula,  começou de imediato a aulas.  Estava algumas semanas atrasada, mas depressa recuperaria com esforço e dedicação.

Não fossem a falta de notícias e as saudades de Rodolffo e ela estaria muito feliz.  Ainda assim fazia um esforço por se mostrar contente e principalmente muito agradecida.

Agora mesmo estava a dobrar a roupinha que Inês lhe tinha dado e que já não servia aos gémeos.

Dos seus pais não recebeu mais notícias nem ela queria depois da bronca que lhe deram por ter cortado relações com a prima.   Entretanto  continuava a enviar algum dinheiro todos os meses.




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