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Juliette também nunca tinha ouvido uma tuna e estava maravilhada com aqueles jovens todos de capas pretas e com vozes tão lindas.

- Porque só tem homens?

- Penso que era porque antigamente apenas aos homens era permitido cursos académicos.   As raparigas geralmente ficavam pelos liceus salvo raras excepções.   Hoje é diferente e também já há tunas femininas, mas não há mistas.

       O tradicional de Coimbra

      Com cheirinho de samba

O espectáculo terminou e os dois estavam encantados.

- E que rapazes bonitos! - disse Juliette.

- Mais que eu?

- Alguns sim, mas eu não te trocava por nenhum, mas que o menino fez carinha sorridente para a lambisgoia do lado, tu fizeste.

- Ela sorriu para mim e eu retribui.  Só quis ser simpático.

- Não gostei.   Eu gorda deste jeito e tu a fazeres olhinhos para outra.

- Gorda não.  E não fiz olhinhos.  Só tenho olhos para ti.

- Gorda sim.  Olha estas medidas.  Tens a coragem de dizer que não estou gorda?

- Em casa eu digo-te o que eu faço contigo.  Estás linda e carregas a minha princesa.

- Olha!  Ali há farturas.  Vou querer duas.

- Duas?  A esta hora comer fritos, vais passar mal.

- Mas eu tenho vontade.

- Vamos lá comprar.

Rodolffo comprou duas para ela e uma para ele.  Ela devorou as duas com a felicidade estampada no rosto.

- Adoro açúcar e canela.

- Em Portugal é o cheiro do Natal.  Na Suíça não tem nada disto.

- É verdade.  No Natal quase tudo tem açúcar e canela.
Eu sei fazer filhoses, rabanadas, sonhos, mexericos, sopa doce, arroz doce e aletria.

- Eu vou querer provar isso tudo.

- Mas sou só eu tu e a Eugénia.  Vamos fazer essa comida toda?

- Tudo a que temos direito minha doce fartura.

- Estou enjoada.  Acho que foi de tanto falar de doces.

- Sei.  De falar ou das duas farturas?  Eu avisei.  Anda, vamos caminhar um pouco antes de entrar em casa.  Talvez isso ajude.

Mas não ajudou e Juliette vomitou tudo bem ali no caminho.  Por já ser tarde ninguém a viu e logo regressaram a casa.

- Vou tomar banho e lavar os dentes.

- Eu vou fazer um chá e levo para o quarto.

Rodolffo entrou com a caneca de chá e Juliette já estava deitada.

- Bebe o chá que está quentinho e vai ajudar a acalmar o estômago.   Entretanto eu vou também tomar banho, já volto.

Quando voltou Juliette já dormia.  A caneca vazia estava sobre a mesinha.  Rodolffo deitou-se ao lado dela, aconchegou-a no peito e cuidou para que ficasse bem agasalhada, deu-lhe um beijo e fechou a luz do candeeiro da mesinha de cabeceira.
Não tardou muito para que ele também mergulhasse num sono profundo.

Teus olhos negrosOnde histórias criam vida. Descubra agora