XXVIII

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Estava na hora de regressar.  Rodolffo pegou uma roupa extra, escova de dentes e despediram-se de Eugénia.

- Quantos dias ficas aqui?

- Dei férias a toda a gente até ao dia dois de Janeiro.   A Isabel vai tratar da minha transferência.   Pelo menos até ao Natal, mas Juliette,  não sei se me sinto confortável em ficar sempre na casa da Inês e Rafael.

- O meu quarto é na parte de baixo ao lado da sala. Eles dormem no primeiro andar, não incomodamos.

- É sempre um estranho em casa, mas eu entendo que não possas ir para a casa da Eugénia.

- Eu trabalho ali.  Vou para o liceu de manhã e de tarde e noite sou o apoio dela.

- E não é muito trabalho?

- Não.   Eu ajudo nas refeições e com as crianças.   A faxina é feita por uma senhora que vem três vezes por semana.

- Mas precisas cuidar da nossa princesa.

- E cuido muito bem.  Ela está perfeitinha aqui no forninho.

Pegaram o jantar e quando chegaram Rafael já tinha vindo do trabalho.

- Então vamos lá conhecer melhor o famoso Rodolffo.
Companheiro, cá em casa era Rodolffo o dia inteiro.

- Que exagero doutor Rafael.

- Outra vez doutor?  Aqui sou só Rafael.  Para ti também Rodolffo.

- Rafael, a Inês disse que o Rodolffo pode dormir aqui, mas ele está com vergonha.

- Não é vergonha. Não quero abusar.

- Bom.  Quem de verdade poderia importar-se eram os teus pais Juliette.   Como eles não estão cá, eu autorizo-os a dormirem juntos.  Até porque o perigo de engravidar já passou.

Rodolffo soltou uma gargalhada e Juliette acompanhou-o.  Sentaram-se todos à mesa com os gémeos ali ao lado nos carinhos e Rafael quis saber sobre a Suíça.

- É tudo bom excepto o frio.  Quer dizer, tudo bom se tivermos ao nosso lado os que amamos.  No meu caso e de Isabel estamos lá sózinhos desde os meus 11 anos.

- Duas crianças sózinhas num país estranho.  Não entendo o pensar de certos pais.  Onde ficam as relações familiares? 

- A minha mãe achava que uma boa educação e instrução chegava.

- Deve ter sido duro.

- Eu tinha a Isabel, no colégio.  Depois tivemos o nosso apartamento e ficou melhor.

- E agora, Lisboa ou Coimbra?

- Esse é outro problema.   Tenho que seguir o negócio da família e terminar o curso.  Falta-me um ano.

- Estás em gestão não é?

- Acho que gestão só tem em Viseu.  Não sei se o Politécnico tem esse curso.

- Tenho até ao fim do ano para decidir.

- E casamento?  Quando vamos assistir ao casório?

- Por mim amanhã.  - respondeu Rodolffo.

- Não é assim tão fácil e rápido.

- Porquê Inês?

- Rodolffo, a Juliette é menor   precisa de autorização dos pais para casar.

- Vamos lá buscar a bendita autorização.

- Eu não vou.  Só querem o meu dinheiro.  Fiz 16 anos em Dezembro, posso esperar mais dois e depois caso.

- Rodolffo sabes que esta menina fez anos e não disse nada?
Por acaso o Rafael descobriu dois dias depois.

- Podemos fazer a festa agora.

- Não preciso de festa.  Estou contente assim.

- Bom, vou deitar-me.  Estou cansado.  Vens Inês?

- Depois de arrumar a cozinha.

- Vai lá Inês.   Eu arrumo.

- E eu ajudo.  Estou habituado pois lá na Suíça não tínhamos empregada.

Inês e Rafael subiram com os gémeos e eles dois terminaram de arrumar a cozinha antes de se recolherem.

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