XXXI

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Véspera de Natal

Juliette já acordou toda animada.  Diz ela que lá na casa dos pais não havia presentes. No Natal era passado à volta da mesa degustando os diversos petiscos.  Por vezes entrava um vizinho ou outro que vinha para beber um copo com o pai e a esposa prosear com a mãe.

Pela manhã fazíamos os doces, temperavam-se as carnes e ao fim do dia acomodavam-se os animais para não darem trabalho no dia de Jesus.

Na véspera íamos à missa do galo à meia noite.  Não pela missa, mas nós, os catraios gostávamos era da farra à volta da enorme fogueira feita no adro da igreja.

Após a cerimónia religiosa, os mais velhos iam a casa, traziam chouriços, alheiras e carne, assavam na fogueira e com pão e vinho faziam uma confraternização com toda a aldeia.

No dia 25 cada um com a respectiva família confraternização em sua casa.  Convidavam um ou outro habitante que por via das circunstâncias estivesse sózinho.  Era época de acolhimento e união.

Hoje eu estou longe da família,  Rodolffo também e da Eugénia nem se fala.   Faz dias que a noto triste. Sei que ela gostava de ter noticias da Isabel, mas ela optou por viver na Suíça.  Quem sabe um dia as duas possam ter um relacionamento diferente.

- Rodolffo,  hoje vamos para casa da Eugénia e ficamos estes dois dias.  Não vale a pena andar pra lá e pra cá.

Nestes últimos dias Eugénia andou a fazer um lindo presépio no seu jardim.  Num cantinho abrigado da chuva e do vento ela colocou toda uma aldeia imaginária para acolher o estábulo onde consta que Maria deu à luz.

Na feira semanal comprou as figuras do presépio, Maria, José e o menino, réis magos, pastores, ovelhas, burros, lavadeiras, casinhas, uma igreja e mais uma panóplia de figuras que ela entendeu pertencerem ali.

Não sei onde, mas ela conseguiu musgo verdadeiro e toda a montagem estava coberta de um verde lindo.  Caminhos de pedras e areia e não faltou um pequeno lago onde lavadeiras se ajoelhavam na margem e patos nadavam no meio.
Sobre o estábulo sobressaía uma linda estrela.

Juliette olhou para aquela obra e chorou.  Tudo aquilo lhe fazia lembrar do presépio que todos os anos era montado no interior da igreja de Rojas.

- Está tão lindo Eugénia!

- É assim que a minha mãe fazia, mas dentro de casa.

- Ficou lindo aqui neste cantinho do jardim, mas os réis Magos não deviam estar junto ao estábulo? - perguntou Rodolffo.

- Daaaa!  Os reis Magos ainda vão a caminho.   Só chegam dia 6 de Janeiro.  Até lá vamos colocando mais à frente. - disse Juliette zombando de Rodolffo.

- Desculpa, não sabia.  Sou cristão, mas por conta da ausência dos meus pais não sou praticante.

- Pelo visto eles não tinham religião ou então era a religião do capeta.  Ah, desculpa amor.

- Tudo bem.  Deve ser isso mesmo.

Carteiro!!! - ouvimos alguém gritar no portão.

Fomos verificar quem era.

- Carta para si senhora Eugénia.

- Obrigada Pedro.  Bom Natal e Boas Festas.

- Para a senhora e seus também.

Eugénia leu o remetente e sentou-se nas escadas pois sentiu as pernas bambas.   A carta era de Isabel e vinha mesmo endereçada a ela.

N/A

Só para dizer que esta autora adora fazer o presépio,  costume português muito antigo e hoje substituído pelas àrvores de Natal que eu acho lindas, mas não me trazem recordações nenhumas.
Este ano conto fazer porque nos últimos havia animais cá em casa (cachorro) que eram incompatível com enfeites.

Teus olhos negrosOnde histórias criam vida. Descubra agora