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Tanto Rodolffo como Juliette estavam a ser demasiado imprudentes.

A visita de Rodolffo ao quarto dela quando julgava estar todo mundo a dormir, foi observada por dois olhos maléficos.

Rodolffo saiu em silêncio e ouviu Juliette trancar a porta.  Caminhou lentamente até ao piso superior onde ficava o seu quarto.  Entrou e fechou a porta.

Deitou-se na cama e o pensamento pairava no que tinha acabado de viver.  Ele nem queria pensar que daqui a dois dias tudo terminava e não sabia o que esperar.

Teve vontade de cancelar a viagem e ficar a estudar em Portugal.  Até já tinha comentado isso com a sua mãe e pai, mas eles foram perentórios e depois de muita discussão,  Rodolffo lá aceitou regressar.

Tinha vontade de contar que estava a namorar Juliette,  mas não sabia a reação dos pais a este namoro e temia pelo futuro dela.  No fundo ele sabia que ela não seria aceite.

O último dia foi passado no quarto muito reflexivo.  Saiu para almoçar e jantar e no final deste foi até à cozinha despedir-se de Maria.

O avião sairia ao nascer do dia e eles precisavam de ir cedo para o aeroporto.

- Maria, posso pedir um favor?

- Pede.  Sabes que eu não te nego nada.

- Cuida da Ju para mim.  Não deixes que ninguém lhe faça mal.

- Vou fazer o que puder.  Sabes que há coisas que eu não posso decidir e eu acho que os dois foram irresponsáveis.

- Porquê?  Gostamos um do outro e não fizemos nada demais.

- Olha!  Este é irmão deste. - diz ela apontando para cada um dos seus olhos.

Juliette ouvia a conversa sem dizer palavra, mas por fim resolveu falar.

- Deixa, Rodolffo.   Ela não entende.  Já me deu bronca.

- Pois dei porque faz pouco mais  de três meses que estás aqui.  E se os patrões descobrirem o que achas que acontece?  Vais para a rua de certeza e depois, regressas à aldeia?

- Para lá é que não volto.  Eu cá me hei-de arranjar.

- Não digas isso, Ju.  Assim vou embora preocupado.  Promete que se acontecer alguma coisa tu me telefonas.  Já te dei o numero e faz a chamada a cobrar lá.  Nem sempre se consegue uma boa chamada e vamos a caminho do Inverno, mas promete que ligas se precisares?

- Está bem.  Prometo ligar, mas não há-de acontecer nada.

- Marisa, dá-me  um beijo e até qualquer dia.  Obrigado por tudo.

- De nada Rodolffo.   Vai tranquilo e boa viagem.

Rodolffo abraçou também Juliette e deu-lhe um beijo no rosto segredando ao ouvido.

- Mais tarde fazemos outra despedida.

Rodolffo saiu da cozinha e foi para o seu quarto.

Maria e Juliette terminaram de limpar tudo e cada uma se recolheu aos seus aposentos..

Ju estava certa de que Maria não ouvia nada do que se passava no seu quarto.  Sempre via ela tomar  comprimidos para dormir e hoje não foi excepção.

Teus olhos negrosOnde histórias criam vida. Descubra agora