VII

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Rodolffo estava encantado com Juliette.   Depois daquele dia combinaram passar o dia de folga dela sempre juntos.  Umas vezes ela saía primeiro outras vezes era ele.

Só Maria vivia desconfiada e chamou Rodolffo de lado.

- Meu menino, ela ainda é uma jovenzinha e de classe diferente da tua.  Logo vais embora e esqueces tudo.  Não a magoas é só o que eu peço.

- Prometo Mariazinha, mas eu gosto dela de verdade e vai ser difícil ir embora.

- Não deixe o seu pai saber.  Eu temo por ela.

- Porquê?  Eu sei que há muitos segredos que envolvem os meus pais  e ninguém quer contar.

- Só dizem respeito a eles, mas Juliette é ingénua e tu um homem feito.

- Pelo contrário.  Ela é bem madura para a idade.  Eu gosto de conversar com ela.

- Só não quero que ela sofra quando partires.

- Tu vais tomar conta dela para mim, prometes?

- Farei o meu melhor.

Juliette, alheia a esta conversa estava no seu quarto a escrever uma carta aos pais.

Queridos pai e mãe.

As saudades que eu tenho de vós e da minha aldeia não dá para quantificar.

Sigo aqui no meu trabalho e estou feliz.

Pai.

Quando partiste e me deixaste com a prima, quero dizer-te que ela não é o que mostra ser.  Fui logo rotulada como mais uma boca para alimentar de graça e que devia trabalhar depressa.  Quando soube o valor do meu salário mudou de novo.  Aí já era meiga.  Uma interesseira, digo eu.

Desculpa, mas é a verdade.  Nunca mais voltei a casa dela nem pretendo voltar.  Talvez, volte um dia para lhe pagar uma noite quedormi e jantei.

Tenho passeado no meu dia de folga e até já fui ver o mar.  Tanta àgua meu pai e minha mãe.  A areia da praia é macia e quentinha.

Recebi o meu salário e estou a enviar junto desta carta a quantia de 300 escudos para vos ajudar.  Comprei algumas roupas e outras coisas, mas ainda deu para guardar um pouquinho.

Espero que estejam bem e recebam um grande beijo.
Amo-vos
Juliette

Juliette meteu a carta e o dinheiro embrulhado em papel químico no envelope e foi até à cozinha.

- Maria, os correios são longe?  Queria enviar esta carta aos meus pais.

- Deixa que eu vou sair e levo. - diz Rodolffo.

- Está aí?  Desculpe não o vi.  Se me fizer esse favor eu agradeço.  Já tem selo, é só colocar na caixa do correio.

Rodolffo segurou na carta e reparou na letra.

- Que letra linda!  Queria eu escrever assim, mas por vezes nem eu próprio me entendo.

- Eu sempre fui aplicada.  Um dia ainda vou conseguir voltar a estudar e ser enfermeira.

- E eu vou querer estar sempre doente para ser cuidado por ti.

- Não brinque.  A nossa saúde é muito importante.

Como estavam só os três, Rodolffo deu um beijo no rosto das duas e saiu.
Juliette olhou para Maria e ficou envergonhada.

- Já falei com ele que não quero que te magoe.

- Não há nada entre nós.  Ele só é simpático.

- Eu sei Juliette. A idade é um posto e nessas coisas eu já vi muito.  Tem cautela e não deixes os patrões desconfiarem de nada.

- Mas não há nada para desconfiar.

- Sei.  Vamos lá ao trabalho e terminar este jantar.

Cada uma voltou aos seus afazeres e o assunto morreu ali.

Teus olhos negrosOnde histórias criam vida. Descubra agora