Rodolffo estava encantado com Juliette. Depois daquele dia combinaram passar o dia de folga dela sempre juntos. Umas vezes ela saía primeiro outras vezes era ele.
Só Maria vivia desconfiada e chamou Rodolffo de lado.
- Meu menino, ela ainda é uma jovenzinha e de classe diferente da tua. Logo vais embora e esqueces tudo. Não a magoas é só o que eu peço.
- Prometo Mariazinha, mas eu gosto dela de verdade e vai ser difícil ir embora.
- Não deixe o seu pai saber. Eu temo por ela.
- Porquê? Eu sei que há muitos segredos que envolvem os meus pais e ninguém quer contar.
- Só dizem respeito a eles, mas Juliette é ingénua e tu um homem feito.
- Pelo contrário. Ela é bem madura para a idade. Eu gosto de conversar com ela.
- Só não quero que ela sofra quando partires.
- Tu vais tomar conta dela para mim, prometes?
- Farei o meu melhor.
Juliette, alheia a esta conversa estava no seu quarto a escrever uma carta aos pais.
Queridos pai e mãe.
As saudades que eu tenho de vós e da minha aldeia não dá para quantificar.
Sigo aqui no meu trabalho e estou feliz.
Pai.
Quando partiste e me deixaste com a prima, quero dizer-te que ela não é o que mostra ser. Fui logo rotulada como mais uma boca para alimentar de graça e que devia trabalhar depressa. Quando soube o valor do meu salário mudou de novo. Aí já era meiga. Uma interesseira, digo eu.
Desculpa, mas é a verdade. Nunca mais voltei a casa dela nem pretendo voltar. Talvez, volte um dia para lhe pagar uma noite que lá dormi e jantei.
Tenho passeado no meu dia de folga e até já fui ver o mar. Tanta àgua meu pai e minha mãe. A areia da praia é macia e quentinha.
Recebi o meu salário e estou a enviar junto desta carta a quantia de 300 escudos para vos ajudar. Comprei algumas roupas e outras coisas, mas ainda deu para guardar um pouquinho.
Espero que estejam bem e recebam um grande beijo.
Amo-vos
JulietteJuliette meteu a carta e o dinheiro embrulhado em papel químico no envelope e foi até à cozinha.
- Maria, os correios são longe? Queria enviar esta carta aos meus pais.
- Deixa que eu vou sair e levo. - diz Rodolffo.
- Está aí? Desculpe não o vi. Se me fizer esse favor eu agradeço. Já tem selo, é só colocar na caixa do correio.
Rodolffo segurou na carta e reparou na letra.
- Que letra linda! Queria eu escrever assim, mas por vezes nem eu próprio me entendo.
- Eu sempre fui aplicada. Um dia ainda vou conseguir voltar a estudar e ser enfermeira.
- E eu vou querer estar sempre doente para ser cuidado por ti.
- Não brinque. A nossa saúde é muito importante.
Como estavam só os três, Rodolffo deu um beijo no rosto das duas e saiu.
Juliette olhou para Maria e ficou envergonhada.- Já falei com ele que não quero que te magoe.
- Não há nada entre nós. Ele só é simpático.
- Eu sei Juliette. A idade é um posto e nessas coisas eu já vi muito. Tem cautela e não deixes os patrões desconfiarem de nada.
- Mas não há nada para desconfiar.
- Sei. Vamos lá ao trabalho e terminar este jantar.
Cada uma voltou aos seus afazeres e o assunto morreu ali.