- O seu pai chegou aqui com a desculpa de que a menina era fruto de uma aventura e que a mãe dela tinha morrido.
- E a minha mãe aceitou sem dramas? A filha de outra vem cá para casa e ela aceita?
- O porquê não sei.
- E tu, como vieste aqui parar?
- Eu deambulava na rua sem nenhum rumo. Ele viu-me e trouxe-me para ficar perto de ti na condição de não falar nada. A Filomena nunca deveria desconfiar que eu era tua mãe e tu muito menos.
Eu aceitei porque queria ver-te crescer.- Crescer na mentira. Foi isso que eu tive. Uma vida de mentira.
- Eu não tinha condições de te dar uma vida digna.
- Deste-me algum carinho, isso é verdade.
- Não podia fazer mais. Quando o teu pai me via ser carinhosa contigo ameaçava expulsar-me.
- Alguma vez te violou aqui em casa?
- Não. Depois que eu te tive nunca mais.
Eugénia contava a sua história de lágrimas nos olhos. Isabel limpou-lhe o rosto e deu-lhe um beijo.
- Não sei o que pensar, mas não te julgo. Eu sempre me senti excluída desta família isso é verdade, mas o pouco carinho eu recebi de ti e da Maria.
- Eu queria ter feito mais, mas não me deixaram.
- A Filomena então nem sonha que tu és a minha mãe?
- Não. Só eu e o teu pai sabemos.
- Eugénia, vai fazer a tua mala. Vamos os dois para Coimbra. Isabel o que vais fazer?
- Eu não sei. Eu queria confrontar o pai. Vou ficar aqui e depois talvez regresse à Suíça.
Rodolffo abriu a porta. A sua mala já tinha sido colocada à porta do quarto e ele desceu com ela.
- Só estou à espera da Eugénia e vamos juntos para Coimbra. Reze para eu encontrar a Juliette e que nada lhe tenha acontecido.
- Não ganho um beijo teu? - perguntou Maria.
- Fica longe de mim sua falsa. O aviso que dei à minha mãe serve para ti também. Reza para que ela esteja bem.
- Ela enfeitiçou-te com aqueles olhos de predador prestes a dar o bote na presa.
- CALA ESSA BOCA! NÃO FALES MAIS NADA ACERCA DELA.
- Filho pensa antes de tomares uma decisão de que venhas a arrepender-te.
- O que eu me arrependo é de não a ter levado comigo.
- E pensas que nós íamos sustentá-la? Para isso tens que ser autónomo e isso não és. Ainda estás a estudar e somos nós a pagar.
- Eu posso trabalhar tal como ela faz, mas por ter um pai escroto, ordinário e sem escrúpulos, vou sim querer o vosso dinheiro. Também sei ser escroto se quiser. Até quando ias aceitar as patifarias do pai? Até quando ias aceitar a filha de uma violação cá em casa sem protestar?
- Não sei do que estás a falar.
- Da Isabel. Filha da Eugénia igualmente violada pelo pai como queria fazer com Juliette e sabe-se lá com quantas outras.
- A Isabel é filha da Eugénia? Eu convivi com a amante do teu pai estes anos todos?
- Amante? A sério mãe? Tira a pala dos olhos. O que aconteceu para agires assim?
- Tu não sabes o que foi a minha vida. Tudo o que fiz foi por ti.
- Por mim? Conta lá o que fizeste. Já agora vamos lavar a roupa suja.
- Eu casei com o teu pai com separação total de bens. Se o deixasse ficava sem nada e tu também. Ele chantageou-me com isso para eu aceitar a Isabel. Íamos criar os dois juntos e assim que terminasses o curso , ele passava 51% da empresa para ti.
A condição que eu pus foi mandar-vos estudar no melhor colégio da Suiça. Ele aceitou imediatamente.- E porque é que ele ia deserdar-me?
Do que ele desconfiava.- Eu casei já grávida. Ele não é o teu pai, mas não tem certeza. Se eu não aceitasse a Isabel ele ia dizer a todo o mundo que o meu filho não era dele.
- Quantas merdas mais vamos descobrir? Quem é o meu pai?
- Só o vi uma vez foi à saída de uma festa. Eu estava um pouco embriagada. Logo a seguir conheci o teu pai e pouco tempo depois casámos, mas eu já sabia que estava grávida.
- Então eu tinha razão? - disse Francisco acabado de chegar.