XXII

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- O seu pai chegou aqui com a desculpa de que a menina era fruto de uma aventura e que a mãe dela tinha morrido.

- E a minha mãe aceitou sem dramas?  A filha de outra vem cá para casa e ela aceita?

- O porquê não sei.

- E tu, como vieste aqui parar?

- Eu deambulava na rua sem nenhum rumo.  Ele viu-me e trouxe-me para ficar perto de ti na condição de não falar nada.  A Filomena nunca deveria desconfiar que eu era tua mãe e tu muito menos.
Eu aceitei porque queria ver-te crescer.

- Crescer na mentira.  Foi isso que eu tive.  Uma vida de mentira.

- Eu não tinha condições de te dar uma vida digna.

- Deste-me algum carinho, isso é verdade.

- Não podia fazer mais.  Quando o teu pai me via ser carinhosa contigo ameaçava expulsar-me.

- Alguma vez te violou aqui em casa?

- Não.   Depois que eu te tive nunca mais.

Eugénia contava a sua história de lágrimas nos olhos.  Isabel limpou-lhe o rosto e deu-lhe um beijo.

- Não sei o que pensar, mas não te julgo.  Eu sempre me senti excluída desta família isso é verdade, mas o pouco carinho eu recebi de ti e da Maria.

- Eu queria ter feito mais, mas não me deixaram.

- A Filomena então nem sonha que tu és a minha mãe?

- Não.   Só eu e o teu pai sabemos.

- Eugénia, vai fazer a tua mala.  Vamos os dois para Coimbra.  Isabel o que vais fazer?

- Eu não sei.  Eu queria confrontar o pai.  Vou ficar aqui e depois talvez regresse à Suíça.

Rodolffo abriu a porta.  A sua mala já tinha sido colocada à porta do quarto e ele desceu com ela.

- Só estou à espera da Eugénia e vamos juntos para Coimbra.  Reze para eu encontrar a Juliette e que nada lhe tenha acontecido.

- Não ganho um beijo teu? - perguntou Maria.

- Fica longe de mim sua falsa.  O aviso que dei à minha mãe serve para ti também.  Reza para que ela esteja bem.

- Ela enfeitiçou-te com aqueles olhos de predador prestes a dar o bote na presa.

- CALA ESSA BOCA! NÃO FALES MAIS NADA ACERCA DELA.

- Filho pensa antes de tomares uma decisão de que venhas a arrepender-te.

- O que eu me arrependo é de não a ter levado comigo.

- E pensas que nós íamos sustentá-la?  Para isso tens que ser autónomo e isso não és.  Ainda estás a estudar e somos nós a pagar.

- Eu posso trabalhar tal como ela faz,  mas por ter um pai escroto, ordinário e sem escrúpulos,  vou sim querer o vosso dinheiro.   Também sei ser escroto se quiser.  Até quando ias  aceitar as patifarias do pai?  Até quando ias aceitar a filha de uma violação cá em casa sem protestar?

- Não sei do que estás a falar.

- Da Isabel.  Filha da Eugénia igualmente violada pelo pai como queria fazer com Juliette e sabe-se lá com quantas outras.

- A Isabel é filha da Eugénia?  Eu convivi com a amante do teu pai estes anos todos?

- Amante?  A sério mãe?  Tira a pala dos olhos.  O que aconteceu para agires assim?

- Tu não sabes o que foi a minha vida.  Tudo o que fiz foi por ti.

- Por mim?  Conta lá o que fizeste.  Já agora vamos lavar a roupa suja.

- Eu casei com o teu pai com separação total de bens.  Se o deixasse ficava sem nada e tu também.  Ele chantageou-me com isso para eu aceitar a Isabel.  Íamos criar os dois juntos e assim que terminasses o curso , ele passava 51% da empresa para ti.
A condição que eu pus foi mandar-vos estudar no melhor colégio da Suiça.  Ele aceitou imediatamente.

- E porque é que ele ia deserdar-me?
Do que ele desconfiava.

- Eu casei já grávida.  Ele não é o teu pai, mas não tem certeza.  Se eu não aceitasse a Isabel ele ia dizer a todo o mundo que o meu filho não era dele.

- Quantas merdas mais vamos descobrir?  Quem é o meu pai?

- Só o vi uma vez  foi à saída de uma festa.  Eu estava um pouco embriagada.  Logo a seguir conheci o teu pai e pouco tempo depois casámos, mas eu já sabia que estava grávida.

- Então eu tinha razão? - disse Francisco acabado de chegar.

Teus olhos negrosOnde histórias criam vida. Descubra agora