22| o morto vivo ( parte 3)

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Minha madrinha fez sinal para que o homem se acalmasse,pois todas nós prestamos atenção no que está acontecendo.
Ela o puxou pelo canto e assim saíram do refeitório deixando todas nós curiosas.

Depois do café eu estava andando normalmente pelo convento com um desânimo horrendo e escutei ser chamada.

—Estava a sua procura, preciso falar com você.— minha madrinha gritou,pois estávamos longe.

Me aproximei dela lhe questionando o que era,mas ela disse que era algo importante e precisávamos de privacidade para conversar por um segundo achei que ela falaria que a polícia já tinha prendido alguém.

Ao entrar no escritório me deparei com aquele homem de mais cedo sentado na cadeira. Estranhei a sua presença,entretanto,resolvi esperar até que minha madrinha falasse.
Será que ele era um dos investigadores e estava aqui agora para me interrogar?

—Bom, Amber!— chamou minha atenção,enquanto o homem não parava de me observar.— Não vai ser fácil para você ouvir isso agora.—Engoliu em seco.— Você sabe que sua mãe engravidou cedo de você e o seu pai.

—Você já me contou essa história que meu pai não aceitou muito bem porque tinha uma carreira,mas que depois ele me aceitou.— a interrompi.

—Na verdade o seu verdadeiro pai fugiu.

—Verdadeiro?

—O pai que te criou, ele era muito apaixonado pela sua mãe, vinha aqui fazer doações de dinheiro só para ajudar o convento porque ela morava aqui. Quando seu pai de sangue fugiu ele assumiu você como filha dele, tanto que você é registrada no nome dele e obviamente vai receber uma quantia em dinheiro quando completar a maioridade.

— Por que vocês nunca me contaram isso? É uma parte importante da minha vida.

—Sua mãe achou que já que seu pai não te quis não tinha porque ele ser lembrado isso só traria sofrimento.

—Está trazendo sofrimento de qualquer maneira e ainda está abrindo coisas da minha vida diante de um estranho.— gritei sem paciência.

—Não sou um estranho.— A voz grossa ao meu lado se fez presente pela primeira vez.

— Eu não a conheço, então é sim.

—Amber, esse senhor na verdade é um velho conhecido meu e da sua mãe.

—Pare de enrolar! Sou seu pai biológico.— soltou-se a bomba em mim e calou -se esperando uma reação,mas tudo que eu consegui fazer foi marejar meus olhos e olhar para ele horrorizado.

Sempre me senti privilegiada por não ter sofrido com abandono, seja paterno ou materno, e por mais que aquele não fosse meu pai biológico eu tinha um pai que me amava com todo seu coração.
Mas, esse aqui  não passava de um desconhecido para mim. Eu não sabia seu nome, não sabia sua idade, não tive um momento com ele.

O que o fez aparecer agora depois de tantos anos? Se não apareceu antes, agora já não faz diferença.
Levantei apressadamente para não chorar em sua frente, dizem que chorar na frente de alguém que está lhe machucando demonstra fraqueza absoluta e eu não queria ser fraca.

Correndo igual louca parei no jardim de trás do convento,sentada na grama olhava o céu me questionando sobre a vida. A minha vida não era cinza, era em total tom de preto absoluto e botas de couro.

Parecia que um caminhão está atropelando meu coração e ele está com batidas lentas e sufocantes.





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