QUENTE COMO O INFERNO

22| o início da tragédia

Dean Williams,continuava a me encarar sem soltar uma única palavra e minha raiva só aumentava. É capaz que eu estivesse mais vermelha que o batom da Eudora que comprei hoje cedo, meus lábios se contraíram com raiva de sua demora. Um suspiro veio de sua parte e eu faltei explodir bem ali.

—Horas! Até quando vai pensar em uma resposta convincente?— falei irônica.

—Você sabe o que estou fazendo aqui, não preciso convencê-la do contrário.—disse sério.

—A sua obsessão por essa garota vai te levar ao fundo do poço , quando vai aprender que o que aconteceu no passado já passou?— bati na mesa enfurecida.

Não sei o que mais doía em meu peito, se era Dean ter mentido para mim sobre o plano e depois ter desaparecido,ou, se era ele ainda me rejeitar na cara dura sem nenhum remorso com meus sentimentos.Por mim gostaria que ela morresse da pior forma possível, mas também tenho pena dela… ela é apenas uma menina ainda.

—Já falamos sobre isso tantas vezes, América, eu vou me vingar dele. Não faço isso por ela e sim para me vingar dele.— explicou o cínico.

—Está tentando enganar a quem? Me diga! No início eu até me convenci que isso era uma vingança de um menino injustiçado na infância, mas depois de crescer virar um homem e ainda ficar nessa obsessão maluca a ponto de cometer um crime eu entendi que não é apenas uma vingança é algo pior… você não quer admitir, mas é apaixonado pela filha do cara que você mais odeia.— gritei com destilando ódio em minha garganta.

—Se controle!— falou se erguendo sobre a mesa ficando frente a frente comigo.—Talvez eu sinta algo por ela, não nego. Desde que descobri que ele tinha uma filha quis testemunhar isso pessoalmente, mas quando vi que a garota era totalmente diferente dele e pura me encantei, mas mesmo que eu sinta algo isso não te diz respeito.

Meu peito arde de dor, não sei se seria pelo coração partido ou se seria pelas emoções que estão me dominando, sem hesitar dei um tapa em sua cara que o fez travar o maxilar.
Ele se vira olhando-me com raiva, a fúria em suas íris esverdeadas brilham como fogo.

—Você matou quem ela mais amava isso tudo para tê-la em suas mãos, carente e sozinha. Não duvido que daqui uns dias mate aquela velha também.— gritei no seu rosto e quando sua fúria continuava escancarada.

—Não os matei! Planejei apenas um sequestro dela,não sabia que as coisas iriam sair do controle e ele iria morrer.—
respondeu-me entre-dentes.

—Ah,você não sabia que eles iriam morrer? Então porque logo eu descobri aquelas fichas no seu quarto, dizendo que a madrinha dela é uma freira, hum? Ou me explique o porque eu achei debaixo da sua cama um panfleto de uma espécie de “reformatório” para homens problemas que poderiam seguir o caminho da fé e virar padre?

—Se você sabia disso porque não veio atrás de mim?

—Porque durante os 8 anos que você estava se empenhando para virar padre antes de planejar o “acidente” que era para matar todos eles pelo que sei. Eu não queria acreditar que você seria tão traiçoeiro, eu não consigo entender você!Você primeiro disse que queria fazer um sequestro, depois que iria matar todos eles incluindo ela e depois virou misteriosamente um padre no mesmo lugar que ela veio morar, que coincidência,né?— ironizei.

—Eu passei anos pensando em me vingar dele, tive tempo para fazer um plano A,B,C e até D se for preciso. Tudo tem que ser premeditado, tudo tem que ser calculado e sair exatamente como planejei no final.—friamente me disse e sentou-se na cadeira olhando para o chão.— Por algum motivo desejo estar perto dela,mas também desejo matá-la para vingar minha família. Quando planejei matar todos eles, não consegui aceitar que mataria ela também,então pensei que a melhor maneira era só deixá-la sobre meu domínio e aí matei apenas eles e dei um jeito dela vir para onde eu queria.— desabafou.

Eu estava em completo choque, Dean finalmente confessou que queria ficar perto daquela pirralha,mas e agora o que eu faria? Eu o ajudaria de novo e iria me ferrar por esse amor que sinto por ele e sei que não é nenhum pouco recíproco,ou,eu simplesmente iria tentar salvar a garota de um louco.

Qualquer outra pessoa escolheria a coisa certa a se fazer, a coisa sensata,mas quando você está sentindo na pele o que está acontecendo o errado às vezes parece o certo e por mais que saibamos que é errado, estamos fazendo nossas próprias escolhas e temos que aguentar a consequência. É o que eu repetia dentro da minha cabeça, para não ter medo do meu próximo passo.

A verdade é que sou mais parecida com ele do que eu imagino, porque do mesmo jeito que ele não entende porque é assim com ela… eu sou exatamente do mesmo jeito com ele. O que isso seria? Obsessão?carência? Dependência?
Meu cérebro não cansa de obter novas informações,mas sei de uma coisa. Mesmo que eu tente não consigo dar as costas a ele, no fundo tenho esperança que ele volte a ser o cara que eu conheci e não esse obcecado por essa vingança ou por essa garota.

Quando o conheci, por mais que ele soubesse de tudo que aconteceu a ele na infância, ele não lidava dessa maneira,mas depois que descobriu da filha do cara que matou sua família e o adotou ele simplesmente pirou e nunca mais foi o mesmo. É  como se uma chave da loucura tivesse virado em sua cabeça.

Meus pensamentos foram interrompidos por alguém que soltou um gritinho espantado,na parte de vidro da porta foi possível ver uma noviça olhando para nós,meus olhos estão vidrados entre Dean e a garota da porta.
Droga, essa história só fica mais embaraçosa.

Dean, rapidamente se levantou e foi abrindo a porta, a noviça corria pelo corredor rapidamente o barulho de sua sapatilha batendo no chão de madeira conseguia ser escutado mesmo que estivéssemos bem longe dela.
Eu ia atrás de Dean,mas com medo do que poderia acontecer agora do que com medo dela nos entregar. Se ela nos entregasse talvez ele desistiria disso tudo,mas se ele a alcançasse talvez as coisas ficariam piores.

Não quero ter sangue nas minhas mãos novamente, mas quando o assunto era ele tudo eu encobria debaixo do tapete e ignorava.