23| cemitério e seus segredos

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Amber Heard 

Depois de ter ficado trancada no quarto por um longo período enquanto processava a informação que sempre tive um pai e que iria morar com ele agora, porque ele estava recorrendo na justiça para me reconhecer.

Eu resolvi sair, também hoje aconteceria o enterro de Evie, e eu queria estar ali presente e me despedir dela.

O clima está tenso até mesmo o céu está nublado com um aspecto estranho é como se até o tempo entendesse que hoje não é um dia bom para as pobres noviças de dark city.

A morte de Evie mexeu com todas, não  somente pelo fato dela ser amiga de todas, mas também pela forma que aconteceu.

Carregar o caixão de alguém querido que faleceu é como estar honrando a pessoa em sua morte e eu estou aqui tentando suportar o peso não do caixão e sim do que sinto em meu coração.

Acho que sempre vou repetir a frase “eu não sei lidar com o luto” e a verdade é que acho que quase ninguém sabe lidar também. 

Sempre me perguntava quando criança porque tínhamos que passar pelo processo do desencarne e ainda não entendi o porquê desse processo, talvez se a gente ficasse para sempre na terra não teria espaço para todos ou talvez tenhamos uma missão a cumprir e depois vamos embora.

Do crente ao ateu ninguém explica esse processo de forma detalhada, cada um tem sua crença e eu tento me apegar a uma,entretanto,não consigo. Meu peito dói só de pensar na morte por isso a evito a todo custo, o problema é quando ela faz questão de esfregar que ela existe.

Nunca usei um véu preto de luto e no momento me sentia uma viúva,mas é necessário demonstrar como a perda de Evie foi abalante. Nunca vou entender a estranheza de hoje poder conversar,abraçar,tocar alguém e talvez mais tarde no mesmo dia já não poder mais.

O padre Dean, estava logo atrás,porém, seu olhar distante me fazia pensar o que ele achava da situação. Essa minha questão com ela tava começando a me deixar doida como posso me relacionar com alguém que deveria ser sagrado?

Minha cabeça rodava de estar enganando a todos, talvez enganando a mim mesma.

Dean, disse uma vez que não seria meu salvador então tenho certeza que ele será a minha ruína.

E minha ruína pode estar mais perto do que eu imagino que esteja, tudo está acontecendo na velocidade da luz como se não houvesse amanhã para acordarmos e tentar de novo, parece que só existia o hoje com escolhas difíceis que poderiam nos levar a lugares insalubres da vida.

Samantha e Maxine permaneciam uma ao lado da outra carregando também o caixão,confesso que somos terrivelmente fracas para isso.

O cemitério de uma cidade pequena é grande até demais, andando pelos corredores onde se tem várias lápides me dá aperto no coração, meus pais foram enterrados aqui e só de pensar que um dia todos estaremos assim vamos ser apenas um nome e uma foto em um lápide com pessoas que se tem memórias boas ou ruins conosco.

Posso lhe dizer que estou com crise de idade e olha que não completei ainda meus dezoito anos, acho que tudo que vem acontecendo anda mexendo com a minha cabeça talvez eu deva procurar a psicóloga também.

O caixão já estava lá em baixo em um buraco profundo a sete palmos no chão e a terra começava a ser jogada preenchendo o buraco enquanto o padre falava coisas a quais não consegue sequer entender,pois estava concentrada num pensamento profundo em minha cabeça e ao mesmo tempo um pensamento vazio e calado.

É como se eu não conseguisse descrever o que sentia,mas também não queria sentir o que estou sentindo.

Joguei uma rosa branca no caixão enquanto ainda jogavam a terra, não dava para acreditar que isso realmente estava acontecendo.

Gostaria de acreditar que estou tendo um sonho ruim e que em breve vou acordar de maneira que isso não tenha acontecido.

As meninas estavam indo embora já na frente enquanto eu andava sozinha pelo cemitério, estou procurando a cova dos meus pais. Covas geralmente têm endereços,mas não me lembro qual então estou procurando pela lápide da família.

A enorme lápide escrita “Família Heard” me fez errar algumas batidas do coração, literalmente minha vida havia virado de cabeça para baixo.

Perdi meus pais, meu namorado, minha vida normal como uma adolescente normal.

Agora sou uma espécie de futura freira -Deus que me livre,desculpe Deus,mas não quero ser freira- e uma safada? É uma safada que está fodendo com um padre. 

Sozinha olhando para as fotos deles me assusto com Dean me tocando.

—Ai quer me matar de susto? Será que não posso ficar um pouco sozinha.— confesso, estou um pouco sensibilizada e frágil.

—Só vim ver como está, sua madrinha me falou sobre o seu …pai.— sentia que ele estava me rondando de maneira bem delicada por sinal.

—Aquele homem?— sorri irônica — Não me faltam mais acontecimentos surpreendentes na minha vida considerando que aqueles que eu achava ser meus pais morreram e agora minha melhor amiga. E de repente este homem…. —suspirei.

Sentei novamente em cima de um concreto e Dean se acomodou ao meu lado, uma mania minha quando estávamos perto um do outro era olhar para meus sapatos, me confortava olhar para baixo, me deixava menos nervosa com sua presença, ele era muito imprevisível e coisas que saem do meu controle muitas vezes me assustam.

Seus dedos começaram a acariciar meus cabelos por cima do véu, ultimamente eu estava segurando em Dean todas as minhas frustrações e isso é muito perigoso depositar em alguém sentimentos de tristeza,esperança e amor.

Minha cabeça sempre pensava se daria algo para nós dois,mas logo eu tirava isso da minha cabeça. Seria impossível isso dar certo,entretanto, um pingo no fundo de meu coração gostaria que desse…

Ele não é o homem ideal que eu gostaria de ter comigo, mas não me parecia o pior também.

As carícias de Dean sempre me abalaram, me deixavam com vontade e apesar de ser errado muitas vezes não conseguia me controlar diante disso.

Sentir prazer é algo viciante, parece que naquele momento você não se lembra de dores ou quaisquer outras coisas você se concentra em deixar seu corpo chegar ao ápice.

Puxei meu véu deixando meu rosto mais à mostra e fui me aproximando dele, senti que foi para trás será se está me rejeitando?

—Você não me quer mais?—  perguntei estranhando o seu jeito.

—Lógico que quero,mas você tá bem para isso?— sua preocupação me fez rir por dentro.

Eu apenas assenti e ele me beijou devagar como se estivesse com medo, nem parecia o mesmo homem cheio de atitude que veio até mim da primeira vez.

—Sempre tive vontade de ver como era foder alguém em lugares insalubres e duvidoso, acho que você  vai me ajudar a realizar mais um de meus fetiches.— falou entre o beijo.

— Então é aqui que você costuma foder as mulheres as quais pega? Em cima de covas?Pensei que você teria muitos fetiches menos esse.

—Não tenho fetiche em foder no cemitério,mas acho que seria o melhor lugar para não sermos vistos e para você gemer a vontade porque aí vão pensar que é uma alma gritando.— não aguentei segurar o riso, por incrível que pareça em alguns momentos ele me fazia bem e esse era um deles.

QUENTE COMO O INFERNOOnde histórias criam vida. Descubra agora