Capítulo 21

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Enquanto esperava que a coragem se estabelecesse por completo em si, Aretha  sentiu um vento não muito forte passando por ela, fazendo-a arrepiar-se dos pés a cabeça, ela olhou para os lados não vendo nada que pudesse ter gerado aquele vento, aquele corredor não havia nenhuma janela, tudo ali era fechado, as paredes eram lisas pintadas com tintas caras e de bom gosto.
Uma forte sensação que por algum motivo ela achou bom, pois parecia ter abraçado-a, no entanto, não comentou com suas companheiras, pois achou que jamais entenderiam-a. Ela preferiu guardar aquela boa sensação que teve naquele momento a qual parecia ter preenchido-a de uma força igual a que  sentiu na madrugada de ter dado a luz ao seu pequeno Allary;
No mesmo momento que procurava de onde tinha vindo aquele vento, sua mente foi invadida de lembranças dela, criança correndo saltitante por aquele corredor chamando sua babá e mandando-a que seguisse logo, pois seus amiguinhos estavam a esperando na praça para brincarem, outras lembranças de seus pais mandando-a que não corresse, pois iria cair e se machucar, ela também lembrou-se das vezes que a mãe a levava para a escola e antes de o elevador chegar, a mãe abaixava para arrumar a meia que ela, “Aretha” não havia suspendido até o joelho. Com todas as lembranças chegando uma atrás de outra em sua mente como se o tempo não tivesse passado e seu país não tivesse falecidos, Aretha respeitou fundo antes de apertar a campainha e aguardar que a senhora a qual tinha falado por telefone na noite anterior e combinando de visitar o antigo apartamento, abrisse a porta. 
Logo que ela tocou a campainha, achando que a senhora ainda não estava no local, torcer os lábios mudando o peso do corpo de um pé para o outro, nervosa e abalada interiormente, já que por fora estava dando o seu melhor para parecer bem aos olhos da senhora Dulce e Chloe. 
Aretha esperava que a senhora tão simpática estivesse ali e abrisse logo aquela porta pois ela estava muito ansiosa. Logo as três do lado de fora, ouviram o som na fechadura, onde segundo depois a porta de madeira maciça envernizada de escuro, foi aberta e uma senhora baixinha do tamanho de uma criança, surgiu a frente das três que a olharam com surpresa, Aretha ainda mais já que a voz que havia ouvido ao telefone, parecia tão firme que lhe fez pensar em uma senhora de uns 50 anos bem incorporada, e em um tamanho de uma pessoa normal, não uma senhorinha que parecia ter no máximo entre 1,50 a 1,53 de altura...
— Bom dia, senhoras — cumprimentou a senhora de pé a porta, percebendo a surpresa nos olhos das três mulheres à sua frente, a qual a senhora nem ligou, pois já  estava acostumada com o espanto das pessoas ao vê-la pela primeira vez.
— O-Oi, eu sou...
— Eu sei quem a senhorita é! Tem fotos suas pela casa toda — disse dando um passo ao lado e dando passagem para Aretha adentrar.
— Mesmo tendo crescido, a senhorita não mudou nada, seu rostinho é o mesmo de quando era menina, eu me lembro bem da menina que entrava correndo pela portaria toda suada, suja da areia da praça, suas babás ficavam loucas com você! As suas babás a seguia pedindo para você não entrar no apartamento pela porta da frente para não sujar o tapete, a qual sua mãe iria achar ruim e iria reclamar com elas ao invés de brigar com você. —  contava a mulher com os olhos brilhando de emoção ao lembrar-se
— Seus pais a amavam  muito, eram o que elas sempre falavam. —  relatou a senhorinha com os olhos lacrimejados ao lembrar-se do senhor e a senhora tão bondosos a qual sempre foram educados com seu esposo ao passarem pela portaria.
Quando Aretha ouviu a mulher falar daquele jeito de seus pais sentiu saudade daquele tempo, ao passar pelo hall da entrada, ela olhou para os móveis e as paredes que mesmo tendo passado mais de uma década, tudo estava igual. As poltronas que a mãe havia mudado pouco antes de falecer estava bem conservados, passando os dedos no estofado, Aretha ouviu quando a senhora que lhe seguiu, disse:
— Eu sempre mantive uma manta cobrindo as poltronas assim como também cobri todos os móveis e quadros com lençóis e a cada quinze dias, eu vinha aqui e mudava os lençóis, limpava os móveis, passava óleo para deixá-los sempre limpos —  disse com pesar enquanto seguia o olhar de Aretha em tudo aquilo.
— O Dr. Conan sempre veio aqui, então, eu sempre mantinha tudo limpo sem poeira! Mantinha também algo na geladeira e armário,  para ele comer enquanto estivesse aqui —  falou percebendo o olhar de espanto de Aretha ao ouvir que o Dr Conan frequentava o apartamento. Ela se perguntava se a senhora Conan, também ia ali, e se sim, porque quando esteve em sua casa, a ala não a reconheceu como aquela senhorinha que ao lhe ver, logo soube quem ela era?
— A-A senhora está me dizendo que o Dr. Conan vem aqui sempre? A-Alguma vez a esposa dele veio aqui também? —  perguntou com a voz embargada quase falhando.
— Não que eu saiba, os porteiros sempre me falaram que o Dr. tinha vindo sozinho. —  relatou a senhora vendo o semblante de Aretha desfazer a testa franzida. 
— Como eu estava falando, mesmo eu deixando as coisas para ele comer, ele nem mexia em nada, ele dizia que só vinha mesmo para matar a saudade dos amigos, mandava que sempre que eu limpasse tudo, usasse a lavanda que sua mãe gostava —  comentou a senhora.
— Ele chegou até comprar o perfume que seu pai usava, quando sem querer eu deixei cair e o vidro quebrou, ele não brigou, só saiu e comprou outro e colocou no mesmo lugar, disse que era para eu borrifar umas gotinhas, antes de eu ir embora, para assim o apartamento sempre ter o cheiro de seus pais. —  expressou a mulher olhando para os pés, pois não sabia se era para falar aquelas coisas, mesmo assim, como uma boa tagarela, continuou.
— Seu quarto  também está limpo e com seu cheiro, mas parece que ele nem entrava lá, acho que ela só ficava aqui na sala mesmo, pois era o único lugar que sempre achava a manta desarrumada. Como se ele tivesse sentado ou deitado nesse sofá. —  falou passando a mão nas costas do sofá.
— Senhorita Thomsen, se a senhora não quiser mais meus serviços, aqui estão todas as chaves, mas se quiser que eu continue fazendo o que venho fazendo todos esses anos eu…
— Pode ficar com uma cópia! — disse Aretha surpreendendo a senhora Dulce e Chloe que levantaram as sobrancelhas olhando-a, pois se ela tinha decidido colocar o imóvel para alugar, por que estava deixaria uma cópia com a senhora?
— Querida, você não vai falar para ela…
— N-Não, eu resolvi deixar tudo como está! E muitas lembranças boas que eu não quero destruir assim de uma hora para outra! —  relatou pois desde que entrou naquele prédio seu coração estava apertado e depois que sentiu-se abraçada por aquele vento que inexplicadamente não sabia de onde tinha vindo, tudo em sua cabeça e coração tinha tomado outro rumo, ela ia sim, manter aquele apartamento pelo menos até decidir com mais calma o que fazer com ele.  
—  Eu preciso pensar por mais um tempinho. — falou caminhando pelo corredor na direção do seu antigo quarto. Ao abrir a porta, as lágrimas escorreram por sua face sem que ela pudesse controlá-las, pois tudo estava como ela se lembrava. Ali na porta mesmo, agachou-se cobrindo a boca com uma mão enquanto apertava em seu peito o porta retrato que havia pego no moveu na sala a qual tinha uma foto dela com os pais, ela não tinha nenhuma foto deles, já que quando tinha sido levada, estava tão arredia que praticamente foi puxada para fora, e por ser ainda tão pequena, não lembrou-se de pegar nada de seus pais.

A ÓRFÃ GRÁVIDA REJEITADA                                             Onde histórias criam vida. Descubra agora