Quarenta e oito

94 7 5
                                    

Carioca

Minha cabeça me levava para cada momento que passei com essa mulher, cada tortura feita por ela, quando me dava facadas em varias partes do corpo, quando me amarrava e batia até que eu ficasse desacordado, quando tentou me matar inúmeras vezes, mas a arma falhava.

Quando deixou uma "amiga" me drogar e me forçar a transar com ela, enquanto minha "mãe" assistia e depois me deixaram amarrado até meu pai me encontrar, eu não tinha nem 13 anos

Ela sempre dizia que tudo ia ficar bem, que aquilo me tornaria um homem forte, que as dores iriam passar.

Minha cabeça me atormenta com isso todos os dias e tudo o que mais quero é ver a cabeça dela rolando morro abaixo...

Sai de sua casa antes que fizesse uma besteira, subi o morro caminhando mermo, cheio de neurose e ódio, as lembranças não paravam por um segundo sequer

– carioca - ouço a voz de sophia assim que entro em casa, a mesma corre pra me alcançar e fico parado a esperando – me desculpa. - ela diz com os olhos lacrimejados e me abraça apertado

– você não tem culpa - digo baixo e a envolvo em meus braços, deito a cabeça sobre a sua ficando em silêncio e logo os pensamentos se afastam, me fazendo respirar fundo

– não fazia ideia que fosse tão ruim assim... - ela diz olhando em meu rosto e forço um sorriso

– você nem tinha como saber, não costumo dar espaço pra isso. - digo a soltando e me afasto indo até a cozinha, pego um copo com agua dando um gole longo, eram muitos flashs de lembrança em minha cabeça e aquilo estava me deixando maluco, minha garganta se fechou e sentia meu coração bater com muita rapidez

Eu só queria voltar naquela casa e fazer ela pagar por tudo o que fez, fazer ela se sentir um lixo como eu me sentia, queria poder comprometer a vida dela como ela fez com a minha.

Deixou uma criança ser criada por bandidos, aprendendo todos os dias a não sentir nada, a ter sede de ódio por tudo e todos, quando completei 18 anos jogaram o morro em minhas costas como um grande fardo, depois disso tive que aprender a me virar sozinho, proteger as pessoas inocentes que pagavam por meus erros

Tudo isso me fez quem sou hoje, tantas pessoas que já matei, torturei e fiz me satisfazerem à força, tudo isso tem uma porcentagem de culpa daquela desgraçada, sempre quis fazer o mundo pagar pelo que eu passei, por que não tinha como me vingar dela

Mas agora tenho a chance que sempre quis...

Sou arrancado de meus pensamentos quando sinto braços me envolverem por trás, logo sua cabeça tocou minhas costas ficando completamente em silêncio, sophia é a única que consegue tirar esses pensamentos de minha cabeça, com ela por perto me sinto tranquilo

Como se ela fosse um baseado gigante que me deixa na brisa por horas.

– quero que você fique aqui. - digo firme e ela me solta do abraço caminhando até a minha frente

– só hoje vou te obedecer, ta? Não acostuma - ela brinca me fazendo rir nasalmente – ainda to tentando entender tudo o que aconteceu, foi muita informação pra minha cabeça

– são meus demônios desde a infância, talvez antes mesmo de eu nascer já deveria ser assim. - digo e ela nega

– ninguém vem pro mundo pra sofrer, carioca. - ela responde

– talvez não, foi tudo isso que me tornou quem sou... esse merda aqui - digo rindo e a mesma me da um tapa

– você tem melhorado muito, mesmo ainda tendo às recaídas pro seu verdadeiro carioca - ela diz

– não é fácil pra mim, eu não sei lidar com muita coisa, eu sinto muita coisa que não saberia descrever... mas tenho que confessar, você tem me feito melhorar - toco em seu nariz e ela sorri de lado, seus olhos sempre brilhando mais que a própria lua

...

Dou uma tragada em meu baseado observando os crias jogando bola, estávamos no bar do zé e tinha muito muleque jogando bola bem em frente, sophia estava falando no celular um pouco mais distante de mim

– carioca, tenho que te passar uma visão - o filho do seu zé vem em minha direção e assinto fazendo gesto com a cabeça para que ele se sente, mas o mesmo nega

– manda teu papo - murmuro encarando a bunda de sophia

– o fechamento da conta da minha irmã foi entregue a você na semana passada, eu quem te entreguei, você lembra? - ele diz e desvio meus olhos de sophia, agora o encarando

– sim, e dai? - digo

– ela ta recebendo algumas mensagens no celular e outro dia um de seus vapores travou ela no beco a cobrando, não sei se você cobrou algum juro - ele diz e o encaro erguendo as sobrancelhas

– quem foi o filho da puta? - digo – cobrei porra de juro nenhum e geral sabe que sua irmã acertou a divida, quero saber quem foi o desgraçado.

– ela ta com medo, não quer falar quem é... - ele diz e passa os olhos pelas pessoas que estavam ali – mas notei que o vk tem passado muito tempo aqui no bar, muitas das vezes não compra nada.

– não quero suposições, quero certeza. - respondo seco, do que adianta supor que é o cara, meto uma bala na cara dele e depois descobrimos que era outro.

– eu posso tentar falar com ela... - ele diz e nego com a cabeça

– fica suave, eu mesmo vou fazer isso. - digo e ele assente por fim se afastando

Volto a encarar sophia que finalmente desliga o celular e vem em minha direção com uma cara não muito boa

– com quem você tanto fala? - resmungo parecendo desinteressado

– com a bianca, arthur ficou sabendo que ela ta se metendo em burrada e pediu pra eu conversar com ela. - ela diz

– você também se mete em muita burrada, por que ninguém conversou com você ainda? - debocho e ela revira os olhos – deixa a garota, ela deve saber o que é bom pra ela.

– desculpa, mas realmente não é da sua conta - ela diz seca, me pegando de surpresa

Atração perigosaOnde histórias criam vida. Descubra agora