53_ A chave

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Sasuke


Eu estava cansado.

Não fisicamente, mas havia algo no porão úmido e sombrio, no som dos gritos abafados e no cheiro metálico do sangue que penetrava até os ossos, que exauria qualquer fagulha de humanidade que eu ainda possuía.

Mas aquilo não me incomodava mais. Não depois de tanto tempo.

Estreitei os olhos para o corpo à minha frente.

O homem amarrado não passava de um resquício do que fora antes.

A pele estava pálida, coberta de feridas e cicatrizes mal curadas.

Ele havia sofrido durante mais de um mês, o suficiente para seu corpo ceder ao desespero.

O último pedido dele ecoou em minha mente, uma súplica sem palavras, uma confissão silenciosa de que já não aguentava mais.

Ele tentou arruinar uma das mulheres da minha família. Por isso, sua sentença foi justa.

Segurei o machado com firmeza e, em um movimento seco, estilhacei o crânio dele.

O som foi bruto, o estalo de ossos e carne cedendo sob a lâmina.

Senti os respingos quentes de sangue atingir meu rosto, pingando pela minha bochecha até a gola da minha blusa branca.

Não reagi.

Já havia perdido a conta de quantas vezes aquilo aconteceu.

Deixei o machado cair com um estrondo metálico no chão de concreto.

Olhei para o homem, seu corpo sem vida agora pendia nas cordas que o mantinham preso.

Só então ouvi os passos de Obito se aproximando.

Ele não disse nada no início, apenas ofereceu-me um lenço, seus olhos carregando uma mistura de repulsa e desaprovação.

— Você é nojento — murmurou ele, o tom impregnado de desgosto.

Peguei o lenço sem pressa, limpando o sangue do meu rosto com calma.

Ele me observava com aquele olhar distante, como se ainda não tivesse se acostumado com a brutalidade da nossa vida.

— Aqui embaixo... — comentei, a voz baixa enquanto continuava a passar o lenço pelo pescoço, onde mais sangue havia escorrido. — ...é torturante até para mim, que sou um Uchiha.

Um sorriso amargo curvou meus lábios.

Havia verdade naquela frase, mas também um toque de ironia.

A nossa linhagem estava destinada a essa escuridão, ou pelo menos era o que me parecia.

Eu olhei para ele, esperando a resposta que já sabia que viria.

— Você é o filho de Madara — retrucou Obito, revirando os olhos. — Não deveria ter frescura com essas coisas. Qual é a diferença? Você também mata pessoas.

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