51_ Eu te amo

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Hinata

Acordei com uma leve dor latejante na cabeça, o resquício da noite anterior, onde me deixei afogar nas bebidas, tentando, sem sucesso, esquecer o que aconteceu.

Pisquei algumas vezes, meus olhos se ajustando à luz suave que entrava pelas cortinas cerradas.

Meu quarto, amplo e luxuoso, parecia vazio, opressor, como se o silêncio gritasse nas paredes.

Suspirei, o som ecoando no ambiente.

Levantei devagar, o corpo ainda mole do cansaço, e caminhei até a imensa janela de vidro que dominava uma das paredes.

Com um gesto lento e quase automático, afastei as cortinas pesadas, permitindo que a luz do dia preenchesse o quarto.

A paisagem lá fora era deslumbrante, como sempre, mas senti uma espécie de vazio ao olhar.

O horizonte perfeito, as árvores balançando ao vento, o jardim imaculado, tudo parecia distante, inalcançável, como uma cena de um sonho do qual eu não fazia mais parte.

Suspirei novamente, mais profundo desta vez, como se o peso no meu peito estivesse se acumulando.

Me afastei da janela e caminhei até o banheiro. Tomei um banho rápido, a água morna escorrendo sobre minha pele como uma tentativa de lavar os pensamentos perturbadores que não cessavam.

Depois de me secar, me vesti sem pressa, escolhendo um vestido branco justo que moldava meu corpo, quase como uma segunda pele.

Completei o visual com botas brancas que me davam um ar de confiança.

Fiz um penteado simples, meus longos cabelos caindo suavemente sobre meus ombros, e apliquei uma maquiagem leve, o suficiente para esconder os traços de exaustão, mas sem exageros.

O espelho me devolvia uma imagem de calma e controle, uma fachada que eu vinha praticando há tempos.

Quando desci as escadas, o eco dos meus passos preenchia o ambiente vazio.

Cada degrau que eu tocava parecia mais pesado que o anterior, e, ao chegar à sala principal, ergui uma sobrancelha ao ouvir vozes que se erguiam num tom agudo, quase desesperado.

Marta, minha fiel empregada, estava discutindo, aos gritos, com alguém.

A cena era estranha, um contraste perturbador com a quietude habitual da casa.

Franzi o cenho, confusa, enquanto meus olhos seguiam até a figura que se encontrava de costas, encarando o imenso quadro de pintura que adornava a sala.

A presença dele, mesmo sem vê-lo completamente, já emanava uma tensão que eu não podia ignorar.

Algo no ar mudava, se tornava mais denso, mais pesado, e eu senti um arrepio sutil percorrer minha espinha.

Quem é...?

Pensei, mas antes que pudesse formular a pergunta em voz alta, terminei de descer os últimos degraus e chamei, a voz carregada de autoridade, mas também de incerteza.

— Marta, o que está acontecendo aqui?

Ela se virou para mim, os olhos arregalados, o rosto pálido de preocupação.

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