Capítulo 14

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Jin-Ah

Quando Hoseok finalmente saiu da sala, era como se meu pulmão tivesse recuperado o ar. Eu não estava desconfortável com ele, longe disso. O que senti foi algo diferente... uma mistura de carinho, de excitação. Ele tinha essa presença que, ao mesmo tempo que me deixava ansiosa, também me acalmava de uma maneira que eu não conseguia explicar.

Respirei fundo algumas vezes, tentando controlar o batimento acelerado do meu coração. Precisava me concentrar, organizar as coisas para quando ele voltasse. O show já estava começando, e meu trabalho ainda não tinha acabado.

Entre algumas músicas, ele voltava ao camarim para se trocar. Cada vez que ele cruzava a porta, parecia trazer uma nova energia com ele. O ambiente vibrava. Eu retocava sua maquiagem em questão de minutos, enquanto ele trocava de roupa atrás das cortinas. O cabeleireiro ajustava o cabelo, a equipe ao redor se movia com precisão e rapidez. Tudo acontecia em uma coreografia perfeita, como um balé ensaiado inúmeras vezes.

A cada troca, eu me concentrava no trabalho. Pinceladas rápidas, um toque leve no corretivo, uma olhada cuidadosa no rosto dele para garantir que tudo estava perfeito. Mas era difícil manter o foco. Havia algo na maneira como ele me olhava, nas poucas palavras que trocávamos... algo que fazia meu coração acelerar um pouco mais do que deveria.

O show durou uma hora e meia, e quando finalmente terminou, Hoseok voltou para o camarim. Ele entrou com o corpo ainda suado e a respiração pesada do esforço. Apesar do cansaço evidente, ele parecia revigorado, como se o palco o tivesse alimentado de uma energia que só ele conhecia.

— Foi incrível. Você mandou muito bem hoje. — eu disse, sem saber ao certo como iniciar a conversa. Era sempre estranho depois de vê-lo no palco, quase como se a versão dele no camarim fosse uma pessoa completamente diferente.

— Obrigado. — respondeu ele, sorrindo enquanto sentava na cadeira. — Agora vou precisar de sua ajuda para tirar isso tudo. — disse, apontando para o rosto, referindo-se à maquiagem.

Eu comecei a remover cuidadosamente a maquiagem dele, os dois em silêncio, mas o ambiente estava longe de ser desconfortável. Eu podia sentir a proximidade entre nós crescendo a cada segundo.

Enquanto passava o algodão com demaquilante suavemente pelo rosto dele, Hoseok começou a falar, dessa vez com um tom mais casual e curioso.

— Qual curso você faz mesmo? — perguntou, a voz baixa e suave, como se estivesse genuinamente interessado.

Eu sorri, levemente surpresa com a pergunta.

— Estudo direito. — respondi, focada em limpar o rosto dele, mas sem perder o ritmo da conversa.

— Interessante. E por que escolheu isso?

Eu pensei por um momento, gostando do fato de ele querer saber mais.

— Minha mãe era advogada, e eu sempre quis seguir o exemplo dela. Mas, para ser sincera, não quero advogar. Quero lecionar, fazer um mestrado, quem sabe doutorado. Gosto mais da parte acadêmica. — falei, ainda concentrada no meu trabalho, mas já começando a me perguntar o porquê de tanto interesse.

— Faz sentido. — ele respondeu, como se estivesse refletindo sobre minha resposta. — E você é de Seul mesmo?

— Não, sou de Busan. Meu pai ainda mora lá, na verdade. — apontei.

— E você vai mudar para um dos prédios da nossa empresa? Ou vai continuar por conta própria? — Hoseok me olhou pelo espelho, o interesse em seu olhar ainda mais evidente agora.

Minha mão hesitou por um momento. Eu não esperava tanta curiosidade.

— Ainda não sei. Talvez...na verdade eu pretendo me mudar sim, a verdade é que o apartamento onde fico só é conveniente por que é perto da faculdade e eu estou sem transporte, mas não é lá muita coisa. — respondi, sem me comprometer demais. — Mas, ainda estou decidindo.

— E o carro? Ainda não está com ele? — ele perguntou em seguida, rindo como se soubesse algo que eu não sabia.

Eu ri também, sem saber exatamente onde ele queria chegar.

— Ainda não. Acabei de iniciar aqui, então ainda estou me organizando, e parece que tem umas papeladas pra acertar. — disse tentando explicar.— Mas, e você, por que tantas perguntas? Está fazendo uma entrevista de emprego comigo de novo? — tentei brincar, mas não pude evitar a curiosidade crescente.

Ele riu, um pouco envergonhado, e olhou para o chão por um segundo antes de levantar os olhos para mim novamente.

— Talvez eu só esteja interessado em conhecer melhor quem está trabalhando comigo...— disse ele, sorrindo de um jeito que fez meu coração disparar.

Meu rosto esquentou. Não sabia o que responder, então continuei focada em remover a maquiagem dele. Mas então, ele fez a pergunta que eu não esperava.

— Por que você deixou seu Instagram privado? — perguntou ele, casualmente, mas com um olhar curioso.

Eu parei por um segundo, surpresa.

— Como você sabe disso? — perguntei, olhando diretamente para ele.

Hoseok olhou para o chão de novo, dessa vez mais envergonhado, antes de responder.

— Eu... tentei vê-lo novamente. — confessou, com um sorriso tímido.

Eu não pude deixar de rir um pouco. Estava surpresa, mas também lisonjeada.

— Bem, eu fiquei um pouco constrangida... não vou mentir para você. — comecei a explicar, sentindo o calor subir até meu rosto. — Meu perfil tem muito sobre mim, e é tudo tão simples, pacato... não que eu queira te impressionar, claro. — tentei corrigir rapidamente o que parecia uma tentativa desesperada de explicação.

Hoseok riu com sinceridade, o que me deixou ainda mais à vontade.

— Eu sei que você não se impressionaria com nada assim. — continuei, ainda um pouco embaraçada. — Deve ter muitas fãs tentando te impressionar todos os dias.

Ele me olhou por alguns segundos, mais sério agora.

— Não te vejo como uma fã, Jin-Ah. — disse ele, com um tom que me pegou completamente de surpresa.

Eu o encarei, confusa.

— Como assim?

Hoseok se inclinou um pouco mais na cadeira, seu olhar mais suave agora, mas cheio de intenções ocultas.

— Você é especial, quase como uma amiga, não? Já nos encontramos tantas vezes, e agora nos veremos com muito mais frequência. Você vai se acostumar comigo, igual a todos aqui. E quem sabe... até verá meus defeitos. — ele sorriu, de um jeito que parecia algo mais.

Eu sorri de volta, mas por dentro, sentia uma confusão de emoções.

— Não sei se vou conseguir me acostumar com você... — disse, meio brincando, meio honesta, sem saber como processar o que estava acontecendo.

Ele riu, mas dessa vez seus olhos não deixaram os meus.

— Acho que vai. — respondeu ele, com uma confiança que me deixou sem palavras.

O clima entre nós ficou leve, mas havia uma tensão ali, algo não dito, algo que estava se desenvolvendo, e eu não sabia ao certo para onde aquilo iria nos levar. Mas uma coisa era certa: eu não conseguia mais ignorar essa presença dele na minha vida.

A Luz na Escuridão (J-HOPE)Onde histórias criam vida. Descubra agora