Computador

986 53 4
                                    


Camila.

-Mãe eu volto logo, prometo não demorar. - digo apressada pegando meu casaco que estava pendurado na arara ao lado da porta.

-Camila minha filha, já está tarde e é perigoso a essa hora.

Mamãe sempre foi muito protetora comigo e eu precisava ir na casa de Dinah pegar o notebook dela emprestado para conseguir terminar um trabalhado da faculdade e minha mãe como sempre, acha que existe perigo nisso.

-Mãe, a Dinah mora a um quarteirão apenas mamãe. Deixe disso! -Digo indo até ela que estava deitada no sofá, já depositando um beijo em sua bochecha. -Vou rapidinho. Vapiti e vupit.

Mamãe balançou a cabeça em descordancia e eu sai em passos apressados em direção a porta. Nos mudamos pra Cape May, Nova Jersey a mais ou menos 6 meses. Papai conseguiu uma promoção no trabalho e tivemos que nos mudar pra cá a onde fica a nova empresa. Meu pai trabalha a 7 anos como mecânico de aviões e sempre amou de paixão o seu trabalho e o que faz. Cape May é uma cidade bem tranquila e estou gostando de morar aqui por mais que minha mãe fique com paranóias dizendo que não podemos confiar em ninguém daqui pois não sabemos as intenções de cada um. Por um lado eu concordo, mas por outro nem tanto. Quem diz que em Nova Jersey terá um serial killer ou coisa do tipo? Mamãe é muito sistemática as vezes.

-Dinah!! -Grito olhando para janela do quarto de Dinah esperando que ela desça e abra a porta pra mim já que a mesma pediu para que eu não tocasse a campainha.

-Mila!! Eu disse pra não gritar, meus pais já estão dormindo sua tonhona. -Ela diz em sussurros da janela de seu quarto.

Dou risada e corro em direção a porta esperando que ela abra. Ela disse para não apertar a campainha, não lembro sobre não gritar.

-Toma. -Me entrega o computador com uma carranca. -E não deixa seu cachorro pulguento chegar perto dele, viu?

-Ai Dinah, não fale assim do Oliver! Ele é um amor. -Repreendo a mesma enquanto pega o computador de sua mão. -Ele não quebrou o meu porque quis!

-Imagina. -Dina revira os olhos. -Agora eu preciso ir. Está tarde e amanhã eu acordo cedo pra abrir a cafeteria junto com minha mãe.

-Vai lá, desculpa te encher a essa hora. -Digo já em passos me afastando de seu gramado.

-Beijos bunduda. -Dinah diz com um tom sapeca na voz e logo fecha a porta.

Eu e Dinah somos como carne e unha. Nos conhecemos quando me mudei pra cá. Seus pais como uma maneira de desejar boas vindas pra mim e minha família, nos convidou para um almoço e desde então não nos desgrudamos mais.

Quando eu já estava virando a esquina de casa, perdida em meus pensamentos escuto passos atrás de mim e rapidamente viro minha cabeça para olhar.

-Fica calada, se você gritar eu juro que te mato aqui mesmo. -O homem de cabelos escuros me segurou pelos cabelos e sussurrou em meu ouvido.

Nesse momento senti meu coração pular pela boca e o medo me consumir ao mesmo tempo que sentia ele encostando a arma em minha cintura e empurrando a mesma sobre mim.

Eu nunca pensei que esse tipo de coisa fosse acontecer comigo. Na verdade, quem pensa?

Minhas mãos tremem, mas não ouso mexer um músculo do meu corpo. Meu coração bate tão rápido que sinto cada pulsar ecoar pelos meus ouvidos como se quisesse saltar do meu peito e fugir de mim. E se ele me matar? E se ele fizer pior que isso? Me estrupar?

O medo era constante e eu nem conseguia reagir.

-Passa o celular. -A voz dele soa distante, quase abafada. Minhas pernas estão rígidas, como se tivessem fincadas no chão. Não consigo pensar direito e juro que estou a um passo de fazer xixi na roupa a qualquer instante.

Eu tento falar, mas minha boca está seca e eu sinto o suor escorrer pelas minhas costas.

Lentamente e tremendo, eu alcanço o bolso do meu casaco. Meus dedos mal conseguem segurar o celular de tão duros.

Por um instante pensei em não entregar o celular. Será que ele sabe que minha mãe ao menos terminou de pagar o pobre celularzinho?

-Anda ou eu vou atirar em você sua puta. -Ele diz pressionando a arma em minha cintura cada vez mais e sussurrando ríspido.

-Toma, toma. -Entrego o celular como se estivesse encostando em uma barata nojenta e asquerosa. Não me culpe, o medo que estou sentindo no momento me parece com isso.

Ele arranca o computador de Dinah em minhas mãos junto com o celular e me empurra pra frente. Dou uma leve cambaleada e ele sai correndo na direção oposta da rua e eu faço o mesmo, porém correndo em direção a minha casa com um medo que não me cabe.

—————

-Camila, pelo amor de Deus! -Mal terminei de explicar a situação e a voz da minha mãe já explodiu no ar, uma mistura de bronca e desespero. -O que você estava pensando? Eu te disse que não era seguro sair a essa hora da noite sozinha!

Ela vem na minha direção, os passos apressados, os olhos arregalados de pura preocupação. Eu tento dizer alguma coisa, mas as palavras ficam presas na minha garganta. Minhas mãos ainda estão trêmulas, e tudo o que eu quero é ir pro meu quarto e me enfiar debaixo das cobertas. Não sei se fico apavorada por ter sido assaltada e ter uma arma apontada rente a mim ou por perder o meu celular e o computador de Dinah. Acho que os dois.

-Você tem noção do que podia ter acontecido? -Ela continua, sem me dar tempo de responder. -Você foi assaltada, Camila! E se ele tivesse feito alguma coisa pior? E se você não tivesse voltado pra casa? Eu... eu não sei o que faria!

Os olhos dela brilham, como se as lágrimas estivessem prontas para cair a qualquer momento. E é aí que eu percebo que a bronca não é só raiva. Tem medo. Muito medo.

-Eu já te disse mil vezes, Camila! Não é seguro sair sozinha à noite! Quantas notícias você já viu sobre isso? Eu falo, falo, e parece que você não me escuta!

Eu sei o quão superprotetora minha mãe pode ser e sei que sua reação perante a isso não é de menos.

-Mãe, eu... desculpa. -Minha voz sai fraca, quase um sussurro. -Eu não pensei que... Eu não pensei que algo assim ia acontecer, olha a cidade que moramos.

Ela passa a mão pelo rosto, frustrada, e respira fundo.

-É claro que você não pensou. Você nunca pensa, Camila. Você acha que o mundo é seguro, que essas coisas não acontecem com você. Mas a realidade é outra.

O silêncio pesa por alguns segundos. Ela se aproxima devagar, mais calma agora, e coloca as mãos nos meus ombros.

-Eu não estou com raiva de você. Estou com medo. Medo de que um dia você saia e não volte. E não há nada que eu possa fazer sobre isso além de te avisar e te proteger o quanto eu posso.

Seus dedos apertam meus ombros levemente, como se quisesse me passar segurança.

-Nós iremos denunciar! Me espere aqui que irei buscar um casaco e avisar seu pai pelo telefone. -Corre em direção às escadas sem nem me dar chance de protestar.

ENTRE A LEI E O CORAÇÃO. -CAMREN G!POnde histórias criam vida. Descubra agora