Formalidades Necessárias

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Camila.

A delegacia era menor do que eu imaginava. As cadeiras de plástico eram desconfortáveis, e o som da TV na recepção misturado com o barulho de teclados e conversas me dava uma leve dor de cabeça. Minha mãe estava sentada ao meu lado, batendo o pé no chão, impaciente me deixando mais ansiosa ainda.

-Você está bem? Ele não te machucou, não é? -Ela pergunta de novo, pela terceira vez desde que saímos de casa.

-Sim, mãe. Eu já disse que estou. -Não é uma mentira completa. Eu estou bem... ou, pelo menos, mais tranquila do que a alguns minutos atrás. Só quero que isso acabe logo para poder voltar pra casa, eu nem ao menos tenho meu celular pra me tirar do tédio que é essa delegacia.

Finalmente, depois de alguns minutos de espera, um policial alto e careca aparece na porta de uma das salas e nos chama. Levantamos e o seguimos até sua mesa. Ele parece simpático, apesar do ambiente.

-Boa noite, senhoras. Vamos registrar o ocorrido, tudo bem?

Eu aceno, e minha mãe também. Ela senta ao meu lado, me lançando um olhar como quem diz "conte tudo e não esconda nada". A olho pedindo com o olhar para que ela relaxasse.

-Então, Camila, me conta o que aconteceu. O policial pega um bloco de notas e se inclina um pouco na minha direção.

O policial começa a perguntar, mas antes que eu possa responder, a porta se abre e uma mulher entra na sala. Ela veste um uniforme que cai perfeitamente no seu corpo, o cabelo preso em um rabo de cavalo baixo e alguns fios soltos emoldurando seu rosto. Sua postura é confiante, quase despreocupada, mas os olhos esverdeados são sérios e atentos.

-Pode deixar, eu assumo daqui Mendes, seu turno já encerrou. -A voz dela é firme, mas ao mesmo tempo suave, cheia de autoridade. O policial se levanta rapidamente, como se estivesse habituado a esse tipo de interrupção, e sai da sala com um aceno de cabeça.

Eu tento não encará-la, mas é impossível não reparar nela. Ela é simplesmente muito bonita. Não do tipo de beleza exagerada, mas natural, simples. Tem algo nos seus olhos verdes, na maneira como ela anda e fala que faz parecer que está no controle de tudo. Fico sem jeito, mas tento disfarçar.

-Desculpe a intromissão. -ela diz, sentando na cadeira e olhando diretamente para mim com um meio sorriso. -Sou a delegada Lauren. Vou cuidar do seu caso agora.

Minha mãe responde antes que eu possa abrir a boca.

-Claro, delegada. Obrigada.

Lauren coloca uma ficha na sua frente, pega uma caneta em um porta canetas em cima da mesa e volta a olhar para mim.

-Camila, certo?! -Ela pergunta em um tom mais de afirmação do que pergunta.

Eu ia responder, mas minha mãe se adiantou.

-Sim, delegada, minha filha foi assaltada! Eu estou tão preocupada! Ela nunca devia ter saído sozinha! E se algo pior tivesse acontecido? Eu te avisei Camila! -Ela me olha me repreendendo e eu me esforço para não revirar os olhos com tamanho exagero dela.

Ela está tão assustada que até parece que quem foi assaltada foi ela e não eu.

Eu abri a boca para dizer algo, mas Lauren já olhava calmamente para minha mãe, com a expressão profissional e controlada.

-Senhora, eu entendo sua preocupação, mas para podermos avançar com o relato, preciso que Camila nos conte o que aconteceu. Isso vai nos ajudar a entender melhor a situação. -Ela diz profissional.

-Claro, claro. -minha mãe disse, balançando a cabeça, mas não pareceu capaz de ficar em silêncio por muito tempo.

-Mas vocês vão conseguir rastrear o celular dela? E o assaltante? Ele deve estar por aí roubando outras jovens inocentes, ele não pode ficar solto! Fora o computador da Dinah, coitadinha!

ENTRE A LEI E O CORAÇÃO. -CAMREN G!POnde histórias criam vida. Descubra agora