Capítulo 6: Linhas Cruzadas

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CLARA MARTINS

Desde o dia em que tudo mudou entre mim e Nicolas, o ar ao nosso redor parecia mais denso, mais carregado. Cada troca de olhar, cada pequeno gesto, trazia consigo uma corrente invisível de tensão. Eu tentava manter o foco, ser a profissional eficiente que sempre fui, mas, no fundo, uma parte de mim já sabia: havia uma linha tênue que havíamos cruzado.

Hoje, mais uma vez, estávamos sozinhos no escritório. O silêncio era quase ensurdecedor, e, apesar da pilha de contratos que eu deveria revisar, minha mente estava a mil. Cada pequeno som parecia amplificado — o leve bater de seus dedos no teclado, o ranger de sua cadeira quando ele se movia, a respiração calma que de alguma forma eu conseguia ouvir de onde estava. Era uma tortura silenciosa.

Tentei ignorar, mas minha mente insistia em voltar àquele beijo. A sensação dos lábios de Nicolas nos meus, o calor que percorreu meu corpo como uma onda, ainda estava fresca na memória. E o pior de tudo: a sensação de que aquilo não era o fim, mas o início de algo que eu não sabia como controlar.

— Clara? — A voz dele me fez estremecer.

Levantei os olhos, sendo capturada instantaneamente pelo seu olhar firme e intenso. Havia algo nos olhos de Nicolas que me fazia sentir exposta, como se ele pudesse ver cada pensamento que eu tentava esconder.

— Sim? — perguntei, tentando manter a voz firme.

Ele hesitou por um segundo, uma expressão séria se formando em seu rosto. Aquele era o Nicolas que eu conhecia: sempre direto, sempre no controle. Mas havia algo diferente hoje. Um leve desconforto, como se ele também estivesse lutando com os próprios sentimentos.

— Precisamos falar sobre o que aconteceu — disse ele, sem rodeios.

Meu coração deu um salto. Claro, era óbvio que isso iria acontecer eventualmente. Eu apenas não esperava que fosse tão cedo, nem sabia como abordar o assunto.

— Nicolas, eu... — comecei, mas ele levantou a mão, indicando que queria falar primeiro.

— Eu não costumo deixar isso acontecer. — Ele respirou fundo, como se estivesse ponderando suas palavras. — Nunca misturo negócios com... emoções. Mas não posso fingir que não existe algo entre nós.

Meu peito se apertou. Era difícil ouvir aquilo, porque, em parte, eu sentia o mesmo. Havia algo entre nós, algo inegável, que parecia crescer a cada dia. Mas ainda assim, eu tinha que ser realista.

— Eu também não sei o que fazer com isso — confessei, minha voz soando mais vulnerável do que eu gostaria. — Mas precisamos lembrar quem somos. Você é meu chefe. E... eu não quero perder isso. Meu trabalho aqui significa muito para mim.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, me observando. Nicolas sempre foi difícil de ler, mas naquele momento, eu vi um lampejo de algo que parecia uma mistura de frustração e... desejo.

— Clara — ele disse, dando um passo à frente, diminuindo a distância entre nós —, eu entendo sua preocupação. Mas você precisa entender algo: eu não sou um homem que desiste facilmente do que quer. E, no momento, tudo que eu quero... é você.

Senti o chão sumir sob meus pés. Era a primeira vez que ele falava com tanta clareza sobre o que estava acontecendo entre nós. Havia uma intensidade no ar, uma energia que parecia vibrar no espaço reduzido entre nossos corpos.

— Eu... eu não sei se estou pronta para isso — sussurrei, tentando reunir forças para manter a cabeça no lugar. — Isso é complicado.

— Muitas coisas na vida são complicadas — ele respondeu, sua voz baixa, quase rouca. — Mas isso aqui... — Ele estendeu a mão, segurando meu pulso com firmeza, mas de forma gentil. — Isso que está acontecendo entre nós... não dá para ignorar.

O toque dele me fez perder a noção de tudo ao redor. O calor subiu pelo meu braço, espalhando-se pelo meu corpo como uma corrente elétrica. Eu deveria recuar, deveria ser mais firme. Mas, no fundo, algo em mim queria aquilo. Queria ver até onde essa tensão nos levaria.

— Nicolas... — comecei, mas ele se aproximou ainda mais, seus dedos ainda em meu pulso, o olhar fixo nos meus.

— Você sente isso também, não sente? — ele murmurou, seus olhos escuros, hipnotizantes. — Essa coisa entre nós, Clara... é real.

Eu não consegui responder. A única coisa que meu corpo parecia capaz de fazer era ceder àquela proximidade perigosa. Meu coração batia rápido, minha respiração estava irregular, e quando ele deu mais um passo, nossos rostos ficaram a centímetros de distância. Pude sentir sua respiração contra minha pele, e a tensão aumentou de uma forma quase insuportável.

Então, sem pensar, deixei meus olhos fecharem por um breve momento, um gesto de rendição silenciosa. E foi o suficiente.

Nicolas se inclinou, e seus lábios tocaram os meus mais uma vez, dessa vez com mais urgência. Não havia hesitação agora, apenas o desejo de finalmente romper a barreira que estava entre nós. O beijo era quente, profundo, e eu me vi cedendo completamente àquela sensação.

Minhas mãos subiram automaticamente até seus ombros, e ele me puxou para mais perto, intensificando o contato. Era como se todo o controle que ele sempre exercera sobre sua vida estivesse se esvaindo ali, naquele momento, enquanto suas mãos exploravam minha cintura com firmeza.

Quando nos separamos, ainda ofegantes, o olhar dele encontrou o meu com uma intensidade que quase me fez tremer. Ele estava vulnerável. Pela primeira vez, eu via Nicolas Arantes, o bilionário controlador, sem suas defesas. E naquele momento, eu soube que estávamos em território desconhecido.

— Isso vai mudar tudo — sussurrei, ainda sem fôlego.

— Sim, vai — ele respondeu, sem um pingo de dúvida em sua voz. — Mas talvez seja exatamente disso que a gente precisa.

E, por mais assustador que fosse, eu sabia que ele tinha razão.

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