Capítulo 15: Reflexões e Fantasmas do Passado

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NICOLAS ARANTES

A noite estava quieta, e a mansão, com seus vastos corredores e salões vazios, parecia ainda mais solitária do que de costume. O silêncio pesado só acentuava o barulho dos meus próprios pensamentos. De pé na varanda do meu quarto, olhando para o céu estrelado, tentei afastar as memórias que teimavam em me assombrar.

Juliana.

Não importava o quanto eu tentasse seguir em frente, o nome dela sempre surgia nos momentos mais inoportunos. E agora, quando tudo começava a mudar entre mim e Clara, o passado voltava com mais força, ameaçando me engolir.

Clara... Ah, Clara. Ela era diferente de todas as outras mulheres que já conheci. Havia uma leveza nela, uma autenticidade que me desarmava a cada dia. Eu podia sentir que algo estava crescendo entre nós, algo que talvez eu não estivesse pronto para lidar.

Mas era justamente essa leveza que me apavorava. Com Juliana, as coisas tinham sido intensas desde o início. Uma paixão avassaladora que, no fim, só trouxe destruição. Eu ainda podia lembrar das brigas, das mentiras e, principalmente, da dor de descobrir quem ela realmente era. No fundo, era esse medo que me impedia de mergulhar de cabeça no que estava começando com Clara.

Senti um arrepio passar por mim, e não era por causa do vento frio que soprava. Era o peso da incerteza.

— Não posso deixar isso acontecer de novo — murmurei para mim mesmo, apertando as mãos na grade da varanda.

Fechei os olhos, tentando afastar a imagem de Juliana. Eu sabia que ela não tinha voltado apenas para fazer negócios. Ela queria mais. Queria me lembrar de quem eu era com ela, da pessoa que me tornei naqueles anos. Mas eu não podia permitir que o passado interferisse no que eu tinha agora.

Dei um passo para trás, voltando para dentro do quarto. As luzes suaves iluminavam o espaço de forma quase melancólica. A mansão, por maior e mais luxuosa que fosse, sempre me parecia vazia. E agora, depois de ter compartilhado momentos com Clara, ela parecia mais vazia do que nunca.

Peguei o celular no bolso e pensei em ligar para Clara. Ela estava longe, cuidando do pai. Uma parte de mim queria estar lá com ela, queria apoiá-la, mas outra parte, a parte que sempre duvidava de mim mesmo, me dizia que talvez fosse melhor dar espaço.

Mas, por mais que tentasse, não conseguia evitar pensar nela. Seus olhos, seu sorriso, a forma como ela me olhava, como se visse algo em mim que nem eu mesmo via. E era isso que me deixava ainda mais confuso. Eu não queria estragar tudo. Não com Clara. Mas o que eu poderia oferecer a ela? Alguém com o passado que eu tinha?

Fui interrompido pelos passos firmes de minha mãe no corredor. Ela nunca batia na porta antes de entrar, e hoje não foi diferente.

— Nicolas, você está aí? — Sua voz ecoou pela sala antes que ela surgisse à porta. Com um olhar decidido, ela entrou e se sentou no sofá, sem esperar um convite.

— Mãe, o que você está fazendo aqui a essa hora? — Perguntei, já sabendo que ela tinha algo em mente.

Ela me olhou por um momento, seus olhos azuis tão firmes quanto sempre foram, mas com uma suavidade que só uma mãe poderia ter.

— Eu vim porque te conheço, Nicolas. Sei que você está passando por algo. Achei que poderia precisar de mim.

Suspirei, me sentando ao lado dela no sofá. Mesmo sendo um homem feito, as palavras de minha mãe sempre me atingiam com precisão. Ela conhecia minhas fraquezas, minhas lutas. E, mesmo quando eu tentava esconder, ela sabia quando algo não estava certo.

— Não é nada, mãe. Eu só... estou pensando em algumas coisas.

Ela deu uma risada curta, balançando a cabeça.

— Pensando, ou se torturando com o passado?

Não respondi de imediato. Ela sabia exatamente o que se passava na minha cabeça. Sabia o quanto o fantasma de Juliana ainda rondava minhas decisões, e o quanto eu temia repetir os mesmos erros.

— Clara... ela é diferente, mãe. Mas, ao mesmo tempo, eu não consigo evitar essas dúvidas. E Juliana... ela voltou.

Os olhos da minha mãe se estreitaram levemente.

— Voltar? Como assim? Ela quer alguma coisa de você?

Balancei a cabeça, tentando não dar importância ao que já suspeitava.

— Eu não sei. Talvez. Ela sempre teve essa capacidade de me deixar confuso. Mas eu não quero cair nas mesmas armadilhas.

Ela ficou em silêncio por um momento, analisando cada palavra que eu dizia.

— E o que você quer, Nicolas? De verdade?

Fechei os olhos por um instante, sentindo o peso da pergunta. Eu sabia a resposta, mas, ao mesmo tempo, admiti-la parecia assustador.

— Eu quero... Clara. Mas não sei se sou capaz de dar a ela o que ela merece.

Minha mãe tocou minha mão, com aquele gesto carinhoso que sempre me fazia voltar à realidade.

— Se você já sabe o que quer, o próximo passo é lutar por isso. Não deixe que o passado te defina, meu filho. O amor verdadeiro... ele só acontece quando estamos dispostos a nos abrir, mesmo que isso signifique nos machucarmos.

As palavras dela ecoaram dentro de mim, despertando algo que eu não queria encarar. Eu estava com medo. Medo de me machucar, medo de machucar Clara. Mas, acima de tudo, medo de que o passado com Juliana pudesse estragar algo que, pela primeira vez em anos, parecia real.

— Talvez você tenha razão, mãe. — Respirei fundo, olhando para ela. — Talvez seja hora de deixar o passado onde ele pertence.

Ela sorriu, aquele sorriso suave que sempre me confortava.

— Eu sei que você vai fazer a coisa certa, Nicolas. Apenas siga o seu coração.

Minha mãe se levantou, me dando um beijo na testa antes de sair da sala, me deixando novamente sozinho com meus pensamentos. Mas, dessa vez, o silêncio parecia menos opressor. Eu ainda tinha dúvidas, mas, pelo menos agora, sabia o que precisava fazer.

Peguei o celular de novo, pensando em Clara. Sabia que nossa história estava apenas começando, e que muitos desafios viriam. Mas, com ela, eu estava disposto a enfrentar o que fosse necessário.

E, dessa vez, eu não deixaria que fantasmas do passado interferissem no que poderia ser um futuro promissor.

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