Capítulo 25: O Orgulho de Clara

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CLARA MARTINS

Eu estava em meu quarto, deitada na cama, com os olhos fixos no teto, tentando afastar os pensamentos que me invadiam. O que vi naquela sala de escritório ainda me assombrava: a imagem de Juliana tão próxima de Nicolas... Era uma traição silenciosa, mesmo que eles não tivessem se tocado. Mas a proximidade deles falou mais alto que qualquer explicação que ele pudesse me dar. Eu não estava pronta para ouvir.

Ana entrou no quarto, trazendo consigo a habitual energia otimista. Ela sentou-se ao meu lado, como sempre fazia quando percebia que eu estava em conflito.

— Clara, o Nicolas tem tentado falar com você. Ele te ligou várias vezes hoje. — Ana comentou, sua voz carregando uma leve preocupação. Ela sabia o quanto aquele assunto me afetava.

Eu revirei os olhos, sem nem ao menos disfarçar o incômodo.

— Eu não quero falar com ele, Ana. Ele já teve a chance de me explicar e não fez. Por que eu deveria dar ouvidos agora? — minha voz saiu fria, mas no fundo, eu sabia que estava me protegendo.

Ana suspirou, balançando a cabeça levemente. Ela sempre fora mais empática, mais disposta a dar segundas chances.

— Você sabe que está agindo por orgulho, não sabe? — sua pergunta foi direta, quase cortante.

Me sentei na cama, abraçando minhas pernas. Ana estava certa, mas eu não queria admitir.

— Não é orgulho. É... é autodefesa. Eu não quero me machucar de novo. Eu vi com meus próprios olhos, Ana. Como você pode me pedir para ouvir o que ele tem a dizer? — minha voz tremia um pouco, traindo a fachada de dureza que eu tentava manter.

— Clara, às vezes as coisas não são o que parecem. Ele estava com Juliana, sim, mas você não deu a ele a chance de se explicar. — Ana insistiu, me olhando com seus olhos sinceros. — O que você viu pode ter sido mal interpretado. Você sabe como as coisas podem ser complicadas com ela.

Eu sabia que Ana estava apenas tentando ajudar, mas aquilo mexia comigo de uma forma que nem ela conseguia entender. O medo de ser traída, de confiar novamente e acabar quebrada... Era algo que eu não conseguia suportar.

— Eu sei disso, Ana, mas... e se for verdade? E se ele estiver me enganando como Juliana sempre fez com ele? Eu não sou como ela, não vou jogar esses joguinhos. — minha voz estava baixa, mas firme.

— Então, pelo menos, deixe ele falar. — Ana cruzou os braços, determinada a não desistir. — Se for verdade, você vai saber. Mas se não for, você estará perdendo a chance de consertar algo que pode ser incrível. Você sempre disse que ele era diferente.

O silêncio pairou entre nós. As palavras dela ecoavam na minha mente. Talvez ela tivesse razão, talvez eu estivesse deixando meu orgulho e medo falarem mais alto. Mas isso não fazia a dor desaparecer.

— Vou pensar, Ana... — respondi, quase num sussurro. — Mas, por enquanto, não estou pronta para ouvir o Nicolas.

De repente, o som da campainha ecoou pela sala. Ana olhou para mim com um misto de surpresa e preocupação.

— Deve ser ele. — Ana se levantou, sem esperar por minha resposta.

— Ana, não... — comecei a protestar, mas ela já estava no corredor.

Segui meus passos até a porta, observando à distância enquanto Ana abria a porta do apartamento. Lá estava Nicolas, com o semblante abatido, claramente aflito. Meu coração apertou no peito, mas meu orgulho me segurou no lugar.

— Clara não quer conversar com você agora, Nicolas. — Ana disse, firme, mas sem hostilidade. — Acho melhor você respeitar o tempo dela.

Ele parecia prestes a responder, mas se conteve. Seus olhos escanearam o corredor por um segundo, talvez na esperança de me ver ao fundo, mas eu me mantive fora de vista, encostada na parede. Meu peito parecia prestes a explodir com a mistura de emoções.

— Eu só quero... — Nicolas começou a falar, mas Ana o interrompeu gentilmente.

— Ela precisa de tempo, Nicolas. Volte outra hora. — Ana fechou a porta com cuidado, sem agressividade, e se voltou para mim com um olhar de compreensão.

— Eu sei que você está magoada, Clara. Só não deixe o orgulho te afastar de algo que pode valer a pena. — disse, enquanto voltava ao meu lado.

Fiquei ali, ouvindo o eco da campainha e as palavras de Ana reverberarem dentro de mim. Talvez amanhã eu estivesse pronta para ouvir Nicolas. Mas não hoje. Hoje, tudo o que eu queria era a distância.

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