Amor Além do Contrato

Capítulo 13: As Sombras do Passado

CLARA MARTINS

Os dias seguintes ao encontro com Juliana foram uma mistura de tensão e incerteza. Eu sabia que Nicolas estava tentando manter o controle sobre a situação, mas algo em mim dizia que as coisas estavam longe de serem resolvidas. A presença de Juliana havia plantado uma semente de dúvida, e mesmo que eu confiasse em Nicolas, a maneira como ela olhava para mim naquela manhã me deixava inquieta.

Eu tentava me focar no trabalho, mas era difícil afastar aquela sensação de que algo estava prestes a acontecer. Nicolas estava mais reservado, preocupado com assuntos da empresa, e eu não queria pressioná-lo, mas a presença de Juliana era como uma nuvem negra sobre nós, sempre presente.

Certa tarde, enquanto eu estava no escritório de Nicolas organizando alguns documentos, ouvi uma voz familiar entrando pela porta.

— Clara, querida, que surpresa te encontrar aqui! — a voz de Juliana era suave, quase doce, mas havia uma nota de veneno por trás.

Eu me virei lentamente, vendo-a parada na porta com um sorriso que não chegava aos olhos. Ela estava impecavelmente vestida, como sempre, com aquele ar de superioridade que parecia gritar que ela pertencia a um mundo diferente do meu. Juliana irradiava confiança, como se soubesse exatamente o efeito que tinha sobre os outros.

— Juliana... — respondi, tentando manter a calma. — O que faz aqui?

Ela caminhou até a mesa, sem pedir permissão, e pousou a bolsa de grife ao lado dos papéis que eu estava organizando.

— Tenho uma reunião com Nicolas, é claro. Assuntos importantes que só nós podemos resolver. — Ela me lançou um olhar de esguelha, como se eu fosse apenas um obstáculo no caminho.

Eu sabia que Juliana tinha uma agenda. Aquela não era uma visita inocente. Ela estava aqui para me lembrar de que, por mais que Nicolas e eu estivéssemos juntos, ela ainda fazia parte do mundo dele, dos negócios, da vida que ele levava antes de mim.

— Nicolas está no telefone — disse, tentando manter meu tom profissional. — Ele já vai te atender.

Ela me ignorou e sentou-se na cadeira em frente à mesa de Nicolas, como se fosse dona do lugar. O silêncio entre nós era pesado, mas eu sabia que Juliana estava apenas esperando o momento certo para atacar.

— Sabe, Clara — começou ela, seu tom casual, mas com uma ponta de ironia —, eu conheço Nicolas há muitos anos. Ele e eu já passamos por muita coisa juntos. Eu entendo que vocês estão... se divertindo agora, mas você tem que saber que não será fácil manter-se ao lado dele.

Meu coração acelerou, mas mantive a compostura. Eu não iria dar a ela a satisfação de ver que suas palavras me afetavam.

— Eu sei que Nicolas tem muitas responsabilidades — respondi, tentando parecer tranquila. — Mas estou aqui para apoiá-lo, independente dos desafios.

Juliana riu levemente, cruzando as pernas de forma elegante.

— Desafios... Clara, querida, você não faz ideia do que realmente significa estar ao lado de um Arantes. Não é só sobre amor ou carinho. É sobre poder, influência, e tomar decisões difíceis que afetam milhares de pessoas. Você acha que consegue lidar com isso?

Eu engoli em seco, mas mantive meu olhar firme. Antes que pudesse responder, a porta se abriu e Nicolas entrou no escritório, com uma expressão de surpresa ao ver Juliana sentada lá.

— Juliana — disse ele, com a voz tensa —, eu pensei que tivéssemos marcado para mais tarde.

Ela se levantou graciosamente, lançando um olhar rápido para mim antes de se voltar para Nicolas.

— Ah, eu cheguei um pouco mais cedo. Queria aproveitar para conversar com sua... assistente.

Nicolas olhou para mim, claramente percebendo o desconforto no ar. Ele se aproximou e colocou a mão em minhas costas de forma protetora.

— Clara não é minha assistente, Juliana. Ela é minha namorada. E eu gostaria que você a tratasse com o respeito que ela merece.

Houve um momento de silêncio tenso, enquanto Juliana mantinha o sorriso calculado no rosto. Ela claramente não estava acostumada a ser desafiada daquela maneira.

— Claro, Nicolas. Eu só estava me certificando de que Clara entende o que significa estar ao seu lado. Afinal, nosso passado juntos sempre será uma parte importante de quem você é.

Nicolas endureceu o maxilar, visivelmente irritado, mas antes que ele pudesse responder, o telefone na mesa tocou, interrompendo o momento. Ele olhou para mim e para Juliana, visivelmente frustrado.

— Eu vou atender isso. Volto em um minuto — disse ele, pegando o telefone e se afastando para a sala ao lado.

Juliana ficou em silêncio por alguns segundos, mas assim que Nicolas saiu, ela se aproximou de mim, seus olhos brilhando com uma malícia que ela havia escondido até então.

— Eu não vou desistir, Clara — disse ela, a voz baixa, mas cheia de ameaça. — Nicolas e eu temos uma história. E se você acha que vai simplesmente tirá-lo de mim, está muito enganada.

Eu a encarei, sentindo a raiva crescer dentro de mim. Mas ao mesmo tempo, sabia que não podia perder o controle. Isso era exatamente o que ela queria: me provocar, me fazer duvidar de mim mesma e da relação que eu estava construindo com Nicolas.

— O passado é exatamente isso, Juliana — respondi com firmeza. — Passado. Nicolas fez uma escolha, e essa escolha não inclui você.

Ela riu, um som amargo que ecoou pelo escritório.

— Veremos, Clara. Veremos.

Assim que Nicolas voltou para o escritório, Juliana rapidamente retomou sua postura tranquila e amigável, como se nada tivesse acontecido. Mas eu sabia que aquela era apenas a primeira de muitas batalhas. Juliana não iria desistir facilmente, e eu teria que estar preparada para lutar pelo que Nicolas e eu estávamos construindo.