Capítulo 22: Entre Verdades e Silêncios

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CLARA MARTINS

O barulho da cidade parecia distante, abafado pelos pensamentos que ecoavam dentro de mim. Sentada diante de Nicolas, em um café simples, tudo ao redor se dissolvia. O aroma de café moído, as risadas dispersas de desconhecidos, o tilintar de xícaras... nada importava naquele momento. Apenas ele. Apenas nós.

Desde que ele falou o nome Juliana, uma parte de mim se acalmou e outra entrou em alerta. Eu sabia que o passado de Nicolas seria complicado, sabia que haveria momentos como esse, mas estar ali, cara a cara com suas verdades, era mais difícil do que eu imaginava. Eu queria ser forte, queria ser compreensiva, mas não podia negar que o medo de me machucar me segurava.

Nicolas parecia tão vulnerável, como se estivesse à beira de um precipício. Ele sempre foi esse mistério que eu queria desvendar, mas agora, vendo-o hesitante, inseguro, percebi que havia muito mais em jogo do que eu podia imaginar.

— Clara... — ele começou, a voz baixa, quase um sussurro, como se as palavras pesassem mais do que o ar que ele respirava. — Eu sei que demorei demais para te contar tudo isso.

O tom dele era carregado de culpa. Seus olhos, que sempre me encaravam com aquela confiança que eu tanto admirava, agora evitavam os meus. Eu queria tocá-lo, segurá-lo, dizer que estava tudo bem. Mas não estava. Pelo menos, não ainda.

Respirei fundo, tentando organizar meus próprios sentimentos antes de falar.

— Eu não sou perfeita também, Nicolas. — Minha voz soou mais firme do que eu esperava. — Eu tenho meus medos, minhas inseguranças... E agora, com tudo isso, estou com medo. Medo de me envolver mais e acabar me machucando.

Eu o observei atentamente, esperando sua reação. Seu rosto endureceu por um momento, mas depois suavizou. Ele estava realmente ouvindo. E essa era a diferença entre o que tínhamos e o que eu já vivi antes. Ele me ouvia.

— Clara... eu nunca quis que você se sentisse assim. — Ele falou, a voz rouca, carregada de uma sinceridade que fez meu coração apertar. — Mas eu entendo. Eu sinto o mesmo medo. Mas, por você, estou tentando ser diferente.

Ele se inclinou sobre a mesa e pegou minha mão. Aquele toque era uma âncora no meio do mar revolto que eu sentia dentro de mim. Estou aqui, estou segura, eu repetia mentalmente. Mas havia uma coisa que eu precisava entender, e ele precisava ouvir.

— E eu também não quero fugir, Nicolas. — Disse, tentando manter a voz firme. — Eu quero enfrentar o que vier, seja o seu passado ou o meu. Só... só preciso saber que podemos ser sinceros um com o outro. Que não haverá mais silêncios entre nós.

Ele assentiu, apertando minha mão com mais força, e eu vi nos olhos dele algo que não havia visto antes: esperança. Talvez, depois de tanto tempo, ele estivesse finalmente pronto para deixar o passado para trás e construir algo novo, algo nosso.

— Eu prometo, Clara. — Ele falou, com uma certeza que soava quase como um alívio para mim. — Não haverá mais segredos entre nós.

Por um segundo, o tempo pareceu parar. As vozes ao nosso redor sumiram, as preocupações desapareceram. Era como se estivéssemos em um lugar só nosso, um lugar onde as promessas não se quebravam e as verdades, por mais dolorosas que fossem, eram bem-vindas.

Mas havia algo dentro de mim que ainda não se acalmava. Não era uma desconfiança nele. Era o medo do que aquilo poderia se tornar. Eu sabia que estava me entregando, mas também sabia que precisava de mais tempo para entender se eu realmente estava pronta para seguir em frente com ele.

— Nicolas, por mais que eu queira acreditar que podemos seguir em frente... — minha voz saiu mais suave agora, quase um sussurro — ...eu ainda preciso de tempo. Para processar tudo isso. Para absorver o que isso significa.

Ele respirou fundo, como se estivesse segurando o ar o tempo todo. E então, apertou minha mão novamente.

— Eu entendo, Clara. — Sua voz estava calma, mas cheia de emoção. — Eu não vou te pressionar. Vou te dar o tempo que precisar. Só não quero que você pense que isso muda o que sinto por você.

Eu sorri, um sorriso pequeno, quase tímido, mas genuíno. Porque, apesar de tudo, ele estava disposto a esperar. E isso significava mais para mim do que qualquer outra coisa naquele momento.

— Obrigada, Nicolas. — Murmurei, apertando sua mão de volta. — Eu também quero que isso funcione. Mesmo com tudo. Mas precisamos ter certeza de que estamos construindo algo juntos, não só tentando escapar do passado.

Ele sorriu de volta, um sorriso simples, mas cheio de significado.

— E é isso que eu quero, Clara. Algo real. Com você.

O silêncio que seguiu não era desconfortável. Era um momento de aceitação, de compreensão. Sabíamos que o caminho à frente seria difícil, que ainda havia muitas conversas a serem tidas, muitas sombras a serem enfrentadas. Mas, pela primeira vez em muito tempo, eu me senti confiante de que poderíamos fazer isso.

Porque, no fundo, eu sabia que, por mais difíceis que fossem os dias à frente, estávamos dispostos a enfrentá-los juntos. E talvez, só talvez, isso fosse suficiente.

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