Capítulo 23: Ilusão e Dor

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CLARA MARTINS

As luzes da cidade brilhavam ao longe enquanto o carro deslizava pela estrada. Eu estava voltando, finalmente pronta para enfrentar tudo. Tinha passado dias tentando entender o que sentia, tentando me preparar para a conversa que precisava ter com Nicolas. O tempo distante, por mais curto que fosse, me deu a clareza necessária. Eu sabia o que queria. Queria estar com ele. Queria romper as barreiras que ainda existiam entre nós e, acima de tudo, queria confiança. Não podia mais viver com meias verdades.

O vento frio da noite parecia dançar com os meus pensamentos, mas nada poderia preparar meu coração para o que estava prestes a acontecer. Quando estacionei em frente ao escritório de Nicolas, meu peito estava apertado, mas a expectativa de vê-lo e de, talvez, finalmente esclarecer tudo, era mais forte que qualquer insegurança.

Entrei no prédio quase que em silêncio, sentindo as batidas aceleradas do meu coração ecoarem pelos corredores vazios. "Vai dar certo", pensei, repetindo como um mantra, tentando controlar a ansiedade. A porta do escritório dele estava entreaberta. Estranho. Ele sempre foi tão metódico com essas coisas. Me aproximei, já sentindo uma leve inquietação me tomar.

Foi quando eu vi. Juliana.

Ela estava lá. Tão próxima de Nicolas. A proximidade deles me atingiu como um soco no estômago. Juliana sorria, aquele sorriso confiante, venenoso, como se soubesse que estava no controle da situação. Ela estava inclinada, as palavras saíam de sua boca de uma maneira que parecia íntima, familiar. Nicolas não a tocava, mas o espaço entre eles era mínimo, sufocante. Parecia... algo que não queria, mas que ainda estava ali, inescapável. O peso daquela imagem despedaçou tudo dentro de mim.

Minhas pernas tremeram, e senti como se o ar tivesse sido arrancado dos meus pulmões. Meu coração, que até então batia com a esperança de um novo começo, agora doía, esmagado pela visão de uma traição que, mesmo sem toque, gritava verdades que eu não queria enxergar. Eu queria gritar, perguntar o que estava acontecendo, mas o choque, a dor... eram muito mais rápidos que a razão. Não conseguia respirar. Não conseguia pensar. Era como se eu estivesse me afogando em um mar de desespero.

Girei nos calcanhares e corri. Corri como se minha vida dependesse disso, como se fugindo daquela cena eu pudesse escapar da dor que me consumia. A porta bateu atrás de mim, o som ecoando pelos corredores enquanto minhas lágrimas finalmente desciam, pesadas, quentes, cada uma carregada com a agonia do que eu acabara de testemunhar. Eu estava arrasada. Estava quebrada.

Cheguei ao estacionamento sem fôlego, o peito arfando com uma mistura de desespero e frustração. A visão deles, tão próximos, repetia-se na minha mente como um pesadelo do qual eu não conseguia acordar. Entrei no carro, as mãos tremendo enquanto girava a chave na ignição. Meu corpo parecia agir no piloto automático enquanto minha mente gritava em negação. "Não pode ser... Não pode ser isso."

Enquanto dirigia pelas ruas escuras da cidade, a dor dentro de mim só aumentava. Meu coração, que antes batia com a esperança de um futuro com Nicolas, agora parecia um pedaço de vidro estilhaçado. As lágrimas ofuscavam minha visão, mas eu continuava. Tudo o que queria era chegar em casa, me esconder do mundo e da realidade que acabava de desmoronar diante dos meus olhos.

Quando finalmente cheguei em casa, desabei. Mal conseguia sair do carro de tão exausta emocionalmente. A porta se abriu antes que eu tivesse a chance de bater, e lá estava ela, minha irmã, com uma expressão que imediatamente mudou de surpresa para preocupação.

— Clara? O que aconteceu? — Sua voz era um misto de suavidade e alarme. Ela me segurou antes que minhas pernas cedessem.

Eu queria dizer algo, explicar o turbilhão de emoções que me consumia, mas as palavras não saíam. Apenas lágrimas. Apenas a dor que eu não sabia como colocar em palavras.

— Vem cá, entra — ela disse, me guiando com cuidado para dentro de casa, o calor do ambiente contrastando com o frio que eu sentia por dentro. Sentamos no sofá, e ela me envolveu em seus braços. O consolo que eu precisava, o único que poderia me fazer sentir menos sozinha naquele momento.

— O que foi, Clara? — Ela perguntou novamente, dessa vez mais calma, mas com uma preocupação evidente.

— Eu... eu vi... — minha voz saiu fraca, quase como um sussurro. — Eu fui até o escritório dele. Nicolas... e Juliana... Eles estavam tão próximos... — As palavras se misturavam às lágrimas, a dor voltando com força total. — Eu não sei o que fazer. Eu não... eu não consigo mais confiar.

Ela suspirou, me abraçando mais forte, sua mão passando pelos meus cabelos em um gesto reconfortante. — Calma, Clara. Eu sei que parece o fim agora, mas você precisa respirar. Precisa entender o que realmente aconteceu antes de tirar conclusões. Pode ser que... não seja o que parece.

— Mas... e se for? E se ele... — A dor em minha voz era palpável, cortante. — E se eu for apenas mais uma a ser enganada? Mais uma que ele deixa no caminho por causa dela?

Ela suspirou, o olhar fixo no meu, firme. — Você não é "mais uma", Clara. E sabe disso. Você precisa falar com ele, entender o que realmente está acontecendo. Mas, antes de qualquer coisa, precisa se acalmar. Você está machucada agora, e eu entendo, mas não faça nada precipitado.

Deitei minha cabeça no ombro dela, tentando controlar a torrente de pensamentos e sentimentos que me dominavam. Minha mente estava uma confusão de imagens, de dúvidas, e, acima de tudo, de dor. Eu queria acreditar que aquilo tudo não passava de um mal-entendido, mas a cena... Aquele momento ficou gravado em mim como uma ferida aberta.

— Só queria que tudo fosse mais simples, — sussurrei, com a voz entrecortada pelas lágrimas. — Eu não sei se consigo lidar com isso.

Ela acariciou meu cabelo de novo, um gesto simples, mas que me trouxe algum consolo. — Você é forte, Clara. E, seja o que for, você vai passar por isso. Uma coisa de cada vez.

Fechei os olhos, tentando encontrar um pouco de paz no abraço dela. Mas, por dentro, ainda estava devastada.

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