Capítulo 24: À Procura

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NICOLAS ARANTES

O silêncio era opressor no escritório. O som da porta se fechando atrás de Clara ainda ecoava em meus ouvidos. Meu coração batia descompassado, e eu mal conseguia raciocinar direito. A cena que se desenrolara diante de mim ainda parecia um pesadelo. Juliana, tão próxima, com aquele olhar calculado, e Clara, entrando justamente no momento errado. Mas o pior era o que ela viu... ou melhor, o que ela acreditou ter visto.

Eu sabia que Clara pensava que eu havia traído sua confiança, e o simples pensamento disso me corroía por dentro.

"Por que Juliana fez isso?" A pergunta rodava em minha cabeça como um mantra. Nós dois havíamos encerrado nossa história há tempos, e eu não conseguia compreender por que ela ainda insistia em estar presente. Tentei lembrar dos últimos dias, das conversas, dos encontros casuais que agora, à luz do que aconteceu, pareciam suspeitos. Juliana sempre soube manipular, sempre teve um jeito de conseguir o que queria, mas dessa vez... Ela foi longe demais.

Peguei meu celular na mesa, desesperado para ligar para Clara, mas hesitei. O que eu diria? Como explicaria algo que nem eu tinha processado completamente? Eu sabia que não havia toque, nenhum beijo, mas também sabia que, para Clara, a cena era devastadora. Era mais uma sombra do meu passado obscurecendo nosso presente.

— Clara, me atende... — murmurei, discando seu número.

O telefone tocou várias vezes antes de cair na caixa postal. Meu peito apertou, e a sensação de impotência me tomou por completo. Eu precisava encontrá-la, precisava explicar. Mas será que ela estaria disposta a ouvir?

— Juliana, o que você queria com isso? — perguntei para o vazio, me afundando na cadeira. A lembrança de seu rosto, tão perto do meu, com aquela expressão quase de triunfo... Era óbvio que ela sabia o que estava fazendo. E agora, eu pagava o preço.

Levantei-me de repente, incapaz de ficar parado. Eu tinha que encontrar Clara. Não podia deixá-la sozinha, pensando que tudo estava arruinado. Eu sabia onde ela morava, e, se ela não atendesse o telefone, eu iria até lá. Respirei fundo e tentei organizar meus pensamentos. Clara precisava ouvir a verdade, e eu daria um jeito de falar com ela, nem que fosse a última coisa que eu fizesse.

Saí do escritório apressado, ignorando o olhar curioso dos colegas ao passar. Naquele momento, nada importava além de Clara.

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A noite já tinha caído quando cheguei ao prédio de Clara. Meu coração estava disparado. Enquanto eu esperava o elevador, a ansiedade me consumia. "E se ela não quiser me ouvir? E se ela já tiver tomado uma decisão?" As dúvidas vinham em ondas, mas eu precisava tentar.

Bati à porta do apartamento e esperei. Do outro lado, ouvi passos hesitantes. Minha respiração ficou mais pesada quando a porta se abriu lentamente, revelando sua irmã. Os traços de preocupação em seu rosto deixaram claro que Clara havia falado sobre o que aconteceu.

— Nicolas... — ela começou, cruzando os braços. — Não acho que seja uma boa hora.

— Por favor, eu só preciso falar com ela. — Minha voz saiu mais desesperada do que eu pretendia, mas era verdade. — Eu preciso explicar o que aconteceu.

Ela me olhou por um momento, como se ponderasse. — Ela está muito mal, Nicolas. Se você realmente se importa com ela, vai esperar até ela estar pronta.

Me senti sem chão. — Eu... eu sei que ela está mal, mas não posso deixá-la assim, pensando que... que eu a traí.

Ela suspirou, dando um passo para trás. — Isso é algo que vocês dois precisam resolver, mas agora, ela precisa de espaço. Talvez amanhã...

— Amanhã pode ser tarde demais — interrompi, o pânico crescendo dentro de mim. — Ela precisa saber que tudo aquilo foi um mal-entendido. Que Juliana... que Juliana armou tudo isso.

Ela hesitou por mais alguns segundos antes de responder: — Eu vou falar com ela. Se ela quiser te ouvir, eu deixo você entrar.

Assenti, tentando segurar o medo que me consumia. Ela fechou a porta, e eu fiquei ali, no corredor, com o coração nas mãos.

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