Capítulo 27: A Verdade Vem à Tona

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CLARA MARTINS

As horas se arrastavam, e os dias pareciam perder todo o sentido desde o que aconteceu no escritório de Nicolas. A imagem de Juliana, tão próxima a ele, estava gravada em minha mente como uma cicatriz que eu não conseguia apagar. Cada detalhe daquele momento voltava para me assombrar: a maneira como ela se inclinava para perto dele, o sorriso malicioso em seu rosto, a tensão no corpo de Nicolas. Tudo parecia sugerir que ele havia me traído, e essa possibilidade queimava dentro de mim como fogo.

A verdade é que eu não tinha mais forças para chorar. Passei os últimos dias dentro do meu quarto, afastada do mundo, como se esse isolamento pudesse me proteger da dor esmagadora que sentia. A cortina estava fechada, mergulhando o quarto em penumbra, e o ar pesado refletia meu estado de espírito. Eu me sentia sufocada, perdida em um turbilhão de pensamentos confusos e desesperados.

Foi quando Ana, minha irmã, entrou no quarto, interrompendo o silêncio sombrio que dominava o ambiente. Ela carregava uma xícara de chá quente, o vapor subindo suavemente, e sentou-se ao meu lado na cama. Sua presença era sempre um conforto, mas naquele momento, eu não sabia se queria consolo ou apenas continuar mergulhada no meu sofrimento.

— Clara, você não pode continuar assim — começou Ana, sua voz era suave, mas cheia de preocupação. Ela colocou a xícara na mesa de cabeceira e me olhou com ternura. — Eu sei que você está machucada, mas precisa dar uma chance para o Nicolas se explicar.

Eu virei o rosto, olhando fixamente para o teto, como se pudesse ignorar suas palavras. Mas, na verdade, elas me atingiram profundamente.
— E o que ele pode dizer que vá mudar o que eu vi? — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, como se a dor tivesse corroído até minha capacidade de falar com firmeza.

Ana suspirou, se inclinando para frente, e pegou minha mão. Seu toque era reconfortante, mas naquele momento, eu não queria ser confortada.
— Clara, você está assumindo o pior, sem ter ouvido a versão dele. Você não acha que merece ouvir a verdade, ao invés de ficar presa em suposições?

— Eu vi o suficiente, Ana. Ele estava com ela. — As palavras saíram quase como uma sentença, carregadas de uma mágoa que eu mal conseguia controlar. Eu puxei a mão de volta, como se esse simples gesto pudesse afastar a realidade do que aconteceu.

Ana franziu a testa, claramente frustrada com minha resistência.
— Mas será que você viu tudo? Será que não foi um mal-entendido? Juliana sempre foi manipuladora, você sabe disso. E Nicolas... ele parece realmente destruído com o que aconteceu. Ele veio aqui, Clara, várias vezes, tentando falar com você.

Essa informação me pegou de surpresa, e por um breve momento, senti meu coração vacilar. Ele veio aqui? Eu não sabia.
— Ele... veio? — perguntei, tentando disfarçar a surpresa na minha voz, mas falhando miseravelmente.

— Sim, várias vezes. Ele quer te explicar, Clara. Está desesperado, mas você se trancou para ele. — Ana me olhava com uma mistura de compaixão e impaciência. — Você tem todo o direito de estar magoada, mas não acha que devia, pelo menos, ouvir o que ele tem a dizer?

Eu me sentei na cama, abraçando meus joelhos, tentando encontrar as palavras certas. O medo de me machucar novamente era maior do que qualquer curiosidade que eu pudesse ter sobre a versão de Nicolas.
— E se ele só estiver mentindo? E se ele disser exatamente o que eu quero ouvir, mas continuar com ela? — minha voz saiu trêmula, revelando o quanto essa situação me desestabilizava.

Ana suspirou profundamente, balançando a cabeça.
— Você nunca vai saber se não der uma chance. Às vezes, as coisas não são o que parecem. Nicolas nunca te deu motivo para duvidar dele antes... por que faria isso agora?

— Porque eu não sei mais no que acreditar! — A verdade escapou de mim em um grito abafado. Senti as lágrimas brotando nos meus olhos novamente, mas segurei o choro. — Tudo parece tão confuso, tão... doloroso. Eu não sei mais como confiar, Ana. Não sei mais se consigo.

Ela me abraçou com força, e por um momento, eu me permiti desmoronar nos braços da minha irmã. O toque dela era uma âncora, algo para me segurar em meio ao caos que se formava dentro de mim.
— Eu sei que dói — Ana sussurrou, acariciando meus cabelos. — Mas às vezes precisamos enfrentar a dor para encontrar a verdade. E, Clara, você precisa da verdade para seguir em frente. Seja qual for.

Eu fechei os olhos, deixando que suas palavras penetrassem. Ela estava certa, claro. Eu sabia disso. Mas ainda assim, o medo de me magoar mais profundamente me paralisava. Como se, ao me manter longe de Nicolas, eu pudesse evitar um sofrimento maior.

— Eu... não sei se consigo falar com ele agora — admiti, com a voz trêmula, como se estivesse confessando uma fraqueza.

Ana se afastou apenas o suficiente para olhar nos meus olhos.
— Tudo bem. Você pode se dar o tempo que precisar. Mas, por favor, não feche a porta para sempre. Porque se tem uma coisa que eu sei, é que ele não desistiu de você.

Ela se levantou, me lançando um último olhar de apoio antes de sair do quarto. Quando a porta se fechou, senti o silêncio preenchendo o espaço novamente. Mas dessa vez, ele parecia menos sufocante. Ana havia plantado uma semente de dúvida em mim, e eu sabia que, eventualmente, teria que lidar com ela.

Porém, naquele momento, eu ainda não estava pronta. Talvez nunca estivesse.

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