CLARA MARTINS
Depois daquela conversa com Nicolas, as coisas tomaram um rumo que eu jamais poderia prever. A tensão que antes era um muro entre nós, parecia agora uma ponte, ligando nossos mundos de maneira inevitável. Mesmo que ambos estivéssemos cientes dos riscos, algo em nós havia mudado. Eu podia sentir, em cada interação, em cada olhar que trocávamos, que estávamos caminhando por um terreno novo, desconhecido, e ainda assim, irresistível.
No entanto, saber que algo estava crescendo entre nós não fazia com que o dilema interno desaparecesse. Cada dia que passava, o conflito entre o que eu sentia e o que eu devia fazer me consumia. Estávamos no escritório, ambos focados em nossas tarefas, ou pelo menos, fingindo estar.
Nicolas estava em sua mesa, a poucos metros de distância. Ele digitava algo no computador com uma expressão séria, mas eu sabia que ele também sentia aquela eletricidade, aquela vibração no ar que não parecia diminuir, não importava o quanto tentássemos ignorar.
Eu, por outro lado, me distraía constantemente. Os papéis à minha frente começavam a se misturar, as palavras perdendo o sentido conforme meus pensamentos voltavam ao toque de suas mãos, ao calor de seu beijo. Toda vez que olhava para ele, sentia um formigamento, um desejo latente que eu lutava para conter.
De repente, Nicolas levantou os olhos e me pegou olhando. Seu olhar encontrou o meu, e por um momento, o tempo pareceu parar. Eu sabia que precisava desviar o olhar, mas não consegui. Havia algo naquele momento que me prendeu. Seus olhos escuros, sempre tão intensos, pareciam estudar cada expressão minha, como se estivesse tentando desvendar o que eu estava sentindo. E talvez ele já soubesse.
Ele se levantou lentamente e veio até a minha mesa. Cada passo parecia ecoar no meu peito, meu coração acelerando com a aproximação. Quando parou ao meu lado, sua presença tomou conta do espaço. Eu respirei fundo, tentando manter a calma, mas meu corpo inteiro parecia em alerta.
— Clara, está tudo bem? — perguntou ele, a voz baixa, quase um sussurro, como se não quisesse quebrar a tensão que havia entre nós.
Eu abri a boca para responder, mas as palavras pareciam fugir de mim. "Sim", era o que eu deveria dizer. "Sim, está tudo bem. Tudo normal." Mas seria mentira. E ele sabia.
— Não — eu finalmente admiti, quase num suspiro. — Nada está normal.
Seus olhos se suavizaram, e ele se abaixou levemente, ficando mais próximo de mim, mas ainda mantendo uma distância segura. Era como se ele soubesse que qualquer movimento brusco poderia quebrar a barreira tênue que eu tentava manter.
— Você sabe que isso entre nós... — comecei, mas ele me interrompeu, com um leve sorriso nos lábios.
— Clara, nós já falamos sobre isso. Não dá para fingir que nada está acontecendo. Eu não consigo. E sei que você também não.
Engoli seco. Ele estava certo. Eu tentava me enganar, fingir que poderíamos simplesmente voltar ao que éramos antes, mas a verdade é que a cada dia que passava, a conexão entre nós crescia, quase fora de controle.
— Não é tão simples assim, Nicolas — eu disse, lutando contra o desejo de ceder completamente. — Não quero me perder nisso. Tenho medo de perder o controle, de deixar que isso afete quem eu sou... o que eu construí até aqui.
Ele se aproximou um pouco mais, e pude sentir o calor do seu corpo tão perto do meu. Meu coração martelava no peito. Cada vez que ele estava por perto, parecia que o mundo inteiro ficava mais intenso, como se tudo girasse ao nosso redor.
— Você não vai perder quem é — ele disse, a voz mais suave, como uma promessa. — Eu sei que isso é complicado, mas Clara, o que sinto por você é diferente de tudo que já experimentei. Eu não sou um homem que perde o controle facilmente, mas com você... não quero controlar. Quero deixar acontecer.
Minhas mãos tremiam levemente, e ele deve ter percebido. Sem pensar, ele estendeu a mão e a colocou suavemente sobre a minha, seus dedos acariciando minha pele de maneira quase inconsciente. Foi um toque simples, mas cheio de significado. Meu corpo reagiu imediatamente, uma onda de calor subindo por mim.
Eu deveria recuar. Cada célula do meu corpo gritava por cautela, por distância. Mas eu não consegui. Ao invés disso, virei minha mão para segurar a dele, entrelaçando nossos dedos. O toque era quente, firme, e pela primeira vez em muito tempo, eu me senti segura em um momento de total incerteza.
Nicolas se inclinou ainda mais, e sua outra mão pousou suavemente no meu rosto, acariciando minha bochecha com o polegar. Fechei os olhos por um segundo, aproveitando a sensação de sua pele na minha, o calor de sua proximidade. Ele não disse nada, e eu sabia que não precisava. Naquele momento, tudo estava claro.
Quando abri os olhos novamente, ele estava mais próximo do que antes. Seu rosto a centímetros do meu, os lábios tão perto que eu podia sentir sua respiração. Eu sabia o que estava prestes a acontecer, e, dessa vez, não havia resistência dentro de mim. Era como se finalmente eu tivesse aceitado o inevitável.
Nicolas se inclinou devagar, como se me desse uma última chance de recuar, mas eu não queria mais fugir. Fechei os olhos novamente, e então, seus lábios tocaram os meus.
Foi um beijo lento, diferente do primeiro. Não havia urgência, apenas a confirmação de algo que ambos sabíamos há tempos, mas que demoramos a aceitar. Seus lábios se moveram nos meus com uma delicadeza que me fez perder a noção de tudo ao redor. Era como se o mundo inteiro tivesse se dissolvido, deixando apenas nós dois naquele momento.
Quando nos separamos, ainda de olhos fechados, tudo pareceu mudar. Eu estava diferente. Ele estava diferente. E, de algum modo, o que parecia ser uma montanha intransponível antes, agora parecia um caminho que estávamos prontos para trilhar juntos.
— Nós vamos descobrir isso, Clara — ele sussurrou, seus lábios ainda perto dos meus. — Juntos.
E pela primeira vez, eu acreditei nisso.
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Amor Além do Contrato
RomanceNicolas Arantes é um bilionário recluso e conhecido por sua frieza e aversão à mídia. Após uma série de escândalos envolvendo sua família e empresas, ele decide se afastar dos holofotes e se concentrar em reorganizar sua vida. Para isso, ele contrat...