Capítulo 19: O Confronto das Sombras

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NICOLAS ARANTES
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As horas se arrastaram em minha casa, o silêncio pesado se instalando enquanto eu me perdia em pensamentos. A luz do dia havia se dissipado, dando lugar à escuridão da noite, mas a luz que Clara trazia em sua presença ainda brilhava em minha mente. Ela havia se mostrado tão forte, tão compreensiva, mas eu sentia o peso de minha história, de meu passado, pressionando sobre meu peito como uma âncora.

Era difícil ignorar a realidade que havia surgido entre nós após a última conversa. Clara merecia tudo de mim, mas como eu poderia dar o que não tinha? Como poderia construir um futuro quando o passado insistia em sussurrar meu nome em cada esquina de minha mente?

A casa estava quieta, exceto pelo som distante de carros passando na rua. Olhei para o telefone, a hesitação crescendo em meu interior. Precisava ligar para Clara, precisava vê-la e, principalmente, precisava me abrir. A ideia de compartilhar minhas fraquezas me paralisava. O que ela pensaria de mim? E se tudo que ela sentia por mim se desvanecesse ao descobrir quem eu realmente era?

Decidi que não podia continuar assim. A decisão de enfrentar Clara e abrir meu coração me impulsionou a pegar o telefone. Com as mãos tremendo, discar seu número se tornou uma missão. Assim que ouvi a sua voz doce, a ansiedade se transformou em um misto de alívio e medo.

— Nicolas? — Ela parecia ansiosa, a preocupação transparecendo em sua voz.

— Oi, Clara. Eu… gostaria de me encontrar com você. Precisamos conversar. — Meu tom de voz soava mais firme do que eu realmente me sentia.

— Claro, onde você quer que nos encontremos? — Perguntou, já procurando um local.

— Que tal o café perto da sua casa? Às sete? — sugeri, tentando controlar o nervosismo que crescia dentro de mim.

— Perfeito. Estarei lá.

A linha caiu e eu respirei fundo, a tensão se acumulando em meu peito. As horas seguintes passaram lentamente, como se o tempo estivesse me testando. Finalmente, o relógio marcou sete horas e eu estava a caminho do café, cada passo me levando mais perto de uma conversa que eu sabia que mudaria tudo.

Quando cheguei, Clara já estava lá, esperando por mim. O olhar que ela me deu era uma mistura de expectativa e preocupação. Assim que nossos olhares se encontraram, o mundo ao nosso redor pareceu desaparecer, restando apenas nós dois.

— Oi — ela disse, um sorriso nervoso se formando em seus lábios.

— Oi, Clara. Obrigado por vir. — Eu me sentei à sua frente, o calor de sua presença me confortando, mas ao mesmo tempo intensificando a realidade que eu precisava enfrentar.

— Você parece… pensativo. — O tom dela era suave, mas havia uma intensidade em suas palavras que me fez sentir ainda mais responsável pelo que estava prestes a revelar.

— Eu estou. — Respirei fundo, tentando reunir coragem. — Sobre o que falamos na última vez… Sobre Juliana.

Ela assentiu, seu olhar fixo em mim. — Eu quero entender, Nicolas.

As palavras estavam ali, na ponta da minha língua, mas o medo me paralisava. — Clara, a verdade é que eu não sou a pessoa que você pensa que sou. O que tive com Juliana foi complicado. Eu… me deixei levar por suas emoções, e isso criou uma dependência que me afastou de quem eu realmente sou.

O silêncio entre nós se estendeu, cada segundo carregando o peso do que eu precisava dizer. Clara olhava para mim com uma expressão que eu não conseguia decifrar.

— Você está me dizendo que não conseguiu se libertar desse relacionamento? — perguntou, a preocupação tomando conta de seu tom.

— Exatamente. E agora, quando estou com você, sinto que ainda estou lidando com as sombras do meu passado. Não quero que você carregue esse peso comigo. Você merece mais.

O olhar de Clara se suavizou, mas eu pude ver a tristeza se formar em seus olhos. — Nicolas, todos temos um passado. Eu só quero que você confie em mim, que me deixe entrar nessa parte da sua vida.

O desejo de me abrir e confiar nela era forte, mas a lembrança de Juliana me atormentava. — Eu não quero que você se sinta insegura. Essa não é a minha intenção.

— Então, o que você vai fazer? — Clara questionou, sua voz baixa, mas determinada. — Você vai continuar a viver com esse peso?

Fechei os olhos por um instante, sentindo a verdade em suas palavras. Eu não podia mais deixar Juliana controlar minha vida. Olhei nos olhos de Clara, tentando reunir toda a sinceridade que tinha. — Não. Eu quero ser honesto. Preciso encerrar isso. Não posso construir algo bonito com você enquanto ainda estiver preso ao passado.

Ela sorriu levemente, um brilho de esperança em seus olhos. — Então, faça isso. Confronte suas sombras. Estou aqui para te apoiar.

A determinação que emanava dela era contagiante. Eu sabia que esse momento era crucial, e embora o caminho à frente fosse difícil, Clara estava disposta a enfrentar isso comigo.

— Obrigado, Clara. Eu não quero te perder. Você é tudo o que eu mais quero agora.

Naquele instante, algo dentro de mim se quebrou. Era como se eu estivesse finalmente pronto para deixar as sombras para trás, não apenas por mim, mas por nós.

A noite ainda era jovem, e com a coragem renovada em meu coração, percebi que aquele era o momento em que eu poderia escolher viver livre das amarras do passado.

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