Amor Além do Contrato

Capítulo 12: Um Reencontro Inesperado

CLARA MARTINS

A manhã seguinte à noite que passei com Nicolas foi diferente de tudo o que eu já havia experimentado. Não era apenas sobre o que havia acontecido entre nós, mas sobre a maneira como ele me tratava, com tanto cuidado e respeito. Quando abri os olhos e vi a luz suave entrando pelas enormes janelas do quarto dele, senti uma paz que não lembrava de ter sentido em muito tempo.

Nicolas ainda dormia ao meu lado, sua respiração calma e constante. A sensação de estar ali, perto dele, era confortante, mas ao mesmo tempo, a realidade começou a pesar sobre meus ombros. Eu sabia que, apesar de tudo, as coisas entre nós ainda eram complicadas. Não éramos um casal comum. O contrato de trabalho, a distância entre nossos mundos, e o segredo que ele carregava sobre sua verdadeira identidade ainda pairavam sobre nós.

Levantei-me devagar, tentando não acordá-lo, e fui até a varanda. O sol da manhã já começava a aquecer o dia, e a vista da cidade era simplesmente deslumbrante. Fiquei ali, perdida em pensamentos, quando ouvi passos leves atrás de mim.

— Bom dia — Nicolas murmurou, sua voz rouca de sono.

Eu me virei e sorri. Ele estava descalço, apenas com calças de pijama, os cabelos bagunçados, mas ainda assim irresistivelmente charmoso.

— Bom dia — respondi, sentindo meu coração bater um pouco mais rápido só por vê-lo.

Ele se aproximou, colocando as mãos em minha cintura, e me puxou gentilmente para mais perto.

— Tudo bem? — perguntou ele, seus olhos buscando os meus com preocupação.

— Sim — menti, embora meu sorriso hesitante o tenha denunciado.

Ele franziu a testa, claramente percebendo minha tensão.

— Clara, o que está te incomodando?

Eu suspirei, tentando colocar em palavras o que estava sentindo.

— Nicolas, eu... adorei a noite que passamos juntos. Mas... onde isso nos deixa? — perguntei, finalmente deixando que minhas dúvidas escapassem.

Antes que ele pudesse responder, fomos interrompidos por uma batida forte na porta da casa. Meu coração pulou no peito, e Nicolas se afastou ligeiramente, como se também estivesse surpreso.

— Quem será a essa hora? — ele murmurou, mais para si mesmo.

Fui atrás dele enquanto ele descia as escadas para atender à porta. Quando ele a abriu, uma mulher elegante, com longos cabelos castanhos e uma expressão séria, estava parada do lado de fora.

— Nicolas, precisamos conversar — disse ela, sem sequer cumprimentá-lo.

Eu parei na metade da escada, sentindo uma pontada de preocupação crescer dentro de mim.

— O que você está fazendo aqui, Juliana? — Nicolas perguntou, claramente desconfortável com a presença dela.

Juliana. O nome dela ecoou na minha cabeça, como uma memória distante, mas perturbadora. Eu desci mais um degrau, tentando entender o que estava acontecendo.

— Quem é ela? — perguntei, incapaz de esconder minha curiosidade e, talvez, um toque de insegurança.

Nicolas virou-se para mim, seu rosto tenso.

— Clara, esta é Juliana... minha ex-noiva.

O chão pareceu desaparecer sob meus pés. Ex-noiva? Aquilo era algo que Nicolas não havia mencionado em momento algum.

— Ex-noiva? — murmurei, mais para mim mesma do que para eles.

— Eu preciso falar com você, Nicolas — Juliana continuou, claramente ignorando minha presença. — É urgente.

Nicolas passou a mão pelos cabelos, frustrado. Ele olhou para mim, então de volta para Juliana.

— Clara, espere aqui, por favor — ele pediu suavemente.

Eu assenti, ainda atordoada, enquanto ele saía pela porta com Juliana. Sentei-me no sofá, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Quem era ela? O que significava a presença dela aqui, agora, depois de tudo o que havia acontecido entre nós?

Dez minutos se passaram, e eu não conseguia me acalmar. A tensão no ar era palpável. Decidi que não podia ficar ali sentada esperando. Caminhei até a porta e, antes de abri-la completamente, ouvi partes da conversa.

— Você não pode simplesmente sumir, Nicolas — a voz de Juliana soava irritada. — Temos coisas a resolver, você sabe disso.

— Eu não devo mais nada a você, Juliana. Nosso noivado acabou há muito tempo.

— Mas a empresa da sua família ainda depende dos meus contatos — retrucou ela, o tom de voz frio e calculista. — Você sabe que se eu quiser, posso causar grandes problemas.

Meu coração acelerou ao ouvir aquilo. Então havia mais coisa por trás do passado de Nicolas do que ele havia me contado.

Respirei fundo e voltei para dentro antes que Nicolas percebesse que eu estava ouvindo. Mas agora, a dúvida tinha se instalado em minha mente. Havia mais segredos? Mais coisas das quais ele não falava?

Pouco depois, Nicolas entrou pela porta novamente, sua expressão tensa.

— Clara... — começou ele, mas eu levantei a mão, pedindo que ele parasse.

— Por que você nunca mencionou Juliana? — perguntei, tentando manter a calma.

Ele suspirou, sentando-se no sofá ao meu lado.

— Porque... eu achei que já tinha deixado isso no passado. Juliana e eu fomos noivos, sim, mas isso terminou há anos. O problema é que, por causa dos negócios da minha família, ela ainda tenta se manter envolvida.

— Negócios? — repeti, sem entender completamente.

Ele assentiu.

— Sim, Clara. A empresa dos Arantes é mais complexa do que parece. E, infelizmente, ela tem influência em certos aspectos disso. Mas eu estou trabalhando para mudar isso. Eu só não queria te envolver.

Eu o observei, tentando absorver tudo o que ele dizia. Ainda assim, não conseguia deixar de sentir que havia mais segredos.

— Nicolas... eu preciso saber de tudo. Se vamos seguir em frente, não pode haver mais segredos entre nós — falei, tentando controlar minha voz trêmula.

Ele se aproximou, segurando minhas mãos.

— Eu prometo que não haverá mais. Vou te contar tudo, Clara. Eu só preciso que confie em mim.

Eu o olhei, sentindo meu coração dividido entre a confiança que estávamos construindo e as sombras do passado que pareciam pairar sobre nós.

— Eu confio em você — disse, apesar da dúvida que ainda pulsava dentro de mim.

Mas agora, eu sabia que nossa relação seria testada. A presença de Juliana não era apenas uma lembrança do passado de Nicolas, mas uma ameaça real ao futuro que poderíamos ter juntos.

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