Capítulo 5: Um Jogo Perigoso

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CLARA MARTINS

As últimas semanas pareciam um borrão de rotinas intensas e trabalho exaustivo, mas eu estava começando a encontrar meu ritmo. Nicolas era exigente, claro, mas sua confiança em mim crescia a cada tarefa que eu realizava sem erros. O problema era que, junto com essa confiança, algo mais parecia surgir entre nós — algo que eu não conseguia definir, mas que se manifestava em cada olhar que trocávamos.

Hoje, o ar estava especialmente carregado. Estávamos sozinhos no escritório, e o silêncio, que antes era confortável, agora parecia denso, quase palpável. Eu estava organizando alguns contratos sobre sua mesa quando Nicolas falou.

— Clara — ele chamou meu nome de forma que fez com que meu corpo inteiro se retesasse.

Levantei os olhos para ele, esperando a próxima tarefa, algo para me manter ocupada e afastar aquela sensação estranha que crescia dentro de mim sempre que estávamos sozinhos. Mas dessa vez, ele não me entregou um novo contrato, nem fez uma crítica aos meus relatórios. Em vez disso, seus olhos se demoraram nos meus, sua expressão indecifrável.

— O que foi? — perguntei, sentindo um leve tremor em minha voz.

— Você trabalha aqui há meses, mas ainda não sei muito sobre você, além do que está no papel — disse ele, cruzando os braços. — Por que veio trabalhar para mim, Clara?

Aquilo me pegou de surpresa. Nicolas nunca foi do tipo que fazia perguntas pessoais. Estava sempre focado no trabalho, nas metas e prazos, e nunca parecia interessado em saber mais do que o necessário.

— Eu precisava do trabalho — respondi, tentando manter o tom casual, sem demonstrar o que realmente estava sentindo.

— E só por isso? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Nada mais?

Havia algo na maneira como ele me olhava que me fazia questionar o que estava realmente por trás daquela pergunta. Era como se ele estivesse me estudando, tentando ver além da superfície.

— Eu precisava de um desafio — admiti. — E esse trabalho... é o maior desafio que já enfrentei.

Ele sorriu de canto, aquele sorriso pequeno e quase imperceptível, que eu raramente via.

— Um desafio, é? — ele repetiu, dando um passo à frente. — E como está lidando com ele?

O ambiente parecia mais quente de repente. Cada centímetro de mim estava consciente de sua proximidade, do jeito como seus olhos me analisavam, como se procurassem respostas que eu mesma não tinha certeza de como dar.

— Estou me adaptando — respondi, tentando manter o tom profissional. — Acho que estou indo bem, considerando suas expectativas.

— Você está indo muito bem, Clara — ele disse, a voz mais baixa agora, quase íntima. — Mais do que eu esperava.

Eu engoli em seco, sem saber como responder. Havia algo em sua expressão, em sua postura relaxada e ao mesmo tempo atenta, que me deixava nervosa. Não porque eu temesse seu julgamento, mas porque, pela primeira vez, percebi que estávamos passando dos limites do profissionalismo.

De repente, Nicolas estendeu a mão, como se fosse pegar um documento sobre a mesa. No entanto, ao fazer isso, sua mão tocou a minha — um toque leve, quase acidental, mas que durou um segundo a mais do que deveria. O impacto foi imediato, uma onda de calor subiu pelo meu braço e se espalhou pelo corpo. Eu deveria ter recuado, deveria ter tirado a mão, mas algo em mim ficou paralisado naquele instante.

— Clara... — ele murmurou, o tom de sua voz ainda mais baixo, quase um sussurro.

Senti meu coração disparar no peito. Algo dentro de mim sabia o que estava para acontecer, mas ao mesmo tempo, eu me recusava a acreditar. Não aqui, não agora.

— Isso é... perigoso — sussurrei, finalmente encontrando minha voz. Mas nem eu mesma estava convencida de que queria parar aquilo.

Ele não respondeu imediatamente. Em vez disso, seu polegar roçou de leve minha pele, um toque tão suave que quase parecia um teste — um teste para ver até onde ele poderia ir. E eu não me movi.

— Às vezes, o perigo é inevitável — ele respondeu, com a mesma calma, o mesmo controle.

Antes que eu pudesse processar o que ele estava fazendo, Nicolas se inclinou lentamente para mim. Meus instintos gritavam para que eu me afastasse, para lembrar quem ele era, quem eu era. Mas meu corpo, traidor, permaneceu imóvel, esperando o que viria a seguir.

Seus lábios tocaram os meus, de leve no início, como se ele estivesse testando a reação. Um toque suave, mas carregado de algo que eu não sabia como descrever. Minha mente foi tomada por uma confusão de pensamentos, mas meu corpo respondeu de imediato. Sem nem perceber, eu retribuí o beijo, sentindo o calor crescer entre nós.

Foi um beijo lento, mas profundo, cheio de uma tensão que parecia estar crescendo há semanas. Cada segundo parecia arrastar-se, como se o mundo tivesse parado para observar aquele momento. Quando ele finalmente se afastou, seu olhar encontrou o meu, carregado de algo que eu não conseguia definir.

— Isso foi... — comecei a dizer, mas minha voz falhou.

— Inevitável — ele completou por mim, a expressão séria, mas com um brilho nos olhos que me fez estremecer.

Eu me afastei, finalmente recuando um passo. Meu coração ainda batia forte, e minha mente estava um caos. Isso não podia acontecer. Eu precisava de distância, de clareza. Mas ao olhar para ele, sabia que era tarde demais. Algo entre nós tinha mudado, e eu não tinha ideia de como voltar atrás.

— Nós precisamos manter isso profissional, Nicolas — falei, tentando soar firme, mas falhando miseravelmente.

— E vamos — ele respondeu, mas o tom de sua voz dizia outra coisa. — Mas você e eu sabemos que, às vezes, o profissional e o pessoal se confundem.

Eu tentei manter a postura, dar um último aviso antes de sair daquela sala. Mas antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ele sorriu novamente, aquele sorriso pequeno e enigmático, e acrescentou:

— Isso não acabou, Clara. Não está nem perto de acabar.

Essas palavras ecoaram na minha mente enquanto eu saía do escritório, minhas pernas tremendo levemente. Sabia que ele estava certo. Algo tinha começado ali, e eu não tinha ideia de como controlar o que viria a seguir.

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