Capítulo 21: Caminhos Entrelaçados

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NICOLAS ARANTES

A manhã amanheceu envolta em uma suave neblina que se arrastava pelas ruas da cidade, como se o mundo estivesse lentamente despertando de um sono profundo. Eu estava em casa, sentado à mesa de café da manhã, mas a comida na minha frente tinha um gosto amargo, como se eu estivesse mastigando o peso de minhas próprias inseguranças. A única coisa que minha mente conseguia processar era a presença de Clara, uma força vibrante que agora me parecia tão distante.

A conversa que tivemos na noite anterior ainda ecoava em meus ouvidos, uma melodia de sentimentos contraditórios. Clara havia aberto seu coração para mim, e embora eu tivesse tentado ser honesto, o peso de meu passado ainda me oprimia. Era como se Juliana fosse um fantasma, assombrando os cantos mais escuros da minha mente, enquanto Clara, com seu olhar gentil e sua risada suave, era a luz que eu tanto ansiava.

— Nicolas! — A voz da minha mãe ecoou do corredor, quebrando o silêncio que me cercava. Ela apareceu na porta da cozinha, com seu cabelo preso em um coque bagunçado e um sorriso acolhedor que sempre me fez sentir seguro. — Você já comeu alguma coisa?

— Não muito. — Respondi, tentando forçar um sorriso que não chegou a alcançar meus olhos. — Só café.

Ela se sentou à minha frente, e a preocupação em seu olhar era como uma lâmina afiada. Minha mãe tinha essa habilidade peculiar de ver através das minhas paredes.

— Você está preocupado com Clara, não está? — perguntou, direto ao ponto.

A pergunta ressoou como um eco em minha mente. Sim, eu estava preocupado. Com o coração pesado, eu admiti:

— Sim. Eu não quero que ela se machuque por minha causa.

Ela inclinou-se para a frente, a sinceridade em sua expressão fazendo meu coração disparar.

— Todos nós temos um passado, Nicolas. O importante é o que fazemos com o presente. — Suas palavras estavam carregadas de sabedoria, como sempre. — Você precisa ser honesto com ela, assim como prometeu.

As palavras dela foram como um farol, iluminando o caminho que eu precisava seguir. Mas a sombra de Juliana ainda pairava sobre mim, fazendo-me hesitar. Enquanto a luz da manhã filtrava pela janela, revelando os detalhes do ambiente, eu sabia que precisava enfrentar os meus medos.

— Eu sei, mãe. — Respirei fundo, sentindo a pressão no meu peito aumentar. — Mas e se eu perder Clara? E se ela decidir que não consegue lidar com meu passado?

— Se ela te ama, ela estará disposta a enfrentar isso com você. Mas você precisa dar a ela a chance de escolher. — O olhar dela era firme, como uma rocha, e eu me sentia agradecido por ter alguém que se preocupava tanto comigo.

Depois do café da manhã, fui para o escritório, mas a concentração se mostrava uma luta constante. Cada e-mail que eu tentava responder parecia um esforço fútil. O pensamento de Clara era um eco em minha mente, tornando-se cada vez mais insistente. Recordei a última vez que a vi, a forma como seu olhar brilhava ao se despedir, como um farol em meio à tempestade. O peso da saudade se acumulava em meu peito, como se eu estivesse preso em uma rede invisível, incapaz de escapar.

Levantei-me e fui para a varanda, onde o ar fresco da manhã me envolveu como um abraço. Enquanto observava a cidade despertando lentamente, percebi que estava prestes a perder algo precioso. A vida continuava ao meu redor, mas a ideia de perder Clara era um pensamento insuportável. As lembranças de nosso tempo juntos invadiram minha mente. Seus sorrisos, suas risadas e a maneira como ela iluminava até mesmo os meus dias mais sombrios.

Sabendo que precisava agir, peguei meu celular, o coração acelerando enquanto digitava uma mensagem. "Oi, Clara. Espero que você esteja bem. Queria saber se podemos nos encontrar mais tarde. Há algo importante que preciso compartilhar com você." Minhas mãos tremiam levemente ao pressionar "enviar", como se estivesse libertando um pássaro aprisionado.

O tempo parecia se arrastar enquanto eu aguardava uma resposta. A ansiedade era palpável, e cada segundo que passava parecia um pequeno tormento. Finalmente, o celular apitou, e a tela revelou a mensagem dela: "Claro, Nicolas! Que horas?"

Uma onda de alívio me invadiu. Respondi rapidamente: "Podemos nos encontrar às 18h no café da esquina? Eu tenho algo a dizer."

O retorno dela foi quase instantâneo: "Estarei lá. Mal posso esperar!"

A expectativa cresceu dentro de mim, como um balão prestes a estourar. O resto do dia passou em um borrão de atividade, mas a iminência de nossa conversa mantinha meu espírito em um estado de agitação. Cada tarefa que tentava realizar parecia insignificante diante da importância do que estava por vir.

Finalmente, o momento chegou. O relógio marcava 17h50 quando deixei a mansão, a caminhada até o café parecia um interminável labirinto de pensamentos. O céu estava limpo, e uma brisa suave acariciava meu rosto, mas meu coração pulsava acelerado, como se estivesse se preparando para um embate.

Ao entrar no café, o aroma do café fresco e o murmúrio de vozes preenchiam o ar, mas eu só conseguia focar na porta, aguardando ansiosamente a chegada de Clara. O tempo parecia se arrastar enquanto eu observava a entrada, a cada nova pessoa que entrava, meu coração dava um pequeno salto, apenas para afundar novamente quando não era ela.

E então, ela entrou. A visão de Clara fez meu coração parar por um instante. Ela estava radiante, usando um vestido leve que dançava suavemente com seu movimento, e seu cabelo caía em ondas soltas sobre os ombros. Era como se o sol tivesse escolhido aquele momento para brilhar, destacando cada traço seu. O olhar dela imediatamente me encontrou, e eu senti uma onda de calor percorrer meu corpo.

— Oi, Nicolas! — disse, com um sorriso que iluminou a sala. Sua presença era um bálsamo para minha alma.

— Oi, Clara. — Respondi, tentando controlar a emoção em minha voz. — Obrigado por vir.

Ela se sentou à minha frente, seus olhos perscrutadores observando-me com curiosidade e expectativa. O momento era crucial. Sabia que a verdade poderia ser o divisor de águas entre nós, e estava determinado a ser o homem que ela merecia.

— Clara, eu tenho algo importante para te contar... — comecei, as palavras saindo lentamente, como se cada uma delas fosse um passo em direção ao abismo da verdade. A tensão na sala era palpável, e eu podia sentir o calor de seu olhar, incentivando-me a continuar.

Enquanto as palavras saíam, uma parte de mim queria proteger Clara, evitar que ela soubesse o quão quebrado eu ainda estava. Mas, ao mesmo tempo, sabia que ela merecia tudo, cada pedaço da verdade, por mais dolorosa que fosse.

— Eu... eu não sou a pessoa que você pensa que sou. — A sinceridade se revelou, cada palavra carregada de vulnerabilidade. O silêncio se instalou, mas não era o silêncio do desconforto; era uma pausa, um espaço seguro para eu me abrir.

Ela inclinou-se ligeiramente para a frente, seu olhar fixo em mim.

— O que você quer dizer com isso? — sua voz estava suave, mas havia uma firmeza que me desafiava a ir mais fundo.

— Juliana foi uma parte complicada da minha vida. Eu deixei que nosso passado se tornasse uma sombra sobre nós, e não quero que você pague por isso. — Cada palavra era uma confissão, um sopro de alívio, mas também de temor.

— Nicolas, eu quero que você confie em mim. Estou aqui. — A vulnerabilidade em sua voz me atingiu como um golpe, e percebi que, mesmo com as dificuldades, Clara estava disposta a ficar ao meu lado.

— Eu prometo que vou fazer isso por nós. — As palavras saíram com um peso que era tanto de compromisso quanto de esperança.

Enquanto falávamos, o mundo ao nosso redor parecia desaparecer. Ali, naquele café, em meio a canecas de café e conversas alheias, havia apenas nós dois, dois corações tentando encontrar um caminho entrelaçado, entre sombras do passado e a luz do presente.

E assim, com a coragem pulsando em meu coração e a determinação renovada, eu sabia que estava pronto para enfrentar o que viesse, não apenas por mim, mas por Clara, por tudo o que poderíamos construir juntos, finalmente livres das amarras do passado.

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