NICOLAS ARANTES
A porta do apartamento de Clara se fechou com um som pesado, como se o próprio destino tivesse decidido me bloquear mais uma vez. Ana havia sido direta: Clara não queria falar comigo. O peso dessa rejeição me esmagava a cada segundo que passava. Eu esperava, com todas as forças, que ela ao menos me desse a chance de explicar. Mas ali estava eu, do lado de fora, sozinho com meus pensamentos, enquanto a mulher que eu amava estava do outro lado daquela porta, sofrendo por algo que eu nunca sequer fiz.
Passei as mãos pelos cabelos, num gesto automático, tentando afastar a sensação sufocante de impotência. O plano de Juliana, eu sabia agora, tinha sido calculado com precisão, cada detalhe orquestrado para destruir o que Clara e eu havíamos construído. E o pior de tudo? Estava funcionando.
— Droga, Juliana — murmurei para mim mesmo, a raiva subindo como uma maré avassaladora. — Por que você fez isso?
Juliana sempre foi uma presença complicada na minha vida, mas eu nunca imaginei que ela seria capaz de algo tão baixo. Claro, tínhamos um passado, um que eu tentava a todo custo enterrar. Mas ela se recusava a me deixar seguir em frente, e agora, estava claro que seu objetivo era muito mais do que apenas me reconquistar. Ela queria me destruir. Nos destruir.
Eu me vi de volta naquele escritório, o momento em que Clara entrou, os olhos arregalados, o choque estampado em seu rosto. O modo como ela fugiu, sem nem me dar a chance de explicar. Eu nunca havia sentido uma dor como aquela. Era como se, em um segundo, tudo o que eu mais temia se realizasse: perder Clara, perdê-la de uma forma que talvez fosse irreversível.
Respirei fundo, tentando reorganizar meus pensamentos. Não havia mais tempo para arrependimentos silenciosos. Eu precisava agir. Precisava de uma forma de fazer Clara me ouvir, de alguma maneira abrir aquela barreira que ela havia erguido entre nós.
Peguei o telefone e disquei o número de Clara mais uma vez. O toque ecoava na linha, lento e impiedoso, até cair direto na caixa postal. Meu peito se apertou.
— Clara, por favor... — comecei a deixar uma mensagem, mas a frustração tomou conta e desliguei antes de conseguir dizer algo coerente. Não adiantava. Ela estava me bloqueando, e eu sabia que não seria com palavras rápidas ao telefone que resolveríamos isso.
Lembrei-me da última conversa com Juliana. Seus olhos frios, o jeito arrogante com que falava sobre Clara. Ela sabia exatamente o que estava fazendo quando apareceu naquele momento, como se tivesse planejado tudo nos mínimos detalhes.
Decidi então confrontá-la. Peguei as chaves do carro e, em poucos minutos, estava dirigindo em direção ao apartamento de Juliana. Cada quilômetro parecia me afastar mais da razão, mas eu precisava de respostas. Precisava saber até onde ela iria para nos separar.
Quando finalmente cheguei, toquei a campainha com força. O silêncio inicial me fez pensar que talvez ela não estivesse ali, mas, segundos depois, a porta se abriu lentamente.
— Nicolas — Juliana me recebeu com um sorriso desprezível, como se já soubesse por que eu estava ali. — O que te traz aqui tão tarde?
— Por que você fez aquilo? — perguntei, entrando sem ser convidado. Meu tom era frio, mas o turbilhão de emoções dentro de mim ameaçava me descontrolar. — Você sabia exatamente o que Clara iria pensar quando te visse comigo. Esse sempre foi o seu plano, não é? Nos separar?
Juliana fechou a porta com calma e cruzou os braços, encostando-se no batente com uma expressão de falsa inocência.
— Plano? — ela riu baixinho, mas era um riso cruel. — Ah, Nicolas... não seja tão dramático. Eu não precisei fazer nada. Clara viu o que quis ver. Se ela não consegue confiar em você, esse é um problema entre vocês dois, não é?— Não banque a inocente, Juliana. — A raiva borbulhava nas minhas veias. — Você sabia que ela iria interpretar errado. Você estava lá, de propósito, no exato momento em que ela voltou. Tudo foi uma armação.
Ela deu de ombros, como se minha acusação fosse uma leve inconveniência.
— E se foi? — Juliana deu um passo em minha direção, seus olhos frios como gelo. — E daí, Nicolas? Ela não confiava em você desde o início. Se confiava, por que fugiu tão rápido? Você acha que alguém que te ama de verdade acreditaria na primeira coisa que visse? Clara é fraca. E você merece alguém... melhor.— Alguém como você? — cuspi as palavras, incrédulo com a audácia dela. — Você é doente, Juliana. Está obcecada por uma história que acabou há muito tempo. Não vai me fazer voltar pra você com esses joguinhos sujos.
Juliana me encarou por um longo momento, sua expressão se transformando em algo mais sombrio.
— Eu não preciso que você volte, Nicolas. Eu só preciso que ela se vá. E pelo jeito, eu já consegui isso.Aquela última frase me atingiu como um soco no estômago. Eu queria gritar, queria fazer alguma coisa para reverter o que estava acontecendo, mas sabia que discutir com Juliana era inútil. Ela estava decidida a nos separar a qualquer custo.
Eu me virei para sair, mas suas últimas palavras me fizeram parar.
— Ela nunca vai te perdoar, Nicolas — Juliana disse, sua voz doce, mas venenosa. — Você sabe disso, não sabe?Eu fechei os olhos por um segundo, tentando conter a raiva que borbulhava dentro de mim.
— Talvez não — respondi, sem olhar para trás. — Mas eu não vou desistir dela.Saí daquele apartamento com a determinação renovada. Juliana tinha feito o possível para nos separar, mas eu sabia que, no fundo, Clara e eu tínhamos algo mais forte do que os jogos sujos de Juliana. Talvez Clara precisasse de tempo, talvez fosse preciso mais do que eu imaginava, mas eu estava disposto a lutar por ela.
Afinal, o amor que sentíamos um pelo outro não poderia ser destruído tão facilmente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor Além do Contrato
RomansNicolas Arantes é um bilionário recluso e conhecido por sua frieza e aversão à mídia. Após uma série de escândalos envolvendo sua família e empresas, ele decide se afastar dos holofotes e se concentrar em reorganizar sua vida. Para isso, ele contrat...