NICOLAS ARANTESA noite caiu sobre a cidade, e a luz suave dos postes de rua iluminava as calçadas, refletindo em meu estado de espírito confuso. Estava em casa, mas não era o mesmo lar aconchegante de antes. O peso das palavras que trocamos mais cedo pairava no ar, como uma névoa densa que não queria dissipar. Clara havia me confrontado de maneira tão direta, e, embora sua paciência me acalmasse, a verdade é que eu ainda estava lutando contra meus demônios internos.
Assim que ela saiu do carro, um turbilhão de sentimentos me invadiu. Eu a queria ao meu lado, queria desvendar cada camada de sua alma, mas a lembrança de Juliana ainda me perseguia como uma sombra. O que fiz com ela? Como deixei que nosso passado se interponha entre o que eu realmente desejava?
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Flashback
O telefone tocou, quebrando o silêncio da casa. Eu me lembrava daquela noite, quando Juliana ligou, a voz dela ecoando no meu ouvido como um lamento. — Nicolas, eu preciso de você. Era sempre assim, não era? Eu era um tolo, cativado por cada palavra dela, por cada lágrima que ela fazia escorregar pelo rosto. Eu me deixei levar, e naquela época, não percebia que isso me arrastaria para um abismo.
— Eu estou aqui, Juliana. O que aconteceu? A preocupação tomou conta de mim. E, em um instante, aquele momento transformou nossa relação. O que começou como amor se transformou em dependência.
O que eu não sabia era que aquele momento de vulnerabilidade me custaria a confiança de Clara um dia. Quando a lembrança de Juliana batia à porta da minha mente, Clara estava sempre lá, iluminando o meu mundo. Mas o peso do passado me fazia hesitar. Não queria que Clara se sentisse insegura. Não queria que ela visse a parte mais obscura de mim.
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Agora, sentado no sofá da minha mansão, os pensamentos de Clara me envolviam. Seu olhar penetrante, a maneira como seus lábios se curvavam em um sorriso. Ela era luz, e eu me sentia um intruso em sua vida, como se estivesse prestes a apagar aquela luz ao deixar meu passado à solta.
Olhei para o telefone na mesa de centro, hesitando em ligar para ela. E se eu dissesse a verdade? E se eu revelasse a ela tudo o que Juliana representava em minha vida? O medo de perder Clara me paralisava. O que aconteceria se ela descobrisse sozinha?
— Nicolas, você precisa ser honesto com ela — minha consciência sussurrou, como se uma parte de mim estivesse lutando contra a outra. Clara não merecia viver na incerteza.
Levantei-me e caminhei até a janela, observando as luzes da cidade. Cada pequeno ponto brilhante me lembrava das esperanças e sonhos que eu tinha, não só para mim, mas também para Clara. Eu queria construir algo bonito, algo real, mas estava preso em uma teia de mentiras.
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Decidi que era hora de agir. Com um novo propósito, peguei o telefone e liguei para Clara. O toque soou repetidamente antes que ela atendesse.
— Nicolas? — sua voz, doce e ansiosa, me atingiu como uma brisa refrescante em um dia quente.
— Oi, Clara. Eu estava pensando em você. Ouvindo sua voz me fez sentir um pouco mais leve, mas a gravidade da conversa ainda pairava no ar.
— O que aconteceu? Está tudo bem? A preocupação em sua voz me tocou. Ela era sempre tão atenta, tão generosa.
— Precisamos conversar mais uma vez. A seriedade de minha voz a fez silenciar do outro lado. — Sobre nós. Sobre o que eu estou guardando.
— Estou ouvindo, Nicolas. Pode falar. Sua voz estava firme, mas eu podia sentir a tensão.
— É sobre Juliana. A menção do nome dela fez meu coração apertar, mas era necessário. — Eu… eu não sou a pessoa que você pensa que sou. A sinceridade me custava, mas precisava ser feita.
— O que você quer dizer com isso? Clara questionou, e eu podia ouvir sua respiração mais rápida.
— Eu… eu deixei o passado me dominar. Juliana foi uma parte complicada da minha vida. Não quero que você pense que isso tem a ver com você. É apenas... é difícil.
— Nicolas, eu entendo que todos têm um passado. Mas você precisa me dizer a verdade. Não posso lutar contra sombras que você não me contou.
— Eu sei, e você merece a verdade. O que tivemos não foi saudável. Eu não estava sendo eu mesmo e, por causa disso, fiz escolhas erradas. Agora, não quero que você pague por isso.
Silêncio. A distância entre nós parecia insuportável. Eu queria sentir a presença dela, mas sabia que tinha que esperar.
— Eu quero que você confie em mim, Nicolas. Estou aqui. Por favor, não se afaste. Sua vulnerabilidade me atingiu como uma flecha.
— Eu não quero te perder, Clara. Você é tudo o que eu mais quero agora.
— Então vamos enfrentar isso juntos. Prometa que vai me contar tudo.
— Eu prometo. A certeza em minha voz era mais forte que o medo.
Fechei os olhos, tentando imaginar Clara ao meu lado, seu sorriso iluminando até os meus dias mais sombrios. — Eu vou fazer isso por nós.
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Enquanto desligava, percebi que a decisão de abrir meu coração poderia ser a chave para um novo começo. Não importava quão doloroso fosse, eu precisava ser honesto, tanto comigo mesmo quanto com Clara. A vida não poderia ser construída sobre segredos.
E, assim, naquela noite, olhando para a cidade iluminada, fiz uma promessa a mim mesmo: eu lutaria por Clara, não apenas por nós, mas também por uma nova versão de mim mesmo, livre das amarras do passado. O futuro estava diante de mim, e eu estava decidido a abraçá-lo.
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Amor Além do Contrato
RomanceNicolas Arantes é um bilionário recluso e conhecido por sua frieza e aversão à mídia. Após uma série de escândalos envolvendo sua família e empresas, ele decide se afastar dos holofotes e se concentrar em reorganizar sua vida. Para isso, ele contrat...