CAPÍTULO 26 - CHALÉ

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A água gelada caia sobre o meu corpo na tentativa de dissipar a tensão que me rodeava. O banho parecia ser a única maneira de trazer um pouco de clareza à minha mente, mas nem isso estava funcionando.

Minhas mãos tremiam levemente enquanto eu apoiava a testa contra o azulejo frio. Fechei os olhos, deixando a água escorrer pelo meu rosto, tentando me concentrar apenas no som do chuveiro e na sensação da água contra a minha pele. Mas, mesmo assim, a sombra da presença de Claire, que por sinal me lembrava a silhueta dela, ou o que quer que fosse, não me deixava em paz.

Desliguei o chuveiro, o silêncio que se seguiu pareceu ensurdecedor. Peguei a toalha e me enrolei. A sensação da toalha macia contra a minha pele me trouxe um pequeno alívio, mas a tensão ainda pairava no ar, como se estivesse gravitando ao meu redor, uma presença persistente que eu não conseguia afastar. Caminhei para o espelho, tentando enxergar o que eu sabia que não poderia ver, mas em algum nível, sentia que deveria olhar. Não conseguia explicar por que, mas tinha a sensação de que, ao menos uma vez, eu precisava enfrentar a escuridão.

Caminhei até o guarda roupa vestindo apenas uma cueca e um blusão preto. Fui em passos lentos até a sala onde estava meu cavalete.

Sentei-me diante do cavalete, sentindo o frescor da tela em branco à minha frente. A suavidade da madeira do cavalete tocava minha pele, trazendo um leve conforto. Embora eu soubesse que não podia ver, minha mente estava cheia de imagens, de ideias que tentavam se formar, mas não conseguia colocá-las em palavras, ou em traços, da maneira que queria.

Puxei o pincel e, com a mão firme, molhei-o na tinta preta. O cheiro da tinta fresca invadiu meu olfato, e o som do pincel deslizando pela tela parecia se conectar ao meu estado mental. Meus dedos sentiam o movimento do pincel, a pressão que eu aplicava na tela, mas não havia nada ali ainda, nada que eu pudesse identificar ou tocar com clareza. Apenas o silêncio.

Minha mente, no entanto, estava agitada. Claire. A sensação da presença dela, o que quer que fosse, ainda pairava no ar, como se estivesse esperando, espreitando em algum canto escuro da sala. Senti o peso disso em minha pele, como uma sombra que não se afastava, que não me deixava em paz. Meus dedos, guiados pelo instinto mais do que pela visão, desenhavam linhas, curvas, manchas. Não sabia exatamente o que estava criando, mas podia sentir a energia fluindo através de mim, como uma tentativa de dar forma ao que estava me consumindo.

A tinta preta começava a formar um padrão irregular na tela, uma mistura de formas soltas que, se eu pudesse ver, talvez fossem caóticas, talvez não fizessem sentido. Mas eu sabia, de alguma forma, que aquilo refletia a confusão dentro de mim, a incerteza, o medo e a ansiedade que se entrelaçavam como as linhas tortas que surgiam.

Fechei os olhos por um momento, tentando focar nas sensações, no som do pincel e na textura da tela. Talvez, mesmo sem a visão, eu pudesse encontrar alguma maneira de me expressar. Não precisava entender o que estava criando naquele momento, talvez a arte fosse apenas um refúgio, um espaço onde eu pudesse, mesmo que brevemente, aliviar a pressão interna.

Continuei a pintar, sem rumo definido, mas com a sensação de que cada movimento trazia um pouco mais de alívio.

- Aí está você. - ouço Jenna falar, logo sentindo seus braços em volta do meu pescoço.

- Oii. - digo colocando o pincel de lado. - E aí o que achou?

- Esse chalé... É lindo, Julia. - disse depositando um beijo em meu pescoço.

Mesmo sem vê-la, o som de sua voz e o toque gentil me preenchiam de uma maneira que palavras não poderiam descrever. Jenna sempre soubera como fazer com que eu me sentisse em casa, segura, como se, no meio de todo o caos, existisse um refúgio onde as coisas faziam sentido.

AMOR EM CORES VIVAS - JENNA ORTEGA / GP!Onde histórias criam vida. Descubra agora