CAPÍTULO 7

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Saulo entrou no Bar do Jordão naquela noite de sexta-feira sem saber direito o que estava fazendo ali.

Na verdade, o homem alto, forte e com cara de poucos amigos  havia rodado pela cidade  por mais de uma hora  sem rumo certo. No último momento, decidiu que queria entrar ali. Se acreditasse em destino, poderia até dizer que algo o atraiu até aquele lugar.

O bar estava cheio e ele preferiu se sentar num canto mais escondido  na tentativa de passar despercebido.

Caminhoneiros cheirando a suor...caminhoneiros comendo sem parar, rindo alto e enchendo a cara como se não precisassem mais pegar o volante naquele final de noite. 

O que ele estava  fazendo ali? Saulo  não soube responder à própria pergunta.

Ele  tinha sido arrastado, depois de todo aquele tempo, para o lugar onde tinha visto Patrícia mais feliz, mais solta, mais ela mesma...a verdadeira Patrícia! Parecia já  ter se passado um século e não apenas algumas semanas!

Lá estava aquele palco vazio em que ela tinha feito uma reforma, havia instalado umas luzes...o que deu  um certo ar de sofisticação naquele barzinho de beira de estrada.

Pelo movimento do local naquela noite, Saulo deduziu que alguém já tinha tomado o lugar dela, pois os homens pareciam animados tentando pegar os melhores lugares para ver o show daquela noite mais de perto.

Deprimente aquilo, Saulo pensou...A vida passa...as pessoas se vão...e logo colocam outra pessoa em seu lugar. Eles já a tinham substituído e por isso ele  até pensou em ir embora a fim de não ter que encarar aquela que tinha tomado o lugar de Patrícia.

Eles até poderiam substituí-la...mas Saulo não faria aquilo...Para ele, Patrícia era insubstituível! Para ele...ela sempre seria a única e ele nunca a esqueceria, disso tinha certeza. Não havia ninguém como ela...e jamais haveria alguém como ela, disso ele tinha certeza! 

_Boa noite! Deseja alguma coisa, senhor? 

Saulo repreendeu-se mentalmente  por estar tão distraído a ponto de não ter visto aquele homem com seus prováveis  sessenta anos, alto,  louro e sorridente se aproximando do local onde ele havia se sentado. 

Ele olhou e estranhou que não era Tomás.

_Havia outro funcionário aqui...

_Deve estar falando do Tomás. Ele não está aqui. _ disse o caminhoneiro com um sorriso simpático.

Saulo ficou decepcionado e  percebeu que talvez por isso tivesse ido ali...talvez quisesse conversar com aquele rapaz...falar sobre Patrícia...descobrir o que os dois conversavam...falar sobre a amizade instantânea que havia surgido entre os dois...Seria bom conversar com Tomás.

_Ele foi demitido?

_Não...claro que não. Se falar uma coisa dessas com o Jordão ele até surta. Tomás é praticamente um filho pro Jordão. 

_E ele não veio hoje? Ou vai chegar mais tarde?

_Não...o Tomás não virá aqui esta noite, meu senhor. 

_Mas mesmo estando cheio assim ele faltou? _ Saulo questionou. 

_Como eu  disse, o Jordão gosta do rapaz como se o Tomás  fosse o filho dele. 

O homem se aproximou mais do freguês e  cochichou maldosamente e Saulo pode sentir o cheiro de álcool:

_ Pelo menos, isso é o que o Jordão  finge, claro...Acho que ele deu folga pro Tomás porque tem medo de alguém mexer com o menino, sabe...Garoto  bonito...novinho...

SEM SAÍDA-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora