CAPÍTULO 4

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Como se também  estivesse carente de um amigo, Patrícia começou a chegar mais cedo no bar  apenas para ficar mais tempo conversando  com Tomás.

Aos poucos, não apenas o camarim improvisado, como também a casa do funcionário de Jordão  iam ficando lotados de roupas e perucas que Patrícia usava em suas apresentações.

Às vezes, ela pedia para que ele a ajudasse na coreografia...outras  vezes ela  o ajudava a lavar copos ou a servir o balcão.

Jordão não se importava, já que ela não cobrava hora extra e parecia realmente  não se importar com dinheiro.

_Esta sua amiga realmente é um mistério... _ disse o dono do bar ao funcionário. _Juro que eu achei que ela viria uns dois, três dias e depois perderia a graça...desapareceria...mas não...olha aí a gente quase já fechando um mês!

Tomás teve que concordar, pois ele também achou que aquilo não duraria tanto. Incrivelmente a intimidade que os dois haviam desenvolvido realmente era de impressionar...era como se eles se conhecessem há anos. 

Patrícia ficava esperando até Tomás fechar o bar e depois o levava de moto até em casa. Frequentemente subia e acabava dormindo ali mesmo. Quando Tomás acordava, muitas vezes ela já tinha ido embora sem acordá-lo e deixava a mesa de café posta como se fosse para agradecer.

O rapaz se sentia mimado com o pão novinho, café fresquinho, toda a louça lavada, se surpreendia com a geladeira ou a despensa cheia, isso quando não vinham entregar compras.

_Você está me deixando mal acostumado, linda...Fez compras para uns dois meses!

_Ou para duas pessoas, já que tenho ficado aqui com frequência.

Era verdade e, por isso, foram aparecendo lençóis novos, toalhas...ele estranhava ela querer ficar ali num lugar tão simples.

_Aqui estou tendo uma paz  que nunca tive na vida, sabia? _ ela confessou um dia.

_Nem vou tentar arrancar de você o porquê dessa observação, já que nem mesmo sei se o seu amigo é amigo, ou primo, ou irmão, ou marido...

_Ou o meu traficante, ou o meu patrão...Confesse que você só quer saber mais sobre o Saulo, anda, seu safado!

Ela deu um beliscão na barriga dele e Tomás deu um grito, tampando a boca apavorado sem perceber.

_O que foi? Medo de acordar os velhinhos que moram no prédio?

Tomás conseguiu se controlar a tempo de não revelar que era medo que Saulo escutasse o grito  e viesse correndo pra ver se ele estava discutindo com a sua protegida. Era difícil não revelar para a amiga que aquele homem estava por ali...certamente de olho em cada passo que ela dava.

_Tudo bem se eu comprar uma cama maior? _ ela quis saber. _ Assim eu não preciso continuar dormindo mal no sofá.

Ele olhou pra ela mais confuso ainda...Patrícia  não precisava daquilo, porém, não se arriscaria a questionar mais uma vez  a sua amiga e depois correr o risco dela ficar magoada  e não mais voltar.

_Pode dormir comigo quando quiser, amor, só não me peça pra transar com você. _ ele fez uma careta de repulsa ao pensar naquilo.

Ela caiu na gargalhada:

_Você pode ser lindo e gostoso, mas não faz o meu tipo, Tomás.

Alguém bateu na porta naquele momento. Eram dois homens entregando a cama de casal.

SEM SAÍDA-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora