CAPÍTULO 14

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Tomás lembrou-se da fala de um dos caminhoneiros que disse que um esparadrapo sobre um ferimento deve ser arrancado de uma vez, na tentativa daquilo doer menos. Pensando nisso, o rapaz pediu o telefone de Saulo emprestado, pois precisava ouvir da boca daquele que ele julgava ser um pai para ele, toda a verdade. 

Saulo emprestou o celular ao rapaz com a condição de que ele colocasse no viva-voz, pois não iria se arriscar.

_Pode ouvir, se quiser. Eu só quero acabar com isso logo! 

Saulo puxou uma cadeira e sentou-se de frente para o sequestrado, mostrando que estava atento ao que ele diria naquela ligação. 

_Jordão? É o Tomás. _ ele começou tentando se controlar.

_Tomás, meu filho! Graças a Deus! Eu já estava ficando louco de preocupação sem saber notícias suas! Onde foi que você se meteu, rapaz? _ a voz do comerciante não escondia a sua aflição. _Me diga onde você está que eu te busco aí, garoto! 

Tomás tinha pensado muito antes de fazer aquela ligação e tinha criado um discurso inicial que seria praticamente uma armadilha para arrancar a verdade do patrão. Ouvindo a voz dele, porém, e percebendo que ele realmente estava preocupado com a sua segurança, ficou indeciso por um momento.

_Tomás? Você ainda está aí? _ Jordão perguntou apreensivo. _Está tudo bem com você?

O balconista repetia mentalmente que Saulo tinha que ter mentido...que Jordão não o havia traído daquela forma tão baixa...que também dona Gelta e também a esposa de Jordão não teriam coragem de esconder algo tão sério dele...

Tomás respirou fundo...Era um grande momento em sua vida...o momento em que poderia ver tudo ruir mais uma vez a sua volta.

_É que eu estou confuso, Jordão... _ ele tentou manter a voz firme. _Eu me lembrei de tudo...

Do outro lado, um silêncio profundo e logo depois a pergunta:

_Como assim você se lembrou de tudo, filho?

_Eu fiquei sabendo da morte da Patrícia...

Mais um momento de silêncio  e depois a fala do comerciante lamentando:

_Pois é, menino...que triste, não é?

_Então você já sabia, Jordão? _ Tomás não escondeu a surpresa.

 _Confesso que eu já sabia, mas  eu fiquei naquela...se contava ou não contava pra você, porque ela era uma grande amiga sua e eu sei que você iria sofrer. Também, quando fiquei sabendo, ela já tinha sido velada e enterrada...Nem me lembro quem foi que comentou comigo...provavelmente um dos caminhoneiros, isso não importa... mas perdemos a Patrícia sim, Tomás. 

Tomás mais uma vez respirou fundo tentando manter-se firme, apesar daquela primeira decepção. 

_Lembrei também...aliás, tomei consciência de que sou eu quem tem de alguma forma assumido a personalidade da Patrícia e sou eu quem tem dançado lá no bar...Como pode ser isso, Jordão? É verdade, ou eu estou enlouquecendo?

Tomás mais uma vez torceu para que o outro se fizesse de desentendido...demonstrasse surpresa...mas outro balde de água fria caiu sobre ele:

_Minha mãe já tinha visto que você é médium, filho...aí ela disse que pode baixar algum espírito em  você sim.

Tomás pode deduzir o que o patrão estava pensando...sabendo que ele era sozinho no mundo, pois tinha sido rejeitado pela família que não o aceitava  por ele ser gay...sabendo que ele o considerava como um pai...imaginando que , agora ciente daquilo, Tomás recorreria a ele para ter algum amparo e apoio. 

SEM SAÍDA-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora