CAPÍTULO 23

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Apesar de Tomás e Saulo terem ficado apreensivos quanto às visitas de Letícia, os dias foram passando e ela não mais apareceu. Os dois ficaram aliviados, obviamente.

Saulo não conseguia se esquecer que havia passado a noite com Tomás, mesmo que ele tivesse tentado se iludir fingindo que era Letícia. Ainda não sabia onde estava com a cabeça que não havia impedido que aquilo continuasse...aliás, ele não deveria ter deixado nem que começasse e deveria ter feito algo,  assim que o rapaz entrou pela porta do seu quarto. Nem a escuridão do quarto e muito menos algum estado de fragilidade física serviam de justificativa para o que tinha acontecido.  

Em alguns momentos, ele pensou que havia corrido risco, já que Letícia não escondia que ele também estava em sua lista para aquela absurda vingança pós-morte. Em outros momentos, ele avaliava que para ela não teria vingança maior do que vê-lo na cama  com outro homem! Certamente ela jogaria aquilo na cara dele na primeira oportunidade e se fosse mais sacana ainda, daria um jeito de todo mundo saber o que tinha acontecido!

Tomás também não estava em melhor situação, pois imaginava que a qualquer momento aquela noite poderia se repetir e talvez, daquela vez, ele não teria tanta sorte...O rapaz ainda ficava em pânico só em pensar que Saulo poderia ter estrangulado ele, se tivesse se dado conta do que estava acontecendo!

Sem que tivessem conversado sobre aquilo abertamente, uma certa cumplicidade nasceu entre os dois... Falar sobre Letícia tornou-se um assunto proibido naquela casa! Qualquer menção ao nome dela parecia ter o poder de atraí-la novamente e, por isso, eles não tocavam no assunto. 

Ao contrário de Priscila que precisava irritantemente impor a sua presença naquela casa, inclusive falando demais o tempo todo, Tomás ficava praticamente em silêncio e procurava ser o mais discreto possível. 

Saulo reconheceu  que o ex-funcionário de Jordão realmente sabia como cuidar de uma casa...assim também como cozinhava muito bem.

_Lá no bar, eu praticamente fazia de tudo. Era eu quem mantinha o bar organizado e limpo...era eu quem cozinhava...servia as mesas..._disse Tomás num dia em que Saulo elogiou o trabalho que ele estava fazendo. _Confesso que fui aprendendo a gostar do serviço, mesmo sendo bem cansativo, às vezes. 

_Não precisa se esforçar tanto aqui em casa! _ Saulo falou.

Tomás logo esclareceu:

_Não, estou de boa...Agora que já fiz a faxina mais pesada, manter a organização e a limpeza ficou fácil. 

_Se você diz..._ Saulo deu de ombros. _Ah...e se você quiser, posso contratar uma lavanderia...

Tomás o interrompeu:

_Já disse que está de boa...Posso cuidar das roupas da casa...não há mistério...tranquilo.

Quem visse os dois sentados à mesa almoçando juntos jamais imaginaria que aquela convivência havia começado de forma tão violenta...que era para ser uma relação de sequestrador e sequestrado...Nenhum dos dois saberia nomear que tipo de relação havia se estabelecido entre eles naquele momento! Inconscientemente sabiam que o melhor era ficarem juntos para o bem dos dois!

Em alguns momentos, o silêncio entre eles  ficava constrangedor, especialmente quando, ao final das refeições, Tomás automaticamente se levantava, recolhia a louça  e ia arrumar a cozinha. 

_Ouvi você falando ao telefone que voltará a trabalhar em breve. _Tomás comentou. 

_É...o deputado Lemos está bem melhor, deverá receber alta nos próximos dias e como eu também já estou recuperado, fui convocado para retomar as minhas atividades.

SEM SAÍDA-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora