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20 de Maio, sexta-feira.
16:10pm.
P.O.V Emily.

São Paulo | Hospital.

Saio do quarto do meu pai. Meu coração está em pedaços. Eu queria gritar, espernear, fazer qualquer coisa que fizesse com que meu pai acordasse.

Eu me sentia inútil. Inútil por não poder fazer nada para ajuda-lo. Ver ele, desacordado, naquela cama de hospital me destruía.

Eu queria poder ser eu a acompanhante do meu pai, mas sei que minha mãe precisava estar com ele também nesse momento. Afinal, ela era sua esposa.

Mas, o meu papai, meu herói, estava ali. Sozinho. E eu não podia fazer nada a não ser visitá-lo nos dois horários de visita que tinha a cada dia.

Richard está sentado no corredor, me esperando. Sua expressão também está devastada, ele sente o mesmo que nós.

Ele precisava ser minha âncora agora nesse momento. Eu precisava dele para me dar forças.

- Queria ficar aqui o tempo todo, esperando ele acordar. - Digo ao me sentar do seu lado. Ele me abraça.

- Eu sei, princesa. - Ele fala baixo.

Ficamos algum tempo em silêncio.

- Posso vir com você todos os horários que você quiser. - Ele me diz, eu levanto minha cabeça para olhar pra ele.

- Obrigada. - Dou um sorriso fraco. - Mamãe disse que é as 14h, e as 20h o horário de visita. - Dou um suspiro. - Você me leva em casa? Preciso tomar um banho, tirar essa roupa do treino, e então eu volto a noite pra ver ele de volta. - Digo desanimada.

Não queria vir aqui para vê-lo, queria ir até a sua casa, encontrar ele assistindo a algum jogo na televisão, me sentar do seu lado no sofá, enquanto conversamos animados sobre futebol.

Deus, eu preciso do meu pai de volta. Por favor, não tira ele de mim.

- Levo sim. - Ele diz prontamente. Então nos levantamos.

Ele segura em minha mão, enquanto andamos pelos corredores. Só a sensação de estar aqui já era ruim, mas tudo piorava ao saber que meu pai ficaria aqui até sabe Deus quando.

Meu coração apertava ao pensar que ele podia demorar pra acordar.

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Já era sete horas, daqui alguns minutos Richard chegaria para irmos juntos.

Eu termino de pegar minha bolsa com meus documentos e faço uma última oração, pedindo pela saúde e melhora do meu pai.

Escuto a campainha. Richard chegou.

Desço rapidamente, e abro a porta.

Encontro Richard encostado no batente, me olhando. Sua expressão está cabisbaixa, ele também está bem abalado.

- Quer entrar antes da gente ir? Estamos adiantados. - Dou um sorriso fraco, ele aceita.

Richard passa por mim e me puxa pra si, me abraçando.

Eu empurro a porta com o pé, fechando a mesma.

Retribuo seu abraço.

- Tudo bem? - Pergunto baixinho.

Ele nega com a cabeça, sem me responder.

Eu me afasto, o olhando nos olhos, vejo que estão marejados.

- O que aconteceu? - Pergunto preocupada.

- Emily, preciso te falar uma coisa... - Ele fala baixo, me puxando para que eu me sente no sofá.

Sinto minha mão começar a tremer. Fico nervosa, angustiada.

- Preciso te falar uma coisa, mas quero que você seja forte. - Ele começa a falar sem me olhar. Minhas mãos soam. - Hoje mais cedo, quando sai do quarto do seu pai, enquanto você continuou lá com ele... - Richard faz uma pausa, parecendo tentar encontrar as palavras certas para usar.

- O médico responsável pelo tratamento do seu pai veio falar comigo. - A voz dele vacila. Ali já sinto meu coração acelerar e algumas lágrimas descerem involuntariamente. Sinto o nó na garganta. O cuidado que o Richard estava tendo para tocar no assunto só me preparava para algo ruim. Muito ruim.

- O que ele falou? - Eu pergunto em um sopro de voz.

- Seu pai não respondeu bem aos exames que fizeram hoje... - Ele diz sem mal conseguir me olhar. Percebo que algumas lágrimas descem pelo seu rosto também. - E... Eles tem o prazo de uma semana para seu pai ter a melhora nesse quadro... - Ele levanta a cabeça, encarando o teto.

As lágrimas descem livremente pelo meu rosto.

- Se seu pai não responder aos exames... Eles consideram como morte cerebral. - Suas palavras me acertam como um soco.

Minha vista fica embaçada com o choro. Os soluços tomam conta da minha garganta.

Richard vem até mim, se agachando entre minhas pernas e me abraçando.

Ele chora também, tremendo contra minha perna. Nós dois estamos devastados com a notícia.

Meu coração parecia ser chicoteado. Não podia ser verdade. Eu não podia perder meu pai.

A dor em meu peito era dilacerante.

- Me perdoa, por favor... - Richard fala entre o choro. - Não queria que fosse eu a te dar essa notícia... - Ele diz levantando a cabeça e me olhando. Seus olhos estavam vermelhos pelas lágrimas.

Eu passo a mão no seu rosto, balançando a cabeça.

- Não é sua culpa. - Digo com a voz falha. - Não precisa pedir desculpas. - Falo respirando fundo e secando meu rosto. - Ele vai sair dessa. Ele vai reagir. - Eu digo confiante. Preciso ser forte, preciso dar força ao meu pai.

Richard concorda, enquanto ainda abraça minhas pernas.

Nós ficamos em silêncio, tentando se acalmar do baque da notícia.

//

Estou sentada ao lado da cama do meu pai, segurando uma de suas mãos em meu colo.

O barulho dos aparelhos são como agulhas em meu ouvido. Incessante, incomodante, agoniante.

Eu faria qualquer coisa no mundo, pagaria o dinheiro que fosse preciso, para ouvir sua voz de novo.

Ouvir ele chamar meu nome. Ouvir sua risada.

Sentir seu abraço, seu beijo, seu toque.

O cheiro do hospital, o silêncio do quarto, a sensação que tudo aquilo me trazia, era horrível.

Richard e minha mãe estão do lado de fora, me deixando ficar os últimos minutos da visita sozinha com meu melhor amigo, meu pai.

- Pai, preciso do senhor... - Eu começo a falar baixinho, acariciando sua mão. - Por favor, volta pra mim. Volta pra sua menina. - Meu sussurro sai com lágrimas. Meus lábios tremem. - Preciso do senhor me assistindo nos jogos. Preciso do senhor assistindo nosso Palmeiras ganhar a libertadores... - Os soluços tomam conta da minha voz.

- Preciso do senhor me dando colo sempre que eu precisar... - A emoção toma meu peito. - Eu não sei viver sem ter o senhor comigo...

Passo a mão pelo meu rosto, secando inutilmente as milhares de lágrimas que caem.

- Por favor, não me abandona...

Já não era um pedido. E sim, uma súplica.

- Preciso que o senhor reaja aos exames, papai. - Peço, beijando sua mão. - Por favor, pai...

Não existia vida pra mim sem meu pai.

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Aí gente, chorei escrevendo 🥺

• DESTINO • | Richard Rios Onde histórias criam vida. Descubra agora